O estilo de administração de Bolsonaro

Entre os diversos acontecimentos da semana, com reflexos futuros, o estilo autoritário e discriminatório da equipe de governo é o que poderá ter maiores repercussões futuras. 
Jair Bolsonaro adota um modelo tradicional do "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Quem não o tem e não segue as ordens é demitido sumariamente. Ou instado ao "pede para sair". Não aceita a permanência de dissidentes ou indisciplinados.
A visão de Jair Bolsonaro não é apenas o "nós contra eles", mas entre os vencedores e os perdedores. 
Como foi vencedor com cerca de 57 milhões de votos, assume que pode montar o seu governo, com quem quiser, não sendo obrigado a dividir com ninguém. Mas dá preferência aos que apoiaram a sua eleição. E defenestra quem se opõe àqueles.
Diante do fato de que o Congresso também foi eleito, sendo igualmente vencedor, estabelece uma divisão de funções: o legislativo legisla, organizando-se da forma que entender, sem interferência do Executivo. E ele, Bolsonaro, organiza o Executivo sem a interferência do Legislativo. Devem manter uma boa convivência, mas cada um na sua casa. Tomando conta dela e sem se meter na do outro.
Com isso não aceita o "presidencialismo de coalizão".
Levou vários generais ao Governo, mas lembrando-os que ele, como Presidente da República,  é o Comandante Supremo das Forças Armadas e, não titubeia, em demitir se não seguir as suas diretrizes ou ordens. Foi o que fez, demitindo na semana três generais dos seus postos, inclusive o General Santos Cruz, amigo de longa data, da Secretaria de Governo, que tem status de Ministro.
De quebra, levou Joaquim Levy a "pedir para sair" do cargo de Presidente do BNDES.
Embora não haja suficiente dados dos bastidores das demissões, o que teriam de comum seria o conflito com os grupos que Bolsonaro reconhece ou aceita que o elegeram. Seriam os vencedores, junto com ele, e os oponentes os perdedores. Os vencedores devem mandar, os perdedores se retrair ou se retirar.
Um dos principais grupos vencedores é do agronegócio, que no Congresso é representado pela bancada ruralista e no Governo pela Ministra da Agricultura e Pecuária. 
Os ambientalistas são perdedores, posicionaram-se contra a eleição de Bolsonaro e seu candidatos foram derrotados. Como perdedores não tem posição, tampouco voz dentro do Governo. Como tem na estrutura um Ministério do Meio Ambiente para cuidar dos temas pertinentes, colocou um Ministro não para defender o Meio Ambiente, mas conter a burocracia ambiental para que não prejudique o agronegócio. O Ministro Ricardo Salles está cumprindo o seu papel. 
O Presidente da FUNAI, no Governo Bolsonaro, não tem o papel de defender e proteger os índios, mas evitar que eles atrapalhem o agronegócio e o desenvolvimento da infraestrutura. Como o Presidente da FUNAI, não entendeu o seu papel, foi demitido.
O General Santos Cruz, aceitou a provocação do grupo olavista e entrou em "disputa corporal". Levou esse grupo a se retrair, provavelmente, por ordem do Presidente, mas em contrapartida foi demitido. Foi por razões de disciplina militar, as mesmas que motivaram a escolha do seu sucessor.
Joaquim Levi foi levado a se demitir porque não entendeu a sua missão na Presidência do BNDES. O que Bolsonaro e sua turma querem é a abertura da tal "caixa preta" contendo os dados específicos dos financiamentos a Cuba, Venezuela, Angola e outros. 
O que interessa a essa turma não são os detalhes técnicos das operações, mas quem participou dos processos de aprovação. O objetivo é criminalizar os responsáveis e promover a sua demissão do Banco, limpando os que apoiaram as políticas e práticas do PT. E com os dados abertos, criminalizar o ex-Presidente do Banco, Luciano Coutinho, o ex-Ministro da Fazenda, Guido Mântega e a ex-Presidente Dilma Rousseff, para que sejam presos. Essa turma de radicais não aceitam que essas pessoas continuem em liberdade, depois do apoio que deram - com recursos públicos - a regime comunistas.
Joaquim Levy associou-se à casa, isto é, à corporação dos funcionários que é inteiramente solidário com os colegas envolvidos nos procedimentos adotados na aprovação das operações.

Esse modelo de gestão - o mesmo adotado por Dilma Rousseff, mas com sinal trocado - leva a formação de uma equipe de bajuladores, sem independência e sem iniciativas. Preferem a omissão do que errar na ação. Uma equipe burocratizada e despreparada para enfrentar as situações não rotineiras.

O resultado são poucas entregas efetivas de serviços públicos pela máquina governamental. 

(cont)

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