O enigma dos deputados evangélicos

Novos documentos e livros sobre os evangélicos e a política me obrigam a atualizar análises anteriores, com novos achados. O mais recente é o livro de Andrea Dip- Em nome de quem?
O primeiro é que os políticos evangélicos estão mais para pragmáticos do que programáticos. 
Na Câmara defendem uma pauta fundamentalista, contra o aborto, contra o casamento gay, baseada em princípios baseados na sua interpretação da bíblia.  São conservadores em oposição aos progressistas, caracterizando esses como esquerdista e, principalmente, petistas. 
Mas assumem outras pautas que atenderiam aos anseios de suas comunidades, mas não tem fundamento religioso, como a redução da maioridade penal. Seria um corolário das posições de direita, contra os progressistas.
Negociam os seus votos dentro da Câmara dos Deputados, podendo se filiar ao Governo ou fazer oposição. Os objetivos são claramente fisiológicos, em troca de cargos, benefícios regulatórios, tributários e outros. 
Os deputados evangélicos, se disseminem por diversos partidos, formando a bancada evangélica. Institucionalmente formam a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional. Mas dois partidos formam o "núcleo duro" dos evangélicos: o PRB, que congrega os ligados à Igreja Universal do Reino de Deus - IURD, e o PSC, ligado à Assembleia da Deus. O PRB se aliou ao Governo do PT, com a obtenção do Ministério da Pesca, ocupada pelo então Senador Marcelo Crivella, atualmente Prefeito do Rio de Janeiro, onde deixou uma série de irregularidades e benefícios indevidos ao setor. Aparentemente teve compensações eleitorais, com os votos do segmento econômico. 
No Governo Temer, recebeu em troca do apoio parlamentar, o Ministério de Indústria, Comércio Exterior e de Serviços, onde foi o grande defensor dos benefícios tributários à Indústria Automobilística, confrontando as autoridades econômicas. Não está clara qual foi a motivação do PRB na defesa da indústria automobilística, uma vez que estão proibidas as doações empresariais para as campanhas eleitorais. Tampouco será terá impactos em votos. Evidentemente defenderá uma posição programática, a favor do Brasil, pelos investimento e inovação do setor. Obterá votos dos metalúrgicos do setor?

O que procuramos entender é onde estão os redutos eleitorais desses deputados federais e o que leva os eleitores a votarem neles?

Uma primeira hipótese é que os eleitores evangélicos estão imbuídos dos valores fundamentalistas em temas morais e votam nos seus representantes para defendê-los no Congresso. 
A fraqueza dessa hipótese é que nesse caso os representantes deveriam ser líderes, ainda que da "sua igreja". Os pastores com maior evidência não se candidatam, terceirizando a representação. Ou quando se candidatam, nem sempre conseguem votos suficientes para serem eleitos. O principal fracasso foi do Pastor Everaldo, que concorreu à eleição Presidencial em 2014. 
No entanto, há dois casos de sucesso: o de Marcelo Crivella, ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus -IURD, comandada por Edir Macedo e o do pastor Feliciano (Marcos Feliciano), ligado à Assembléia de Deus, a maior organização evangélica do país, liderada pelo pastor Silas Malafaia. 

A segunda hipótese é que são eleitos pelas atividades e promessas de assistência social, seja pela própria igreja, como pelo acesso aos serviços públicos. São eleitos por uma base que pouco tem a ver com a sua atuação legislativa própria. São, eleitos, como vários dos seus colegas - independentemente da conotação ideológica - como despachantes dos interesses locais ou regionais. 

A terceira, que consideramos a mais provável, é que grande parte dos eleitores evangélicos, como vários outros, não tem candidato próprio e não sabem em quem votar. Não confiam em nenhum candidato pelo seu discurso ou propaganda. Então se aconselham com o pastor da sua Igreja, que indica em quem ele confia. E é ele que direciona os votos a favor de determinado candidato. O pastor não se candidata, mas é decisivo em influenciar o voto dos seus fiéis. Silas Malafia se jacta em ser um influenciador e se recusa a ser candidato.

Se essa percepção estiver correta, qual será o seu impacto sobre as eleições parlamentares de 2018?

(cont)


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