Frentes de Temer

Abalado pela revelação da sua suprema estupidez em receber clandestinamente o bandido-mor Joesley Batista, Michel Temer tem que enfrentar diversas frentes.

A primeira de ordem pessoal, teve a sua reação com o pronunciamento hoje à tarde, horário para ninguém ver ou prestar atenção. Mas necessário para um desabafo, acusando o traidor. E chamando atenção para o que configurou como "crime perfeito". Para a entrega da sua cabeça o MPF e o Ministro Edson Fachin premiaram o delator com imunidade, ou seja, sem qualquer prisão e com uma multa insignificante em relação ao faturamento do grupo.

A segunda perante o STF em função da aprovação pelo mesmo Ministro Fachin da abertura de um pedido de investigação do Procurador Geral da República. As falhas processuais e a falta de configuração objetiva dos crimes a ele imputados, poderão levar à suspensão da investigação ou, mesmo que continuada, a resultado nenhum. A menos que ele tenha cometido outra grande estupidez com o da noite de 7 de março. A batalha jurídica pode ser a mais leve de todas as demais.

A batalha no TSE para evitar ou postergar a cassação da diplomação da chapa Dilma-Temer deverá ser perdida. Ele estava conseguindo construir uma decisão favorável, em função da retomada do crescimento econômico. A sua cassação poderia resultar numa interrupção desse crescimento e até a reversão, em função de uma nova crise política. Instalada uma nova crise política, essa argumentação perde força e o registro da chapa deverá ser cassada em conjunto. Temer poderá recorrer ao STF, permanecendo no cargo. Como no episódio Renan, a Presidente do STF deverá articular uma sessão extraordinária do plenário para julgamento do recurso. Que provavelmente será desfavorável a Temer, obrigando-o a deixar o cargo. Tudo isso deverá ocorrer ainda no mês de junho, o mais tardar em julho.

A frente mais complexa que Temer deverá enfrentar é no Congresso Nacional. Não bastará a ele evitar os processos de impeachment. Que, provavelmente, não caminharão a tempo de se concretizar antes do término do seu mandato. Mas para isso terá que dispender muito esforço e articulação. O que ele precisa é fazer aprovar duas reformas por ele propostas e consideradas essenciais pelo mercado: a trabalhista e a previdenciária. A trabalhista está num processo mais avançado, mas com o risco de retrocesso. Isso ocorrerá se o Senado Federal aprovar o projeto de lei com alterações. A aprovação do projeto terá que ocorrer na Câmara dos Deputados. Para isso ele está negociando vetos e substituição por medidas provisórias. Confiarão os Senadores de que ele ainda estará na Presidência para cumprir as promessas?

A reforma previdenciária é mais complexa, por que é uma PEC, exigindo maioria qualificada (2/3 dos votos) e ainda nem foi aprovada pela Câmara dos Deputados. O passo obtido foi a aprovação da PEC na Comissão Especial. 

A questão é com perspectivas os parlamentares votarão a PEC. A delação de Joesley Batista, em consonância com as dos executivos da Odebrecht o esquema do "mensalão" permaneceu, apesar das investigações, penalizações e supostamente maior controle. Os deputados continuaram recebendo mesadas ou retribuições pontuais, tanto da Odebrecht como de JBS - Friboi para votar os projetos. Com a cessação dessas fontes não há como "comprar" votos de parlamentares. 

Eles não poderão se posicionar para negociar as propinas. Terão que votar com vistas à reação das suas bases eleitorais ou, em último caso, segundo as suas convicções pessoais ou partidárias. 

Como as eleições para a Câmara dos Deputados é predominantemente paroquial, o Governo ainda tem a ferramenta da liberação de emendas parlamentares para o deputado atender às suas bases, e votar a favor das propostas governamentais. 

A outra ameaça ou dilema que se coloca perante os parlamentares é a retomada da economia e o risco de reversão. A versão do Presidente Temer é que a economia está retomando o crescimento, mas se a reforma previdenciária não for aprovada, haverá uma reversão e os deputados e senadores que votaram contra serão acusados de comprometer o crescimento e, principalmente, a retomada dos empregos. 

Com o fechamento da torneira das "contribuições" empresariais o Governo é o único com capacidade financeira de atender aos pequenos e localizados anseios dos parlamentares. O PMDB e o PT poderão ainda ter "sobras de campanha", mas terão muita dificuldade de viabilizar as entregas.

Mais uma vez haverá a dúvida se o Presidente Temer continuará no Governo para cumprir as promessas.

