Resultados econômicos dos grandes eventos

O sucesso do carnaval de rua, com multidões seguindo os blocos no Rio de Janeiro e em São Paulo, além dos já tradicionais blocos na Bahia, no Recife, em Olinda, e em outras cidades, sem a mesma cobertura da mídia, traz uma "briga" entre autoridades, analistas e "bairristas" sobre qual o carnaval de maior peso econômico ou mais rentável.
Não há metodologia consolidada que permita a comparação objetiva, entre os diversos eventos regionais.
Há alguns anos formulamos uma metodologia, de forma incipiente, para avaliação da economia do carnaval carioca, então dominado pelo desfile das escolas de samba no sambódromo e os blocos ainda tentando ocupar o seu espaço. Os conceitos básicos foram desenvolvidos pelo estudioso da matéria e carnavalesco Luiz Carlos Prestes Filho.

Esses conceitos básicos são da estimativa da economia do carnaval pelo lado da demanda, dos gastos dos "foliões" com produtos e atividades típicas ou específicas do carnaval. Seja da população local como dos turistas. Os gastos dos participantes dos folguedos, devem ser acrescidos dos gastos dos patrocinadores para viabilizar as apresentações, assim como para a infraestrutura necessária para dar suporte às manifestações e aos eventos.

Do lado da oferta deve ser considerada a cadeia produtiva de todos os produtos e atividades, com a respectiva localização da produção e destino dos recursos. Por exemplo, parte dos adereços utilizados nas fantasias dos integrantes das escolas de samba é importado da China ou de outros paises asiáticos. E comprados na rua 25 de março, em São Paulo, onde estão concentrados os importadores de "badulaques" chineses. O valor adicionado no Rio de Janeiro é minimo.

No caso de Salvador, as despesas dos foliões com os hotéis, ou restaurantes, seriam gastos locais. Já a viagem seria apropriada pelo local da origem ou da sede da empresa aérea. Os abadás seriam comprados na Bahia, a mas a sua produção poderia ser na China ou em São Paulo. A apropriação local seria apenas da comercialização.

De uma parte, os gastos totais dos participantes das festas ou carnaval-adeptos e dos patrocinadores definiriam o "faturamento bruto" do Carnaval. 
De outra parte a cadeia produtiva permitiria estimar os valores adicionados, apropriando os gastos locais. 

Os valores adicionados seriam um indicador mais amplo e relevante do que o lucro. Este é apenas uma parte do valor adicionado, sendo a outra parte relevante é o pagamento das pessoas. A remuneração das pessoas gera um novo circuito econômico caracterizado como efeito renda. Esse efeito renda é mais localizado, podendo ser agregado, em primeira instância, como impacto econômico da atividade, ou seja, do carnaval. 

No caso das escolas de samba, o valor adicionado é um indicador importante já que as agremiações são entidades sem fins lucrativos. Mas geram valor adicionado, com o seu trabalho de preparação dos carros alegóricos, fantasias, adereços e outros e na organização do desfile. Os barracões são verdadeiras indústrias que funcionam praticamente o ano todo, absorvendo um grande volume de empregos.  

Para justificar gastos ou investimentos na promoção de grandes eventos, as autoridades confundem - propositalmente - gastos micros, com resultados macro. Assim foi com os investimentos com a Copa, que deu errado. A ilusão do Governo, acatada por muitos economistas, foi de que com a realização da Copa, o PIB teria um crescimento adicional que iria de 0,5 a 3%. Ao final o PIB de 2014 caiu e a culpa foi atribuida aos feriados durante da Copa.

A Prefeitura do Rio de Janeiro usa essa mesma mistificação para justificar os investimentos na cidade com as Olimpiadas. Neste caso poderá haver até ganhos macroeconômicos da cidade, pois as Olimpiadas pouco afetam os dias de trabalho, como ocorreu com a Copa. Mas apenas parte dos ganhos macroeconômicos irão para os cofres da Prefeitura para pagar os investimentos ou os financiamentos para a sua realização.

A Prefeitura de São Paulo diz que a Prefeitura gastou R$ 20 milhões para promover o carnaval de rua e a cidade vai faturar R$ 400 milhões. O que é inverídico. Mas mesmo que fosse, apenas uma pequena parte retorna aos cofres da Prefeitura. Não pode ser comparada com rentabilidade de aplicações privadas.  

Sem dúvida há um ganho para a economia da cidade. Ou melhor, uma perda menor para a economia da cidade. Quando 2 ou mais milhões de pessoas fogem da cidade, na epoca de carnaval, indo gastar em outras localidades, a permanência de metade dessa população na cidade, mesmo que gastando pouco é uma perda menor. 

Na falta de metodologia consistente as autoridades jogam com os números que querem e os incautos ou trouxas acreditam e repetem.   

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