Um bom ou mau projeto nacional? (3)

O Brasil não é apenas um exportador de matérias primas agrícolas. Parte já é processada, num primeiro estágio. Outros em estágios mais avançados, ainda que alguns não os aceitam como produtos industrializados ou processados.
O Brasil produz e exporta soja em grãos. Mas também farelo, óleo de soja e bióleo. Farelo e óleo resultam de uma mesma operação, com geração de 80% de farelo e 20% de óleo bruto.
Tanto um quanto outro são exportados a granel, como commodities, sem maior especialização e sem marca. 
Esse processamento inicial é dominado pelas grandes tradings, como a Bunge, Cargill, ADM e Dreyfuss.
O farelo é transformado em ração animal, com acréscimo de elementos químicos. A ração, em função, da combinação dos elementos, pode ser diferenciado e comercializado com marca.
O óleo bruto é destinado predominantemente para o refino, gerando o óleo refinado que é comercializado no varejo em garrafas pet de 900 ml e com marca. Cada uma das grandes tradings tem marca própria no mercado brasileiro. Uma segunda destinação é para os alimentos industrializados.

Como tanto a exportação de grãos como de seus derivados são realizados pelas mesmas empresas, uma suposição provável é que a decisão de privilegiar a exportação de grãos de soja e não dos derivados não é do país, mas de um pequeno grupo de empresas. Para isso influi o sistema tributário que favorece a matéria prima em desfavor dos produtos processados. Mas é influenciada pelas diferenças de preços no mercado internacional. As margens líquidas seriam maiores na comercialização dos grãos de soja do que da dos processados.

A abundância da produção de soja, em feijão, do qual se retira o grão ainda no campo, faz com que haja grandes  excedentes exportáveis, sem afetar a demanda interna. Ademais porque a demanda interna é comandada pelas mesmas tradings que dominam as exportações.

A criação bovina, no Brasil, é ainda predominantemente baseado em pastagens, com a utilização das rações oriundas do farelo de soja, apenas como complemento. Ao contrário de outros países que dependem mais da ração para alimentação dos animais.

Já em relação ao milho o quadro é diferente. O Brasil, através da inciativa privada desenvolveu uma avicultura demandante de rações de milho, com equilíbrio instável e diferenças regionais, não gerando excedentes de milho para exportação. Isso só veio a ocorrer na safra 2015/16, quando embora o Brasil enfrentasse um déficit nacional, o milho produzido no centro oeste ficava mais caro que o milho importado dos paises do sul para alimentar a avicultura concentrada em Santa Catarina e outros Estados do Sul.

Com a supersafra de 2016/17 houve um aumento de exportações de milho em grão, o que deverá ter continuidade nos próximos anos.

Na realidade o milho brasileiro é exportado na forma de proteina animal. O que é uma fase mais avançada e com maior agregação de valor do que a eventual venda externa de rações. 

Nesta cadeia produtiva a matéria prima brasileira - o grão de milho - é exportada incorporada aos produtos da etapa final do processo, como as partes de frangos cortadas.

O sistema de comercialização desses produtos, envolve a alternativa de processamento final do produto no país consumidor, mas comercializado com a marca da empresa brasileira. 

O Brasil é um importante produtor e processador de alimentos, mas os "pessimistas" ou "envergonhados do Brasil" preferem só ver o caso do café. Países europeus que não são produtores agrícolas do café, desenvolveram tecnologias para transformar o grão em produtos de consumo, mais saborosos e amigáveis. E ganham nos royalties ou mesmo da importação pelo Brasil de bens derivados do seu café.

O caso do café não é a regra, mas a exceção. 

O agronegócio brasileiro agrega valor às suas matérias primas, mas tem se mostrado incompetente para superar a imagem de que é um exportador de produtos agrícolas de baixo valor agregado. 

(cont)






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