Partindo do início do século XX a opção brasileira foi de continuar a explorar os seus recursos naturais. Produzir para exportar de forma a ter divisas para importar os produtos industriais dos paises mais desenvolvidos. Nesse momento era o café no sudeste e a cana de açúcar no Nordeste.
Com essa estrutura econômica o Brasil atravessou duas guerras, caracterizadas como mundiais, mas das quais o Brasil só participou periféricamente, com o envio de pequenas tropas para auxiliar os aliados.
Mas as restrições de importação levou o Brasil a desenvolver a produção industrial básica, como a de vestuários, calçados, móveis, outros bens industriais de consumo e a criar uma indústria de máquinas e equipamentos. Seja para reposição do parque produtor anteriormente instalado, como para a produção de máquinas para aquela produção industrial básica. E na negociação de aliança com os EUA e aliados, na segunda guerra, obteve o apoio técnico e financeiro para implantar uma grande usina siderúrgica de aços planos.
Terminada a II Guerra Mundial, a elite brasileira se dividiu entre os defensores de um país eminentemente produtor dos seus recursos naturais, atendendo aos preceitos das vocações naturais dos países e consequentes vantagens comparativas e os industrialistas.
Os primeiros defendiam que o Brasil deveria se desenvolver como um produtor agrícola e mineral - no que era mais competitivo - gerando as divisas suficientes para importar os produtos industriais, desenvolvidos pelos países mais avançados no setor. O seu principal porta-voz era o prof. Eugênio Guidin.
Os industrialistas, com Roberto Simonsen à frente, defendiam a industrialização como condição básica para a independência econômica brasileira.
No limiar da década de cinquenta um novo componente é trazido ao debate: o desenvolvimentismo, com a visão de que a única forma de superar o subdesenvolvimento era a industrialização interna. E a dependência econômica ganhou contornos ideológicos.
O pensamento desenvolvimentista venceu o pensamento do Brasil essencialmente agrícola. E o Brasil iniciou um amplo processo de industrialização, capitaneado pelo Estado, através da implantação de infraestrutura e de uma indústria de base.
O desenvolvimento industrialista se fundou sobre três grandes pilares:
- a deterioração secular os preços de troca - o que não se confirmou ao longo do tempo;
- o maior valor dos produtos industrializados por peso - paradigma até hoje prevalecente, embora os maiores valores atuais sejam de produtos imateriais como os das tecnologias da informação que não são medidas por quilo;
- o imenso mercado nacional o que promoveu uma industrialização voltada para dentro, desprezando a alternativa de uma indústria voltada também para o exterior.
Mas todo esforço nacional e as políticas públicas econômicas foram voltadas para o desenvolvimento industrial. Assim como a visão da sociedade e da mídia que avalia a situação econômica brasileira pelo que ocorre com a sua indústria. Situação que ainda prevalece, nos dias atuais (2016).
Uma oportunidade perdida: tecnologia da informação
Ainda nos anos setenta o sistema econômico mundial começa a mudar com a grande e "invisível revolução" provocada pela tecnologia da informação, tanto no processamento de dados e informações, como na automação industrial.
O processo embora liderado por empresas e outras entidades privadas e públicas norte-americanas, secundado pelo Japão, teve características de disseminação mundial.
O Brasil optou por não se inserir nesse movimento mundial e dentro da cultura nacionalista, então dominantes, decidiu criar as suas próprias tecnologias e indústrias brasileiras de TI. Liderado por um governo militar, a estratégia foi estabelecida e desenvolvida sob o manto da segurança nacional. Mas foi plenamente seguida pelo setor empresarial e pela sociedade, com pequenos focos de resistência, sem qualquer força relevante.
Através dessa estratégia criou e patrocinou a formação de empresas de TI, e repeliu as grandes multinacionais do setor, a menos das já instaladas - como a IBM.
A estratégia fracassou com a insustentação da maioria das empresas nacionais criadas, que permaneceram como pequenas ou médias empresas - com poucas exceções - , o atraso na incorporação das tecnologias na produção industrial, assim como nos produtos. Mas a principal perda foi ter ficado fora das cadeias produtivas globais da Nova (não sei se a segunda ou terceira) Revolução Industrial.
A indústria brasileira não incorporou ao seu "portfólio" os segmentos caracterizados como de alta tecnologia. Além do fracasso da política de uma tecnologia da informação brasileira outra razão contribuiu para a marginalização da indústria brasileira dessa nova etapa da Revolução Industrial.
Ainda que o Brasil tenha um grande mercado interno não é uma escala suficiente para viabilizar os grandes empreendimentos de TI. Esses precisam ter as características de indústrias mundiais. O que implica em serem também "plataformas de exportação". O que o Brasil, pelos seus diversos segmentos socias rejeitou e ainda rejeita.
O processo decisório nacional que adotou essa opção não é claro, tampouco bem definido. A criação da política, com a criação da SEI é um marco bem definido. Mas a sua extinção não significou uma mudança de rumos.
Decisões pontuais por parte dos Governos e das empresas determinaram a dominância do rumo de não incorporação do Brasil na rota dos negócios de TI. Lembro-me de dois casos: a não aprovação do "draw-back" de rádios automatizados dos carros da Volkswagen para exportação aos EUA e a recusa de concessão de benefícios fiscais à Motorola para a produção de chips no Brasil. Ela acabou se instalando na Costa-Rica.
Com a abertura do mercado brasileiro para importações, a maioria das empresas de alta tecnologia prefere transferir os produtos prontos de suas unidades fora do Brasil do que produzí-los no país. A principal razão seria o maior custo da produção no Brasil, o que fez com que algumas que se instalaram industrialmente no Brasil descontinuaram a produção. Isso tem a ver com a emergência da China, o que ocorreu muito tempo depois.
Uma pergunta do futurível é se o Brasil poderia ter tomado o lugar que a China veio ocupar? O Brasil iniciou o processo antes da China, mas depois foi "atropelado" pela indústria chinesa.
O México, antes da China, aproveitando a proximidade com os EUA se desenvolveu com base nas suas "maquiladoras", dentro do modelo de "barriga de aluguel". Também foi atropelado pela China. Várias das empresas norte-americanas que haviam se instalado no México, mudaram para a China. Onde produziam mais barato e vendiam no mercado norte-americano.
O fato é que o Brasil perdeu a oportunidade por não ter percebida a emergência da 3ª Revolução Industrial e não ter reorientada a sua indústria para uma inserção nela. E se há algum nome marcante no processo, responde pelo nome de Ciro Gomes, precedido por Fernando Collor de Melo. Ambos responsáveis por uma abertura não negociada. Supostamente a favor do consumidor brasileiro.
Os acidentes, opções ou faltas de compreensão que levou o Brasil a perder a oportunidade de se inserir na 3ª Revolução Industrial precisa ser melhor estudada e avaliada.
Está relacionada com duas outras situações perdidas, com relação à mundialização da sua indústria.
A globalização avançou rapidamente com a China se tornando a grande potência industrial do mundo, concentrando cada vez mais a produção e os empregos industriais, gerando desemprego nos tradicionais paises industrializados do mundo, tanto na Europa como nos EUA.
A consequência politica desse processo se manifesta no Brexit e na ameaça Trump.
A reação é comandada pelos "homens brancos raivosos" de classe média que perderam o seu emprego ou viram a sua renda cair.
Na visão deles os culpados são os produtos "made in China" e os imigrantes. Dois culpados bem visíveis. E uma realidade flagrante. Como agora o colapso da indústria moveleira na Carolina (acho que do norte) nos EUA.
E o Brasil?
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