Os eleitores do PT no Rio de Janeiro (3)



O legado sindical do PT


O PT foi constituido pelo movimento sindical de São Paulo, com predominância dos metalúrgicos, a principal categoria de trabalhadores, em função do processo de industrialização, concentrada em São Paulo. O movimento sindical manteve a sua organização, através da criação da CUT. Captou a categoria dos professores das redes públicas, em todos os níveis e os bancários.
A força política do PT, no entanto, decorreu da associação do movimento sindical, com as bases da Igreja Católica, então voltadas "para os pobres" e a intelectualidade de esquerda, incluindo muitos artistas com elevada visibilidade pública.  
A Igreja Católica no Brasil refluiu no foco dos pobres, pressionada pelas mudanças no Vaticano, o movimento sindical perdeu força resistindo numa categoria de grande importância no Rio de Janeiro: os petroleiros.

Os petroleiros tem grande capacidade de mobilização dos seus associados, conseguem organizar greves com importante repercussão, em função dos monopólios da Petrobrás, mas não tem demonstrado grande capacidade de conseguir a adesão do resto da sociedade. Do ponto de vista eleitoral, representa um parcela relativamente reduzida do eleitorado. E mais recentemente foi quebrada a unidade da categoria com a emergência de outros sindicatos e frentes dos petroleiros. A Frente Única dos Petroleiros não é mais única. 

O principal líder sindical, com carreira política ascendente, dentro do Rio de Janeiro, até 2010, é o ainda deputado federal, Luiz Sérgio, um metalúrgico que iniciou a vida política nas comunidades eclesiais de base. Como profissional passou a trabalhar na Verlome, uma empresa de construção naval - de origem holandesa - tornando-se líder sindical. Foi eleito Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Angra dos Reis e participou da fundação do PT. Eleito Vice-Prefeito de Angra dos Reis, em 1989, na sequência, Prefeito da mesma cidade, em 1992, na primeira leva de Prefeitos eleitos pelo PT, é eleito Deputado Federal pelo Rio de Janeiro em 1998, sendo reeleito sucessivamente em 2002, 2006, 2010 e 2014. Nas últimas eleições com quantidade de votos decrescentes. Embora tenha conseguido a eleição do seu candidato para sucedê-lo, em 1996, perdeu a sua base eleitoral em Angra dos Reis. O principal político do Município passou a ser Fernando Jordão - do PMDB - fazendo o rodízio entre a Câmara Federal e a Prefeitura de Angra dos Reis: eleito deputado federal em 2014, voltou à Prefeitura em 2016.

Luiz Sérgio participou dos Governos Federal do PT, em diversas funções, e passou a ter como principal base eleitoral a cidade do Rio de Janeiro. Corre o risco de não ser reeleito em 2018.

Lula revitalizou a Construção Naval do Brasil, mediante um ambicioso programa de construção de plataformas de petróleo no Brasil, através de exigências de mínimos de conteúdo local e financiamento para a instalação ou modernização de estaleiros.

Angra dos Reis que tinha perdido vitalidade industrial e empregos com a crise da indústria naval, com a redução de atividades da Verlome, transferida para um grupo asiático voltou a melhorar os empregos com as novas encomendas.

Mas do ponto de vista político-eleitoral, o PT não se beneficiou. Perdeu eleições municipais e não fez emergir nenhum líder sindical, substituto de Luiz Sérgio.

Uma explicação plausível para essa perda de substância eleitoral do PT em Angra dos Reis, pode estar na retomada econômica da cidade, promovida pelas ações do Governo Federal petista. As lideranças sindicais tem força pela sua mobilização em torno das suas reivindicações. Quando a sua pauta é atendida, não por negociação, não por concessões conquistadas na luta, mas por "benesses" governamentais o movimento sindical perde força. E os trabalhadores não vem necessidade de eleger um representante seu para a Câmara Federal, mas apenas para a Presidência. E abre espaço para políticos voltados para as necessidades locais. 

A nova crise da construção naval, poderá levar a novas mobilizações dos trabalhadores, voltando a fortalecer um eleitorado petista.

Jorge Bittar é outro político petista oriundo do movimento sindical, com importante formação superior (engenheiro pelo ITA), presidente de Sindicato dos Engenheiros. Tentou, sem sucesso, a eleição para o Governo do Estado em 1990 e 1994.
Eleito, pela primeira vez, deputado federal, em 1998, após ter sido vereador da cidade do Rio de Janeiro, eleito em 1996, foi reeleito sucessivamente deputado federal, em 2002, 2006 e 2010. Não conseguiu a reeleição em 2014.
Foi candidato sucessivamente a Prefeito do Rio de Janeiro, também sem sucesso. 
Era o principal quadro do PT para cargos executivos, refletindo a percepção de que o PT não tem eleitores suficientes para eleger um candidato seu a cargo executivo no Estado, e na cidade do Rio de Janeiro, embora consiga sempre vitória do seu candidato à Presidência.

Os trabalhadores formais que tinham em Brizola e em seu partido, o PDT, as principais esperanças na melhoria das suas condições de trabalho e remuneração, mantendo ou aumentando os seus direitos (para eles: para os empregadores, encargos), migraram para as lideranças petistas, com duas liderança regionais proeminentes: Luis Sérgio, oriundo dos metalúrgicos da Construção Naval e Jorge Bittar dos engenheiros. 

Os petroleiros, embora a classe trabalhadora, mais poderosa, no Rio de Janeiro não criaram um lider politico, de origem sindical. O mesmo ocorreu com a classe dos servidores públicos. Os estaduais se concentram na eleição para a Assembléia Legislativa. (quem é o preferido dos servidores federais, no Rio de Janeiro? Seria Eduardo Cunha?. Ou seria a Benedita?).

O que querem os trabalhadores em relação ao Congresso Nacional? Por que deixaram de eleger os líderes sindicais?

Com a subida ao poder de Lula, um ex-líder sindical, muitas lideranças sindicais passaram a ocupar cargos públicos, bem remunerados, aparelhando a máquina estatal e, ao mesmo tempo, abandonando o ativismo junto às bases. Foram perdendo os eleitores o que resultou na redução da bancada sindical na Câmara Federal, em 2014. Na bancada fluminense, dos 46 eleitos, apenas 4 fazem parte - segundo o DIAP - da bancada sindical. Mas apenas um (Luís Sérgio) é oriundo da liderança sindical. Os demais são aderentes.


A desmobilização das lideranças sindicais, com a perda de posições no Congresso Nacional, levou à aprovação da Reforma Trabalhista, com a redução de direitos legais, que passaram a depender de acordos e, principalmente, a extinção da obrigatoriedade de recolhimento da Contribuição Sindical, a principal fonte de recursos dos Sindicatos, Federações, Confederações e Centrais Sindicais.

Lideranças sindicais tem se mobilizado para a sua eleição, com promessas de revisão da Reforma Trabalhista. Mas não tem empolgado os trabalhadores-eleitores, com essas propostas.

Com a perda do ativismo das lideranças sindicais junto às suas bases, os trabalhadores perderam o sentido corporativo e passaram a integrar as visões e aspirações dos cidadãos, em geral. 

Os trabalhadores-eleitores do Rio de Janeiro não votam -preferencialmente - nos candidatos do PT para o Congresso Nacional.

As eleições para o Senado em 2018, poderão responder a essa hipótese: os trabalhadores do Rio de Janeiro irão preferir Romário, Flávio Bolsonaro ou Lindbergh Faria?



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