Os eleitores do PT no Rio de Janeiro (1)

No Rio de Janeiro, o quadro do eleitorado tem grandes especificidades o que pode ser verificado pelos resultados das últimas eleições.

A esquerda - em geral - conquista o eleitor de baixa renda que aspira a melhoria das suas condições de vida, através da atuação do Estado, assim como os trabalhadores formais.

Getúlio Vargas formou um grande eleitorado fluminense, com o apoio estatal à industrialização no Rio de Janeiro e criação de um sistema de proteção aos empregados, com a CLT.

Esse eleitorado foi assumido por Leonel Brizola, que com esse eleitorado foi eleito duas vezes Governador do Estado e quase chegou ao segundo turno da eleição presidencial em 1998. Com as dissidências e seu falecimento esse eleitorado de esquerda perdeu substância. Dispersou-se em diversas preferências, com amplo espectro político. A principal captura desse eleitorado ocorreu com Anthony Garotinho, que embora tenha emergido na política, pelo PT e eleito Governador do Estado, em 1998, apoiado por Brizola, nunca foi considerado como de esquerda. 

Com a decadência política de Brizola e seu falecimento a esquerda perdeu o voto dos pobres fluminenses, principalmente dos cariocas, permanecendo apenas com dois nichos: o da esquerda intelectualizada, da Zona Sul e os adeptos do PSOL, cuja penetração territorial é mais ampla.

A origem e desenvolvimento do PSOL foi uma esquerda não brizolista, formada a partir dos movimentos sociais de base, associada à Igreja Católica, assumida partidariamente pelo PT e que gerou uma liderança regional: Chico Alencar. Quando foram evidenciados os desvios éticos da direção do PT, envolvido com o "mensalão", os "éticos dissidentes" sairam do PT, por livre vontade ou obrigados, e se abrigaram no PSOL, formado em 2004, logo após a primeira eleição de Lula à Presidência. Haveria ainda dissidências teóricas dentro da própria esquerda, com a caracterização dos "psolistas" como trotskysita. Isso pode ter alguma importância entre a esquerda intelectualizada, mas pouca ou nenhuma junto ao eleitorado que os elege.

Embora tivesse na fundação e na visibilidade pública nacional a figura da então Senadora Heloisa Helena, candidata à Presidência da República, em 2006, a base eleitoral do PSOL sempre foi o Rio de Janeiro, baseado nos votos de Chico Alencar. Heloisa Helena teve os seus "momentos de glória", por ter sido a primeira mulher candidata à Presidência, com possibilidade de alcançar o cargo. Posteriormente foi superada nessa condição de candidata por Marina Silva e por Dilma Rousseff, voltando a uma posição de política local, como vereadora em Maceió. O PSOL não tem nenhum representante de Alagoas na Câmara Federal. Heloisa Helena insistiu sem sucesso em voltar ao Senado. O PSOL conseguiu, no entanto, ver eleitos, dois Senadores: Randolfo Rodrigues, pelo Amapá e Marinor Brito pelo Pará.

Até este ano de 2018, o PSOL se caracterizou - eleitoralmente - como um partido regional, concentrado no Rio de Janeiro. E mesmo dentro do Estado, como um partido metropolitano, com os votos concentrados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro que, além da cidade do Rio de Janeiro, abriga um importante eleitorado da Baixada Fluminense e as áreas dormitórios de Niteroi e São Gonçalo.

E também concentrado pelo eleitorado de Chico Alencar, que em 2010 alavancou a eleição de Jean Wyllys. Em 2014 não dependeu dos votos excedentes de Chico Alencar, mas os votos de ambos ajudou a eleger o Cabo Dacciolo, que logo após a eleição foi expulso do partido. A filiação do Cabo Dacciolo, líder do movimento grevista dos bombeiros, ao PSOL teria decorrido da sua atuação como líder sindical, mas a sua base no eleitorado evangélico seria mais importante do que da categoria trabalhadora que liderou. 

O PSOL carioca conta com outro líder Marcelo Freixo, também oriundo do PT, notabilizado na mídia alternativa, como radical defensor dos direitos humanos. Com carreira política local e atual deputado estadual, chegou ao segundo turno na eleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro, em 2016, mas foi derrotado por Marcelo Crivella, que teve o amplo apoio do eleitorado das áreas pobres da cidade, enquanto Freixo ficou com os votos dos eleitores de maior renda. Uma situação paradoxal, do ponto de vista ideológico. Porém representativa da visão de mundo e do comportamento consequente do eleitor carioca.

Dois fatos novos no campo político devem ser considerados, pelo seu eventual impacto eleitoral: o primeiro  é o assassinato da vereadora Marielle Franco, executada por grupo criminoso. Supostamente - até o momento (julho de 2018) pelas milícias.
O impacto junto ao eleitorado parece ser favorável, com maior adesão de eleitores ao PSOL. O tamanho efetivo dessa adesão só será conhecido nas eleições, mas a perspectiva é de que o PSOL possa aumentar a sua bancada para cerca de 5 deputados federais, mantendo Chico Alencar com um "campeão de votos". 

O segundo fato é o lançamento da candidatura de Guilherme Boulos à Presidência da República pelo PSOL. Boulos é uma pessoa de origem de classe média alta, de família de profissionais bem reputados, que aderiu à ideologia socialista e que - diferentemente de companheiros que discutem a revolução nas mesas dos bares - resolveu ingressar "de corpo e alma" no movimento social, permanecendo nela, mesmo depois de formado em nível universitário, isto é, deixando de ser um estudante encantado com as idéias da esquerda.
Mas tem a adesão da maioria desses.
Tornou-se um efetivo líder de movimentos dos sem teto e pelo seu ativismo, tornou-se uma figura pública, com espaço na mídia tradicional.
Embora se posicione em relação a uma das principais aspirações da sociedade que é a moradia, a dúvida é se a sua mensagem tem capacidade de se tornar nacional, ou continuará limitada às circunstâncias metropolitanas de São Paulo.
E, especificamente, qual será o impacto das suas mensagens e da sua figura no Rio de Janeiro, onde a questão é suspostamente crítica. 

Boulos candidato à Presidência pelo PSOL conqusitará mais eleitores para votar nos candidatos a deputado federal do PSOL no Rio de Janeiro?

O candidato ao Governo do Estado pelo PSOL deverá ser Tarcísio Mota, cujo discurso principal é a defesa dos direitos das "minorias", com dispersão em relação ao discurso de Guilherme Boulos. 
(cont)







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