Um levantamento do perfil do deputado federal, pela Bahia, José Nunes, ora no PSD, dá idéias sobre as estruturas políticas baianas e as possibilidades de renovação política.
José Nunes é de uma traducional família política com base em Euclides da Cunha na região nordeste da Bahia, que pode ser caracterizada como típica do coronelismo.
A emergência do "carlismo" liderada pela figura carismática e "mandona" de Antonio Carlos Magalhães, promovida pelos militares, principalmente, na figura de Juracy Magalhães, marca uma tentativa de renovação política, através de jovens políticos, com idéias modernizantes.
Os dois principais e mais longevos protagonistas dessa tentativa de renovação, que começa ainda na ditadura Vargas e é retomada com o golpe militar de 1964, são José Sarney, ainda vivo e Antonio Carlos Magalhães.
A idéia original seria a substituição das oligarquias tradicionais, de base "coronelista" por novos e jovens políticos.
Mas esses políticos, com o respaldo do poder militar, não destruiram as estruturas tradicionais. As submeteram, inicialmente, ao seu poder, ao seu mando, mas as mantiveram, como base de apoio eleitoral. Trouxeram o eleitorado, supostamente de "cabresto" dessas estruturas para o apoio eleitoral dos seus projetos de poder. Ou seja, cooptaram ou integraram os "coronéis" e seu eleitorado para prover os votos necessários à sua eleição.
No caso da Bahia esse processo foi acompanhado pelo "nós contra eles", com base em ações violentas contra os adversários.
Estabeleceu-se o "carlismo", uma estrutura política baseada numa liderança mandonista e violenta, com respaldo do Poder Militar. Com isso a adesão das estruturas políticas locais e regionais, e formação de sub-lideranças carlistas. Esses eram os escolhidos pelo Grande Lider para a ocupação dos cargos, eletivos ou não. Os que não concordavam com a escolha do lider e dissentiam, tornavam-se adversários.
O controle político não era ideologico ou programático. Quando muito tinha um caráter modernizante, mas de elementos físicos locais. Os Prefeitos aderentes ganhavam verbas estaduais ou federais para embelezar e modernizar fisicamente a cidade. A adesão de ACM ao sistema militar, não continha contradição ideológica, mas o seu objetivo acima de tudo era contar com o poder, para aumentar o seu poder.
Com a sua morte e sem sucessores, o "carlismo" teria morrido, sem deixar legados.
Os acontecimentos posteriores mostram o contrário. Ele deixou um legado e foi apropriado por Jaques Wagner. Não o legado ideológico de ACM, mas o seu processo político de mandonismo, violência e segregação (está conosco ou é inimigo).
Com a assunção do poder federal pelo PT, Jaques Wagner tornou-se o principal delegado do partido, para tomar o lugar do carlismo, usando os mesmos métodos. Os Prefeitos e lideranças locais, aderiam ou ficavam a "pão e água". Às vezes até sem "pão" e perseguidos. Adotando a mesma virulência política de ACM.
Dessa forma, conseguiu ser eleito e reeleito Governador da Bahia e ainda eleger o seu sucessor, que é favorito no pleito de 2018, devendo ser reeleito. Sem concorrente forte.
ACM Neto não reencarna o carlismo. Foi eleito Prefeito de Salvador, pelo "recall" do avó e ajudado pelo insucesso gerencial do seu antecessor. Conseguiu ser reeleito, em função do seu trabalho de modernização da cidade. Talvez esse seja o aspecto principal de semelhança com o seu avó.
Mas não tem o respaldo dos Governo Estadual e Federal para restabelecer o seu carlismo.
Desistiu de se candidatar ao Governo, porque percebeu que o carlismo tinha sido apropriado ou capturado por Jaques Wagner e o PT.
Em 2012, com o controle do Governo Federal e Estadual, o PT elegeu 92 Prefeitos. Em 2016, mesmo mantendo o Governo Estadual, mas sem o respaldo federal, caiu para 39, com perda de 53 Prefeituras.
O espaço perdido pelo PT foi tomado por dois partidos do centrão: PSD e PP que se tornaram as duas maiores forças eleitorais da Bahia.
Emergindo como uma terceira via, entre o PT e a coligação PSDB/DEM, compondo com os Governos, tanto o estadual como o federal, com Dilma e com Temer, já havia ocupado importante espaço em 2010, e reforçaram a posição em 2016. O PSD com 82 Prefeitos eleitos, com ganho de 13 em relação a 2012. O PP, cuja liderança nacional está no Nordeste (Bahia e Piaui), ganhou 4 Prefeituras, passando de 52 para 56. Os dois somados conquistaram 121 Prefeituras em 2012 e agora ampliaram para 139.
2016 marcou a recuperação do DEM, que apresentou o maior acréscimo no número de Prefeituras: 26, acompanhado por uma pequena recuperação do PSDB que teve aumento de 10 Prefeituras, conquistando 19, ao todo.
O PDT acompanhando a queda do PT teve uma redução de 23 Prefeituras Municipais, enquanto o nanico PSL - que agora deu legenda ao presidenciável Jair Bolsonaro - ganhou 13 Prefeituras, somando 15.
Os números acima indicariam um cansaço de lideranças locais e dos respectivos eleitorados com o "wagnerismo" ou a sua insatisfação com o mesmo. Porém Rui Costa, teria recuperado parte dessa perda, viabilizando a sua reeleição.
Embora o carlismo tenha sido muito vinculado à direita e ao regime militar, em função das posições pessoais do seu líder, ACM, é - de fato - um fenômeno político mais generalizado e foi substituido pelo wagnerismo, com uma atuação igualmente discriminatória.
O então PMDB, apesar de aliado do PT no nível federal, sob a liderança dos Vieira Lima, manteve uma posição estável, sem grandes ganhos, também sem significativas perdas, com a queda de Dilma Rousseff, em 2016 e desalojamento do PT do Poder Federal. A perda foi posterior com o debacle de Geddel Vieira Lima, atualmente preso.
A conquista da hegemonia política da Bahia pelo PT e pelo wagnerismo se deu com a aliança - nem sempre explícita - do partido de Lula com o "centrão". A partir da Bahia, o PP - apesar de profundamente envolvido pela Operação Lava-Jato - cresceu a ponto de se tornar, após a janela partidária, a segunda maior bancada na Câmara Federal. Seguido pelo PSD, sob a liderança de Otto Alencar, também oriundo das hostes carlistas.
Tendo sido Vice-Governador de César Borges - então carlista - assumindo o Governo quando este concorreu ao Senado, associou-se a Jaques Wagner em 2010, concorrendo como Vice-Governador e foi eleito Senador, em 2014, derrotando Geddel Vieira Lima.
Tanto a eleição de Rui Costa, com a sua foram surpresas eleitorais, mas frutos do wagnerismo, que assumiu o carlismo, com o intenso uso das máquinas públicas federal e estadual.
As estratégias dos dois principais partidos do centrão, para 2018 são as mesmas: foco na formação das bancadas na Câmara Federal, aliando-se a terceiros para a eleição presidencial.
É uma estratégia pragmática, com fundamento financeiros. Irá destinar a maior parte dos fundos eleitoral e partidário para a reeleição dos seus quadros na Câmara Federal. Sem necessidade de desviar recursos para as candidaturas majoritárias.
Irá dificultar, substancialmente, a efetiva renovação da Câmara dos Deputados.
(cont)
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