Transformar a produção agrícola em alimentos para o mundo

A agropecuária brasileira é - sem dúvida - uma pujança, ainda pouco reconhecida pela "cultura urbana". Com um grande potencial de desenvolvimento, diante do crescimento da demanda por alimentos pelo mundo, tem feito um grande esforço de marketing para ser reconhecido. Conta com o apoio da Rede Globo que tem feito uma persistente campanha na televisão sobre "Agro é tech, agro é pop, agro é tudo". Contestada nas redes sociais onde os "ambientalistas" dominam.

A idéia ou lema do "Brasil celeiro do mundo", sintetiza a posição da agropecuária, que acaba tendo uma resistência inconsciente por parte da sociedade urbana que não quer ser dominada pelo campo. Esse domínio é percebido, ainda que nem sempre explicitado, como um retrocesso por uma sociedade que é hoje predominantemente urbano.

Para tentar vencer resistências, a agropecuária ampliou o seu escopo, procurando caracterizá-la como agronegócio. Mas o agronegócio continua sendo dominado pelo campo, pelo rural. Manifestação típica é a edição especial da Isto é Dinheiro Rural que lista as 100 personalidades mais influentes do agronegócio. 80 ou mais são produtores rurais.

Do ponto de vista macro econômico a contribuição da agropecuária para o PIB é pequena, por que está no início da cadeia produtiva. Somando o restante dessa cadeia a participação é estimada em cerca de 20%. Mas ai, a agropecuária representa apenas 25% do PIB do agronegócio, com a indústria representando outros 25%, dos quais 5% são insumos. O processamento industrial não passaria de 20% do PIB do agronegócio. A metade é representada pelos serviços. Ou seja, agronegócio é agro-serviço. Onde a logística e a comercialização representariam a maior parte.

O que o consumidor de alimentos no Brasil, como no mundo, paga é pelo custo do alimento chegar até o varejo. Ou até ao seu prato, ao consumí-lo num restaurante.

Para ser reconhecido socialmente o agronegócio precisa substituir a visão "Brasil celeiro do mundo" por "Brasil, alimentando o mundo" ou similar. Precisa substituir a idéia de produtor e exportador de matérias primas, para ser um supridor mundial de alimentos. E ainda de energéticos e de produtos de madeira.

O grande desafio do agronegócio é agregar valor às suas matérias primas agro-pastoril pelos serviços. Muito mais que pela industrialização de transformação. Isso porque uma grande parte da industrialização ainda é de simples processamento, mantendo as características de commodities, como ocorre como açúcar, o farelo de soja ou o suco de laranja.

Nos serviços as ações devem ter dois sentidos: um de redução, na logística e na comercialização. Assumindo, com base na realidade, que o consumidor irá pagar o mesmo preço final pelos alimentos não diferenciados, isto é, commoditizados, a redução dos custos intermediários irá beneficiar o produtor. Já os alimentos diferenciados adicionarão valor pela diferenciação.

O agronegócio para ter o reconhecimento social precisa mostrar que é muito mais que produção agrícola e pastoril. 

O lema da campanha da Rede Globo tem esse sentido, mas o conteúdo continua sendo dominado pelo Globo Rural.

(cont)


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