O "fenômeno" PP

O notável crescimento do PP tornando-se a segunda maior bancada na Câmara Municipal, podendo superar o PT, como a maior bancada eleita a ser eleita em 2018, não é nenhum fenômeno sobrenatural.
É um processo gradual, pragmático e transparente que a miopia da opinião publicada e seus arautos recusaram a aceitar. Porque não atende aos seus parâmetros sobre como deveria funcionar a política. 
Enquanto os cientistas políticos tentam entender o fenômeno, Ciro Nogueira segue atuando pragmaticamente.

O PP é o maior partido dos "despachantes políticos", também caracterizado como "fisiológicos".  E também o maior partido do "Brasil ao norte" e pouco aceito (e por isso pouco percebido) pelo "Brasil ao sul" onde se concentra a opinião publicada.
O DNA do PP é a ARENA, portanto do partido formado pela ditadura militar. Esta se dividiu em duas facções: o PFL, com maior herança, comandada por Antonio Carlos Magalhães e o PPB, capturado por Paulo Maluf.
Ambos com os mesmos métodos: associar-se ao Governo, apoiando-o no Congresso em troca de cargos e gastos públicos no seus "currais eleitorais". 

Em 1994, o PFL de ACM coligou-se com o PSDB e tornou-se sócio desse na conquista e gestão do poder. O PPB de Maluf, manteve-se na posição de base aliada, ainda que não formalizada. 

Com a derrota do seu sócio PSDB para o PT de Lula, em 2002, o PFL foi para oposição, deixou de ser governo e foi se esvaziando, porque não sabia trabalhar sem ser governo, ou fazer as trocas com o Governo. O PSDB ainda conseguiu se sustentar pelo controle de Governos Estaduais e por ter sempre um presidenciável. 

O PPB ingressou no grande consórcio, organizado por José Dirceu, dessa vez "vendendo" apoio no Congresso. Para isso tinha um empecilho: a direção do partido por Paulo Maluf, notório político ligado à ditadura militar e também suspeito de corrupção. Para ingressar na sociedade, um grupo nordestino, deu um "golpe partidário", para afastar Maluf e assumir a nova direção do partido. Contou com a participação de um deputado paranaense que criou e desenvolveu o respaldo financeiro para o consórcio.
Por não serem do "circuito Elizabeth Arden" político(São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) eram pouco conhecidos da opinião publicada e dos cientistas políticos, mais notórios. 
Quem eram Mário Negromonte da Bahia, Pedro Correa de Pernambuco, José Janene do Paraná? E ainda um político insignificante de um estado insignificante: Ciro Nogueira, do Piaui. Quanta pretensão desses políticos do baixo clero da Câmara tomar o poder de Paulo Maluf! 
Mas este sabia quem aquele era, porque conviveu com Petrônio Portela, durante o regime militar.
As investigações sobre a atuação do consórcio, que veio a ser conhecido como o "mensalão", abalou parcialmente esse grupo: Negromonte submergiu, Pedro Correa, depois de sucessivas reeleições, não conseguiu se reeleger em 2014.
Ciro Nogueira, passou incólume, por ter conseguindo ser eleito Senador pelo Piaui, em 2010, associado ao principal grupo empresarial do Estado.  Foi citado, posteriormente, em delações da Odebrecht.
José Janene, aproveitou o aprendizado com o mensalão e criou as bases do "petrolão". Trocou o apoio no Congresso por cargo de direção na Petrobras. Conseguiu "emplacar" Paulo Roberto Costa. 

Enquanto os partidos maiores estão preocupados com a Presidência de República, o PP de Ciro Nogueira foca a bancada na Câmara dos Deputados. Percebe que a força política real está na Câmara dos Deputados, porque todo Presidente da República, quem quer que seja depende daquela. E trabalha para o seu fortalecimento, contando além do mais que a distribuição dos recursos públicos para os partidos é feita segundo o volume das bancadas eleitas. E foi agraciado pelo financiamento público das campanhas, paralelamente à proibição das doações empresariais.

A pergunta que não quer se calar é: porque os grandes partidos deixam os espaços abertos para a conquista do poder legislativo pelos PPPs da vida? Não é um processo subterrâneo, clandestino. É transparente e altamente visível. Seria por miopia?

O fato é que o poder legislativo em 2019 será dominado pelo antigo "baixo clero", agora caracterizado como "centrão". E dentro desse haverá a disputa pelo poder entre os "ascendentes", com o retornante PFL, agora Democratas, sob liderança de Rodrigo Maia. 

Para o entendimento, em termos futebolísticos, PP ascendeu da série B, para a A. O DEM tinha sido rebaixado, para a série B, mas retorna à série A. Manteve a imagem de clube grande. 


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