A crise atual reflete o colapso de duas estruturas seculares, dominantes na cultura, politica e econômia brasileira: o nacionalismo econômico e o patrimonialismo.
O nacionalismo econômico é caracterizado pela estruturação da economia voltada para dentro, autossustentada pela produção e consumo interno. Essa estruturação decorre de vontade política, com apoio de segmentos da sociedade, com o sentido de não aceitar o que seria uma vocação natural do Brasil: um grande supridor mundial de matérias primas, tanto vegetais e animais, como minerais.
Ainda que iniciada antes, foi reforçada pela doutrina e conceitos desenvolvidos dentro da CEPAL, e conta ainda com inúmero adeptos.
Embora caracterizada como "nacional-desenvolvimentista" prefiro denominar de nacionalista-estatizantes. Nacionalista porque adota o conceito de uma economia voltada para dentro, para a nação e não amplamente integrada no mercado mundial, na globalização. Estatizante porque o modelo é baseado em forte atuação direta e indireta do Estado.
Para viabilizar e implantar essa estrutura o Brasil, através dos seus governantes - eleitos ou não - optou pela utilização do Estado como o principal protagonista, seja através da assunção de atividades estratégicas, atribuídas a empresas estatais, como através de mecanismos de apoio às empresas privadas, como regras de proteção à produção nacional, renúncias fiscais e financiamentos por bancos públicos. Envolveu sempre, intervenções artificiais do Estado na economia e tornou as empresas privadas reféns das políticas públicas. Estabeleceu uma cultura empresarial de só fazer o que o Governo sinalizava.
Esse modelo sofreu um primeiro grande abalo nos anos oitenta, quando a inflação, decorrente da insustentabilidade das políticas de promoção do crescimento econômico, alcançou níveis muito elevados, superando até 80% num único mês.
O remédio aplicado, com bons efeitos, foi o de abandonar o modelo nacional-estatizante para seguir o modelo, alcunhado de neo-liberal, do Consenso de Washington ou tripé macroeconômico. Caracterizou-se por uma redução do tamanho do Estado com a privatização de diversas das empresas e uma atuação mais intensa das empresas no mercado externo. Maior em relação aos antecedentes, mas timida quando comparada com a expansão dos produtos chineses no mundo, na mesma época.
Com a mudança no poder, assumindo Lula e o PT, esse modelo foi mantido nos seus dois primeiros anos, mas a partir dai foi promovida uma ampla reversão para o modelo nacionalista-estatizante, focada no desenvolvimento do mercado interno, desprezando o mercado externo, com a destinação para exportação apenas dos produtos industriais excedentes. E uma forte ampliação da ação direta do Estado, através de suas empresas remanescentes e ampliação dos investimentos com recursos do Orçamento Geral da União. Essa inflexão foi comandada pela então Ministra, primeiro de Energia e depois da Casa Civil, Dilma Rousseff, que posteriormente veio a ser eleita e reeleita para dar continuidade a esse modelo.
Esse modelo se esgotou por volta de 2014, com a economia tendendo à estagnação. Mas por razões eleitorais foi sustentado por medidas artificiais, principalmente aquelas nas contas públicas, apelidadas de pedaladas.
Terminada a eleição, em outubro de 2014, com a vitória e reeleição da Presidente Dilma Rousseff, os problemas afloraram e os remédios adotados só os agravaram.
E a economia brasileira entrou em crise, com agravamentos sucessivos. Iniciada por um enfraquecimento do consumo das famílias, com o esgotamento das medidas estatais de sua sustentação, principalmente o crédito, propagou-se pela redução da produção da indústria. Tanto o comércio como a indústria, diante desse enfraquecimento do consumo familiar, o principal esteio da economia brasileira dentro do modelo nacionalista-estatizante, passaram a demitir trabalhadores, gerando o fantasma e a realidade do desemprego.
Os desempregados, sem emprego e com dificuldade de recolocação, tiveram que reduzir o consumo, por absoluta falta de renda. Os empregados, mesmo com renda, passaram a comprar menos, buscando-se endividar menos, ou mesmo adiar compras à vista para formar reservas para os dias piores.
Estabeleceu-se a espiral negativa, com redução do consumo interno, redução da produção e comercialização, demissão de empregados e mais redução do consumo interno. Com o Estado também exaurido, sem capacidade de intervir para reverter esse processo.
O setor privado, acostumado a esperar soluções por parte do Estado, manteve a sua atuação reivindicatória, sem buscar novas alternativas e estratégias. O Estado não teve condições de atendê-los. E ainda buscou reverter muitos dos benefícios concedidos anteriormente. A produção voltada para o mercado interno ficou órfã. Com quedas sucessivas de vendas e de produção.
Com o esgotamento da capacidade do Estado em promover a reanimação da atividade econômica interna, através de instrumentos próprios e sem a possibilidade de ampliar os recursos mediante aumentos tributários só resta uma condição. Restabelecer a confiança dos agentes econômicos privados.
Esses, juntamente, com o Governo criaram uma imagem idealizada de que se o Governo promover as reformas estruturais básicas, haverá o restabelecimento da confiança, tanto dos consumidores, como dos produtores. Os consumidores voltarão a consumir, os produtores voltarão a produzir e irão empregar mais.
A confiança não será o suficiente para revitalizar esse modelo econômico voltado para dentro e inteiramente dependente das variações do consumo familiar doméstico.
A persistência nesse modelo apenas retarda a recuperação da economia brasileira. O modelo já perdeu a sua essência vital. Não tem mais base suficiente para sua revitalização. O colapso é definitivo.
(cont)
O patrim
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