A revanche dos rejeitados

As lambanças feitas pelos caciques políticos, desvendadas pela coragem e persistência do Juiz Sérgio Moro, gerou um sentimento de indignação e revolta, concentrada, inicialmente na classe média das grandes cidades, espraiada, posteriormente, a vários outros recantos.
Com uma primeira eclosão pública em maio/junho de 2013, foi sufocada pela cúpula politica, com medidas paliativas e manutenção das mesmas práticas, com mudanças de alguns protagonistas e métodos, mas com as mesmas bases: as relações promíscuas entre governantes e empresários inescrupulosos de "alto coturno". Uma relação aética do "alto clero político" com o "alto clero empresarial". 
As manifestações externas de indignação refluiram, mas não desapareceram. Ficaram incubadas.
Um outro grande surto ocorreu com a mobilização popular para a derrubada da Presidente Dilma Rousseff, enfraquecida pela crise econômica. Não foi uma reação voltada apenas à pessoa, mas o que ela representava. Passou a crescer, no seio da população, a imagem de que a crise econômica era consequência do esquema de corrupção, liderada por Lula e pelo PT, o chamado "lulopetismo".
A mobilização popular queria a derrubada de toda a classe política, com um sentimento de que isso não iria ocorrer pela renúncia dos políticos acusados (com fundamento ou não) mas pelo voto. E o momento seria o das eleições gerais de 2018.
O povo teria oportunidade de eliminar da política velhas lideranças comprometidas, deixando de votar nelas. E dizimou uma grande parte, embora alguns poucos tenham sobrevivido, sendo o mais notório, o Senador por Alagoas, Renan Calheiros.
Os movimentos de renovação da política, começaram a se organizar, mas movidos mais pelo voluntarismo, sem objetivos e estratégias bem definidas. Ou estratégias equivocadas.
Ao se concentrarem na "demonização" dos políticos atuais, com lemas do tipo "não reeleja ninguém", "fora todos", abriram espaços no espectro político sem se prepararem para ocupar. 
Ao abrirem espaço, com os ataques ao alto clero político, geraram oportunidades de ascensão do médio e baixo clero. 
Mais experientes e espertos ocuparam as cadeiras desocupadas, antes que os novatos, inexperientes e aturdidos com a oportunidade, chegassem. Alguns poucos conseguiram. 
As circunstâncias ajudaram um tradicional membro do baixo clero politico ascendesse de forma fulminante ao topo: em vez de um papa, a Presidência da República. Pela primeira vez um político do baixo clero, chegou pelo voto popular, à Presidência da República. Jânio Quadros iniciou a sua carreira política no baixo clero, mas como candidato à Presidência da República, já tinha ascendido. Fernando Collor, era herdeiro de uma dinastia política do alto clero (Arnon de Melo). Lula era líder sindicalista e já ingressou na política "por cima".

Na Câmara dos Deputados, a renovação nominal foi acima das duas eleições anteriores, mas sem alcançar o recorde. A renovação real, seguiu baixa. A principal novidade foi a baixa renovação por substituição familiar. Filhos ou esposas de políticos comprometidos com os "malfeitos" e impedidos de serem candidatos foram rejeitados pelos eleitores. Marco Antonio Cabral, Leonardo Picciani e Cristiane Brasil, não foram reeleitos. Daniele Cunha, filha de Eduardo Cunha, também foi rejeitada. Sobreviveram os dois filhos de Anthony Garotinho.
Mas a renovação efetiva dos quadros políticos foi pífia. Tomando o caso do Rio de Janeiro, a renovação nominal foi de 63%, mas os novos novatos, isto é, aqueles sem nenhum antecedente político, representaram apenas 24%, mas com 3 familiares o que reduz a renovação efetivamente renovadora a 17%. A maior parte do PSL e, dentro desse, de militares e policiais.
Os semi-novos, isto é, aqueles que tem apenas um antecedente eleitoral, foram 5 e os veteranos 14.
Os veteranos são, em grande parte, ex-perdedores ou rejeitados. Disputaram e perderam as eleições. 
Favorecidos pela abertura de vagas pela rejeição dos caciques, estando próximos à área, aproveitaram para marcar os gols.
Estão mais  propensos a adotar os mesmas nefastos procedimentos que os substituídos. Só não estariam nas listas dos corruptores porque foram rejeitados. 
Ascendendo na hierarquia, irão se comportar, ou não resistirão às tentações?

(cont)


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