A "não estratégia" é achar que a supersfra de grãos é um graça divina - afinal Deus seria brasileiro - e se acomodar acreditando que a agricultura exportadora seja suficiente para que os brasileiros vivam bem.
O rumo alternativo está em aproveitar a oportunidade, e fazer dela a alavanca para um projeto nacional sustentável.
Num primeiro nível, a estratégia brasileira deverá estar voltada para:
- diversificação de mercados compradores, reduzindo o grau de dependência das importações chinesas;
- agregar maior valor às matérias-primas.
A associação das duas seria mais desejável, porém podem seguir caminhos independentes, atendendo às condições de mercado.
É preciso ampliar os mercados, começando pela identificação do que eles querem, para na sequência tentar vender o que queremos. Que seriam os mesmos produtos básicos, mais processados, mais transformados, com maior valor por peso.
A visão sonhadora de que o Brasil tem que vender - porque tem - produtos de maior valor agregado é irreal e ilusória, se não levar em conta as condições comerciais e reais do mercado. Vender produtos de maior valor agregado não pode ser apenas um desejo, ou ficar em questões gerais, como "custo Brasil", baixa produtividade ou falta de inovação.
A agricultura brasileira de grãos vem crescendo e conquistando mercados internacionais, com altíssima produtividade, incorporação sucessiva de tecnologia e inovação, integrando já a revolução 4.0, e apesar do custo Brasil.
A soja brasileira é altamente competitiva nas fazendas, perde parte dela, com as deficiências logísticas, mas é ainda competitiva no porto. Desmente inteiramente as visões de que a produção brasileira tem baixa produtividade e não investe em inovação. A soja brasileira é, provavelmente, o produto nacional com a maior agregação tecnológica.
O processamento das matérias primas envolve duas categorias:
- a dos processamentos que mantém a característica de commodities;
- a da industrialização com diferenciais que podem ser caracterizados por marcas.
No primeiro caso estão o açúcar, o suco de laranja a granel, assim como o etanol e o biodiesel.
No segundo caso estão a carne de frango, a carne bovina e outros.
Sadia e Perdigão - atualmente reunidas na BRF - foram as indústrias brasileiras pioneiras na venda externa de produtos alimentícios brasileiros com marca.
A J&F vende os seus produtos industrializados em todo o mundo, com marcas, mas nem sempre com a marca brasileira.
Faltam empresas brasileiras do setor de alimentos, com vocação internacional.
Sem essa vocação não haverá empenho das empresas ou dos empresários em tentar a conquista de mercados externos.
O que será necessário para viabilizar essa comercialização de produtos agro-pecuária de maior valor agregado?
A política governamental de apoio aos "campeões nacionais" foi conspurcada pela sua utilização como meios de gerar propinas e acabou sendo inviabilizada.
O Brasil precisa de "campeões internacionais", mas esses terão que ganhar o pódio pelo seu esforço e competência empresarial. Não poderão depender de benefícios estatais.
Neste ponto está o principal nó, da perspectiva do Brasil se tornar um grande, se não o principal, protagonista do mercado mundial de alimentos, com predominância de produtos "made in Brazil" e com marcas próprias.
Para isso o Brasil, seus empresários e a sociedade organizada, precisam se livrar da cultura estatista (ou estatizante) de que o objetivo acima só será possível, com forte atuação e recursos do Estado.
O papel do Estado nas circunstâncias atuais e nos próximos anos terá que se restringir à diplomacia. Não tem recursos, tampouco instrumentos para promover a formação e desenvolvimento de "campeões internacionais".
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