A frente mais importante a enfrentar é o "mercado". Como os consumidores e as empresas brasileiras irão reagir diante de mais uma crise política? Continuarão consumindo e produzindo, ou voltarão a conter as compras como a produção? 

Para efeito do consumidor o fator mais importante é a contenção da inflação. Se essa continuar contida e até com reduções sucessivas poderá ajudar na dinamização das compras. Mas se recrudescer afetará indubitavelmente as propensões de compra. E isso se refletirá na contenção da produção e dos empregos. Dependerá da reação dos empresários em relação à precificação dos seus produtos. Um dado que influencia muito essa é a variação cambial. Neste aspecto o Governo pode interferir, mas com forte independência do Banco Central.

Se diante da crise política  o mercado se retrair e a inflação voltar a subir, Temer terá que sair para não comprometer as "suas" conquistas de recuperar o crescimento da economia. As manifestações crescente dos empresários serão de que com a instabilidade política a economia "voltará ao fundo do poço". E apontarão como solução, a renúncia de Temer, com a expectativa de eleição indireta de Henrique Meirelles.

O mercado já está formando a sua solução e se associará aos movimentos "Fora Temer", com o seu candidato preferido. Para dar continuidade ao "Temerconomic", que na realidade é de Meirelles. Chega de intermediários "Meirelles no poder".

A frente da opinião pública está perdida e irrecuperável. Temer já não contava com o apoio dela, com baixo índice da aprovação e essa irá sumir, com a contrapartida de aumento da rejeição. Como a renúncia é um fato pessoal não sujeita à decisão popular, tampouco a eleição é direta, ele não vai enfrentá-la. Nem tem como.

Sem ter o apoio popular, sem ter mesmo condição de influir decisivamente na eleição do seu sucessor, a sua aspiração era de encerrar a sua carreira política como o Presidente reformista que recolocou o "pais nos trilhos", promovendo a retomada do crescimento econômico, com o controle da inflação e a redução do desemprego.

Estava-se preparando para comemorar os resultados positivos no dia 17 de maio, quando no começo da noite foi golpeado com a revelação da sua suprema estupidez em receber clandestinamente o bandido Joesley Batista, em março, que num ato de ousadia e traição, gravou a conversa. A versão divulgada pela imprensa era altamente comprometedora. Em 40 minutos o velho e experiente político Michel Temer derrubou 40 anos da sua carreira e de imagem.

Com a sua permanência ele coloca em risco a sua última imagem positiva, construída ao longo de um ano de mandato "tampão". A imagem de Presidente reformista e recuperador da economia, será substituída pela imagem de destruidor da economia, pela teimosia em permanecer, mesmo sem ter condições de governabilidade. 

Diante da elevada probabilidade de ter que sair, por derrotas judiciais, no âmbito da Justiça Eleitoral, e pressão do mercado para a sua saída, como solução para manter a retomada do crescimento. Isolado e cada vez mais abandonado, sem condições de governabilidade, Temer deverá renunciar.

Melhor renunciar agora que a economia ainda está bem do que com ela desabando novamente. 

Não renunciou na quarta feira para não satisfazer os conspiradores e agora o seu inimigo mortal, que o trocou por uma "vida boa" em Nova York, com a sua bela esposa. 

Apesar da alta probabilidade de vencer o processo jurídico, no STF o que é essencial, para evitar que seja remetido para a primeira instância, caso renuncie, a pressão do mercado para a sua saída será o fator essencial para a sua renúncia. 

Diante de tantas áreas a enfrentar e elevação progressiva das pressões para a sua renúncia, o que lhe resta é escolher o melhor ou menos pior momento para a renúncia.

Nesse sentido a data azada é o começo de junho, preferentemente o dia 1 de junho. A razão é que nesse dia, o IBGE irá anunciar oficialmente os resultados do PIB do 1º trimestre de 2017. O período já está encerrado, não sendo afetados pelos novos acontecimentos posteriores. O retardamento se deve apenas ao tempo necessário para a apuração oficial. Outra entidades já indicam resultados positivos, depois de vários trimestres de quedas sucessivas.

No dia 1 de junho,  Temer convocará uma entrevista coletiva para o final do dia, com o objetivo de mostrar os resultados positivos, se apropriará desses, como tradicional "no meu governo". Ao final dirá ao país que deixará o cargo para que a sua permanência não atrapalhe a continuidade das conquistas, diante da conspiração que o atingiu. E que tirou dele as condições de continuar comandando o processo.

"Se é para o bem do país e felicidade do povo brasileiro dir-lhes-ei que saio."

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