O mercado de trabalho em 2017

O mercado de trabalho brasileiro vai melhorar em 2017, devendo apresentar quedas na taxa de desemprego, medida pela PNAD Contínua, aumento do número de empregados formais ao final do ano, medido pelo CAGED e aumento do estoque de trabalhadores empregados, na RAIS.
Mas será desigual, regionalmente, principalmente quanto ao ritmo.
De um lado o mercado será acionado pela elevação da produção agropecuária. Principalmente pela produção de soja, cuja safra 2016/2017, já em fase de colheita, deverá alcançar mais de 100 milhões de toneladas e irrigar o mercado com mais de R$ 100 bilhões, logo no inicio do ano. A maior parte deverá continuar no campo, financiando o plantio da "safrinha" de milho, mas com repercussões sobre as indústrias de insumos químicos e de máquinas agrícolas. 
A produção de grãos no Brasil é altamente modernizada, com amplo uso de equipamentos, tecnologia e baixa utilização de mão-de-obra. A repercussão dos aumentos recorde de produção da soja não deverá ter grandes repercussões diretas sobre o mercado quantitativo de empregos.
Os impacto mais imediato será dos gastos em consumo - tanto de bens duráveis, como não duráveis - dos agentes da produção agrícola, envolvendo os fazendeiros e os operadores de equipamentos: poucos, mas bem remunerados. 
Em 2016, em função da quebra de safra, muitos fazendeiros não fizeram a renovação da sua frota de veículos pessoais, contiveram despesas de consumo "superfluo" e deixaram de viajar ao exterior. Com a euforia das colheitas, apesar de algumas perdas por excesso de chuvas, aqueles gastos pessoais deverão aumentar, gerando empregos nessas atividades. A principal repercussão deverá ser no comércio varejista e nos serviços. 
Os maiores polos de geração de empregos serão os centros urbanos de apoio aos produtores de soja, na maior parte de pequenas e médias cidades. Mas capitais como Goiania, Cuiabá e Campo Grande terão melhoria do seu nível de emprego, puxado pelo comércio. A repercussão chegará a São Paulo, ainda o maior polo de consumo da América do Sul, atraindo inclusive a renda gerada pela produção de soja do Paraguai. 

A continuidade do processo positivo de geração de empregos dependerá, de um lado, da efetivação das previsões das demais safras, principalmente da "safrinha" de milho, que já é maior do que a primeira safra, e do processo de alavancagem dos gastos de consumo dos agentes agrícolas, nas cidades.

Embora a produção agrícola de grãos seja o principal acionador do processo de reativação da economia, tanto o processamento industrial dos grãos, como outros produtos agrícolas, principalmente a cana de açúcar e seus derivados, deverão contribuir para engrossar o volume de recursos para geração de mais empregos. 

A maior parte da produção de milho é utilizada como insumos da produção animal, principalmente aves e suinos, que sofreram quedas no ano de 2016 por conta da quebra da safra de milho, elevando substancialmente os preços, o que afetou o consumo interno. Para 2017 são esperadas a normalização dos preços, elevando o consumo interno e contribuindo para a contenção dos índices inflacionários. Além disso deverá melhorar as exportações. 

Ainda são perspectivas favoráveis, mas que poderão ser frustradas por variações climáticas, como ocorreu em 2016, embora as previsões meteorológicas não apontem riscos graves. 

Por outro lado a economia industrial, concentrada no sudeste, mas referência para toda a economia nacional, continuará "patinando" sem forças próprias para uma reanimação. Ademais, uma grande parte do eventual aumento de demanda será suprido por importações, dado o descompasso entre os produtos nacionais e estrangeiros. 

Diversamente do que apregoam os macroeconomistas, o impulso de retomada da economia não será dada pelos investimentos privados, mas pelo consumo privado. O empreendedor privado só retomará os investimentos quando vislumbrar perspectivas sólidas de aumento da sua demanda. Como o setor público perdeu inteiramente a capacidade de investir, a retomada a curto prazo da economia industrial brasileira dependerá do aumento do consumo. E essa só ocorrerá por injeções externas, sejam oriundas da agropecuária, como de exportações da própria indústria.

A esperança de reanimação da economia através de injeção de recursos públicos está na liberação dos recursos inativos do FGTS, cujo volume está estimado entre 40 a 50 bilhões de reais. Terá peso menor do que o será injetado, ao longo do ano pelo agronegócio.

O seu efeito positivo depende do controle da inflação. Para que não seja anulado pelo aumento dos preços.

Com a nova política monetária adotada pelas autoridades econômicas, pode-se prever uma reanimação da economia industrial, mas de forma lenta e gradual, com impacto maiores no segundo semestre de 2017. Mas que poderá ser antecipada pelas injeções dos citados recursos externos. 

Estudos divulgados pelo Santander, estimam o impacto da liberação das contas inativas do FGTS, em 0,4% do PIB. Somado aos impactos do agronegócio, a elevação do PIB em 2017 poderá superar os 2% em relação à 2016, segundo as previsões mais otimistas. A esta altura conservadoras. 



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