A economia brasileira cresceu arritmicamente, com espasmos de crescimento, alternando com estagnações, tornando-se uma das maiores economias mundiais, quando chegou a ter crescimentos do PIB de dois dígitos. Mas em seguida caiu no ranking mundial, com os pequenas variações positivas e negativas.
O último grande espasmo ocorreu em 2010, supostamente como resultado das medidas anti-cíclicas adotadas pelo Governo diante da crise financeira internacional. A partir dai ingressou numa trajetória de estagnação à qual se seguiu uma recessão continuada até 2016.
Onde o Brasil errou?
Os diagnósticos apontam - predominantemente - para as políticas econômicas adotadas pelo Governo Dilma, que assumiu a Presidência em 2011. Mas ela só teria ampliada as ações anti-cíclicas que vinham sendo adotadas com sucesso, para enfrentar a crise financeira internacional, eclodida em 2017 e agravada nos anos seguintes.
Se as medidas promoveram o aumento de mais de 7% em 2010, por que não conseguiram se sustentar nos anos subsequentes?
Deixando de lado as avaliações liberais e focando a economia brasileira, comparativamente com a China e India, colegas da BRIC, sob a lente estruturalista, constato que essas duas vem crescendo continuamente, ao contrário do Brasil.
A força motriz tanto da China, como da Índia tem sido a ascensão dos pobres ao mercado de consumo. É o modelo da emergência da nova classe média, alavancado por recursos externos via exportação. O Brasil seguiu trilha semelhante que não se sustentou. Por que?
Há semelhanças, mas também importantes diferenças. Uma delas é o tamanho da população, o que determina o tamanho do mercado interno.
A China é ainda uma ditadura, dominada pelo Partido Comunista, com alta intervenção estatal, que optou pelo capitalismo do Estado, promovendo a parceria com as multinacionais. A Índia é para os brasileiros, e talvez para o mundo, ainda um mistério. Mas é um país democrático e tem grande resistência em abrigar as multinacionais.
Levanto aqui uma hipótese, ou melhor uma suspeita. A China optou por alavancar a sua economia pelas plataformas de exportação, aceitando a condição de 'barriga de aluguel' - o que o Brasil, na mesma ocasião, não aceitou. E segue resistindo ao modelo industrial exportador.
A força propulsora externa da India é a exportação de serviços. O Brasil optou ou foi levado - pelas circunstancias - a ter nas commodities minerais e agropecuárias a sua principal fonte própria de recursos externos.
Tanto a indústria como os serviços são grandes empregadores de pessoas e com isso um fator multiplicador mais intenso da geração derivada de renda, isto é, a promovida pelos gastos dos trabalhadores incorporados ao sistema produtivo industrial, comercial e de serviços.
As commodities são altas geradoras de renda externa, através das exportações, mas com baixíssima geração de trabalho pessoal, de empregos. Com isso a multiplicação da renda pelos gastos dos trabalhadores foi e segue baixa.
Provavelmente em função dessas circunstancias o Brasil não conseguiu sustentar altas taxas de crescimento.
A opção do Brasil não foi o de gerar diretamente mais empregos para a população de baixa renda, mas transferir a
ela renda através de benefícios monetários. Essa renda não foi dos ganhos com as exportações, mas dos contribuintes da economia industrial então instalada no país.
Essa renda movimentada pelos 'bolsistas' alavancou a emergencia de uma classe média de comerciantes, pequenos industriais, prestadores de serviços, mas o fator multiplicador não se desenvolveu e deixou de ser um fator propulsor do crescimento. O que pode explicar a perda de dinamismo da economia brasileira.
Os setores de commodities não destinaram os seus ganhos para a multiplicação da renda, direta ou indiretamente. Ao contrário. Obtiveram desonerações tributárias e subsídios governamentais.
A incompreensão dessa dinâmica, seria a causa estrutural da derrocada da economia brasileira.
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