Reclama-se dentro da sociedade organizada, com o apoio acadêmico, pela falta de um projeto nacional, pela falta de um projeto de país.
Na prática todos os países, todas as sociedades nacionais, tem um projeto real.
É como, na prática, vivem, com os seus valores, comunicação, hábitos, produzem e consomem. De quem tem poder e manda. E dos que seguem.
Porém esse modo de viver não é reconhecido como um projeto de país, a não ser posterior e historicamente. Quando muito é percebido como um projeto espontâneo, desconexo, não planejado, não institucionalizado.
Os defensores da necessidade do projeto nacional, esperam que esse seja promovido ou adotado pelo Estado, através dos seus governos.
O que não irá ocorrer, porque faltam efetivos estadistas.
Neste momento de pré-eleição presidencial, vários segmentos da sociedade, se mobilizam para apresentar aos candidatos propostas setoriais ou mais amplas de programas, planos e até mesmo de projetos para a Nação.
Alguns, preocupados com a continuidade dos planos, propõe planos de Estado, que ultrapassem os períodos governamentais.
Teriam mais amplitude temporal, mas continuariam sendo planos estatais, comandados pelo Estado, como o representante democrático da nação.
Embora comandado pelo Estado, através dos Governos, a execução dos projetos nacionais, caberá predominantemente aos agentes privados, que constituem a maioria dos produtores, seja em quantidades, como em volume de produção e contribuição para a formação do Produto Nacional Bruto e da sua expressão mais conhecida o PIB.
Se a maioria e os principais produtores econômicos são privados, por que eles não assumem o comando do processo?
Anteriormente, os principais produtores - então agrícolas e extrativistas - fizeram isso. Mas foram derrotados ainda nos anos trinta do século passado, com uma coalização de forças reunindo uma classe média urbana emergente, com agentes industriais, igualmente emergentes.
O setor industrial passou a ser dominante, com o apoio estatal, promoveu o crescimento do país.
Essa transformação não se deu pela transferência de poderes dos agentes agro-extrativistas para os agentes industriais privados.
A industrialização foi promovida pelos militares e políticos associados, imbuidos da visão de desenvolvimento e modernização do país. Dentro da visão econômica hegemônica mundial, na ocasião, isso teria que ser feita pela industrialização. Associada à visão nacionalista, foi criado e implantado o projeto nacional-industrialista, caracterizado como "nacional-desenvolvimentista".
O "poder industrial" nunca conseguiu assumir diretamente o poder estatal nacional. O capturou através de militares e políticos aliados, levando-os a desenvolver políticas públicas a seu favor.
Essa poder vem sendo enfraquecido, pela mudança no pensamento econômico hegemônico mundial, com prevalência das visões liberais, de contenção do papel do Estado na economia.
A prioridades não é mais a industrialização, mas a privatização, o controle das contas públicas, a contenção da inflação, etc. Com a limitação da ação do Estado a poucas políticas horizontais, e ojeriza a qualquer política setorial.
A Indústria vem perdendo vigor e deixou de ser o principal motor da economia. Mas consegue transmitir à sociedade a visão de que ela equivale à economia, como um todo: se a indústria vai bem, a economia vai bem. Se ela vai mal, o Brasil vai mal. Essa visão, ainda que equivocada, ainda é aceita pela maioria da sociedade organizada.
O esgotamento do projeto de desenvolvimento pela industrialização voltada para o mercado interno, financiado por mecanismos artificiais, trouxe um grande desequilibrio das contas públicas e uma crise econômica, cujo "conserto" domina as propostas econômicas do Governo e aos candidatos.
A par das ditas "reformas estruturais", sem as quais, segundo esse pensamento econômico dominante, o Brasil não poderia se desenvolver, os focos tem sido a produtividade e a abertura da economia, questões interligadas.
Partem de visões acadêmicas, baseadas nas estatísticas e nas experiências internacionais, mas que aplicadas poderão ter resultados desastrosos para a já frágil indústria nacional.
Não pode ser vista apenas sob o aspecto horizontal e internacionalmente unilateral.
Com o enfraquecimento do Estado, em função dos fracassados intentos de financiar a sustentação do projeto de industrialização voltada para dentro, não há nenhuma viabilidade do Estado liderar um novo projeto nacional, ainda que consiga promover a reforma previdenciária, para poder contar com mais recursos para investimentos.
Qualquer projeto nacional terá que ser um projeto de mercado. Um projeto protagonizado e comandado pelo conjunto das empresas privadas, em função das oportunidades de mercado.
(cont)
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