A desglobalização norte-americana x globalização chinesa

Ao contrario do que diz Trump e acredita uma boa parte dos norte-americanos, a globalização não foi uma conspiração do mundo para sugar emprego e renda dos americanos. Foi uma estratégia praticada pelas multinacionais cumprindo uma estratégia militar formulada pelo governo norte-americano, no pós II Guerra Mundial.
Foi a dimensão econômica da guerra fria, pouco percebida até a queda do muro de Berlim quando, livre da dimensão politico militar, se desenvolveu amplamente,  propiciando grandes lucros para as multinacionais norte-americanas.

O que emergiu com a queda de um grande e simbólico muro, Trump quer acabar com um novo muro. O que irá enfraquecer e desenriquecer as multinacionais norte-americanas.

As multinacionais buscaram ganhar mais nas atividades do terciário do que nas atividades industriais nos EUA, o que resultou em perdas de empregos industriais tradicionais. Perdas essas promoveram a eleição de Trump.

As empresas mais ricas do mundo continuam sendo norte-americanas, mas não mais industriais como a GM, Ford, US Steel, Exxon e outras, mas as empresas da área de tecnologia da informação, como a Google, Facebook, Apple, Microsoft e outras. 

A Apple uma das empresas mais valorizadas do mundo, ganha dinheiro em todo o mundo, mas principalmente nos EUA. E não produz os seus aparelhos e equipamentos nos EUA. Monta na China, com componentes japonesas e outros paises asiáticos e até de empresas norte-americanas e européias. Gera empregos no terciário nos EUA, incluindo muitos imigrantes, altamente qualificados, e desemprega milhares de operários. 

Com a retração dos EUA, a China, através do seu líder Xi Jinping passou a defender a globalização. Não diz o que a China irá fazer, mas estratégias de avanço de empresas chinesas no mundo, dá uma idéia. O que está acontecendo com a indústria mundial de ar condicionado é uma amostra.

A tecnologia do condicionamento do ar é tipicamente uma invenção norte-americana, de autoria de Willis Carrier que, a partir dela montou a empresa lider mundial do setor. 

Como outras ingressou no modelo de globalização. Esse não se limitou a uma expansão internacional da empresa, atendendo a diversos mercados, mas também a produção terceirizada ou própria em países de custo de mão para abastecer o próprio mercado norte-americano.

Numa primeira fase a Carrier passou a enfrentar a concorrência de conglomerados japoneses, com uma ampla gama de produtos industriais, como a Hitachi e Fujitsu. Mas a principal concorrente foi a Toshiba que se dedicou à produção em massa de aparelhos domiciliares de ar condicionado, sendo responsável pelas principais inovações estruturais: o split e o inverter. 

A "segunda onda" ocorreu com o ingresso das gigantes sulcoreanas  (Samsung e LG) do setor de eletro eletrônicos no segmento de ar condicionado. Aparentemente ficaram com uma participação marginal, tanto do mercado mundial, como nos EUA. No Brasil, apenas a LG teria conseguido uma participação fora do traço. 

A onda mais importante vem com a internacionalização das empresas chinesas, principalmente a Midea . A Gree, embora a detentora da maior fatia do mercado chinês, ingressou no mercado mundial através da exportação dos seus produtos, sem aquisição relevante de empresas locais ou mesmo outras multinacionais.

A Midea no Brasil adquiriu os negócios da Carrier, que já havia absorvido a Springer (uma empresa nacional, apesar do nome) e feita uma associação com a Toshiba. 

A Carrier foi uma das multinacionais norte-americanas que promoveu um amplo processo de globalização, com a presença em 180 países. Estabeleceu a sua cadeia produtiva fragmentada entre diversos países, aproveitando as vantagens competitivas de cada uma, sob comando norte-americano. 

Com o agressivo avanço da chinesa Midea, transferiu as suas operações brasileiras a essa, já representando um passo atrás na globalização, e passando essa função para a empresa chinesa.

Agora com a política de Trump, ameaçando impor sanções à Carrier caso ela efetiva uma transferência de uma unidade em território norte-americano para o México, essa pode reverter a sua expansão mundial, concentrando as suas operações de produção e comercialização nos EUA.

Nesse caso poderia transferir operações no exterior para outras empresas. Se o fizer como no Brasil, estará acelerando o processo de globalização chinesa.

O caso concreto do setor de ar condicionado doméstico, reflete bem as consequências das posições divergentes de Trump e de Xi Jinping. 

Com a posição de Trump contra a globalização e exigindo que as multinacionais norte-americanas e as que vendem no mercado norte-americano invistam na produção em território norte-americano, essas multinacionais poderão vender suas operações fora dos EUA. E os mais prováveis compradores serão as empresas chinesas. 

Ou seja, o espaço deixado aberto pelas empresas norte-americanas em todo o mundo serão ocupados, preferencialmente, pelas empresas chinesas. Essas empresas dariam sequência à globalização das cadeias produtivas, que foram iniciadas e desenvolvidas pelas multinacionais norte-americanas, insufladas pelo Governo Norte-americano.

Para o objetivo de gerar emprego não basta exigir que as empresas norte-americanas invistam em instalações em território norte-americano. É preciso que toda a cadeia produtiva se instale em território norte-americano. 

Com o objetivo de tornar a economia norte-americana autossuficiente, com o mínimo de dependência de importação de terceiros, o Governo norte-americano terá de estabelecer mecanismos protecionistas. 

Duas questões devem ser devidamente analisadas para avaliar o futuro dos EUA, com uma economia fechada: a capacidade das empresas norte-americanas de inovar e permanecer tecnologicamente avançada, não se atrasando em relação aos avanços das empresas fora dos EUA. E, também, os custos da produção nacional.

Caso siga avançando tecnologicamente, não criará resistência, tampouco insatisfação dos consumidores desejosos de contar com os equipamentos e aparelhos "up to date". Por outro lado, as empresas instaladas nos EUA poderão exportar os seus produtos mais avançados para outros países. Mas isso dependerá também dos custos de produção.

Ademais as multinacionais norte-americanas, restritas ao seu mercado interno não terão a valorização de seu ativo, assim como os níveis de lucro que tem obtido com a globalização. 

Não se pode ter dúvidas quando as tentativas de Trump em efetivar as suas promessas de campanha. A dúvida é se as multinacionais norte-americanas, percebendo que as políticas irão reduzir o seu valor e seus lucros, irão aceitar, em nome de uma  "América First". 





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