sábado, 23 de novembro de 2013

As consequências do leilão dos aeroportos

O Galeão vai voltar a ser a principal porta de entrada e saída internacional do Brasil.
Essa é a meta dos vencedores da concessão, o que explicaria o ágio pago para ficar com esse aeroporto.
Quando grupos, com a participação de operadores internacionais, arremataram os dois aeroportos internacionais de São Paulo, sobrou apenas a oportunidade de um grande operador vir a disputar a concessão do Galeão, para retomar a sua posição de principal hub sulamericano.

A disputa acirrada pelo Galeão, significa que a disputa verdadeira será com o Estado de São Paulo, com os seus dois aeroportos: Guarulhos e Campinas.
Com relação aos cargueiros, dificilmente o Galeão terá condições de concorrer com Campinas. Essa disputa será entre Viracopos e Confins, com grande vantagem para a primeira. Já a carga que chega nos porões dos aviões de passageiros entra como elemento adicional da concorrência dos voos internacionais que será acirrada.

Diversamente do que se imagina ou se difunde, a concorrência primária não está na conquista do viajante. Este tem, primeiramente, a opção do destino e depois da oferta e disponibilidade e oferta do voo, dentro das datas e horários desejados. Em torno dessas condicionantes ele poderá escolher a Cia, o voo e o local de embarque/desembarque, segundo o melhor preço. Com um dado adicional: a antecipação da compra.

Para efeito de voos intercontinentais São Paulo e Rio de Janeiro estão muito próximos. Companhias aéreas com grande frequência terão voos, embarcando ou desembarcando, nos dois aeroportos. Aqueles com frequência menor escolherão um deles, promovendo a distribuição da origem ou destino final por viagens domésticas ou mesmo continentais mais curtas. 

O Galeão, nos tempos em que se voava ao exterior pela Varig ou "nas asas da Panair" era o principal aeroporto brasileiro e os paulistas tinham que sair de Congonhas para pegar o avião no Galeão, e vice-versa.

Viracopos era uma opção restrita. A coisa mudou com Guarulhos: um novo aeroporto internacional, supostamente moderno para a época, atendendo o principal centro emissor de turistas. Guarulhos atraiu a quase totalidade das cias aéreas internacionais que, abandonaram o Galeão. Com a perda de passageiros e de frequências o Governo também despriorizou a sua atenção com o aeroporto. 

O que vai acontecer no futuro, pouco tem a ver com as projeções lineares do que ocorreram nos últimos anos. Se assim fosse, Odebrecht e Changi não teriam proposto o nível de ágio, com o qual levaram a concessão.

A Changi tem muito mais credibilidade que as menos conhecidas operadoras de Guarulhos e de Viracopos, junto às Cias aéreas internacionais.

A concorrência junto aos viajantes não é entre os aeroportos, mas das Cias aéreas internacionais na conquista daqueles. O aeroporto é um dos elementos que irão influir na escolha, mas não o principal.

Três são as categorias  a partir do qual pode se segmentar o mercado dos viajantes internacionais: a nacionalidade, dividido entre o nacional (que primeiro embarca e depois volta ao país), o estrangeiro (que primeiro desembarca e depois embarca para voltar); o o motivo da viagem (negócio ou ócio); a origem inicial ou destino final.

Começando pelo terceiro, todos aqueles que não tem como origem ou o destino da cidade onde está o aeroporto tem que se deslocar até o aeroporto do embarque ou desembarque internacional. Hoje o principal "hub" para onde se deslocam os brasileiros que não moram em São Paulo, incluindo o Rio de Janeiro, é Guarulhos. 
Os operadores do Galeão entrarão em grande disputa para levar o hub nacional dos voos internacionais para o seu aeroporto. Para isso o seu alvo não são os viajantes, mas as Cias. Aéreas.
Esses viajantes, de toda forma, são um público complementar, sendo o principal os que se destinam à própria cidade.

Para as Cias. Aéreas o mais importante é demostrar, e comprovar, que a própria cidade é o principal emissor e receptor dos viajantes.

Do ponto de vista dos turistas saintes, São Paulo é e continuará sendo o principal polo emissor, por conta do poder de compra. Dentro dessa visão, Brasília deve ser um grande centro emissor, mas não tem condições de ser um "hub" internacional, obrigando os seus viajantes a ir a São Paulo ou Rio. A duração da viagem é praticamente a mesma.

Em relação aos entrantes, o Rio de Janeiro leva a vantagem de receber tanto os turistas de negócios como os do ócio (lazer, contemplação - sol e praia- , eventos, etc). São Paulo é destino preferencial do turismo de negócio, mas não tem atrações para as demais categorias. 

São Paulo é o principal centro de negócios sul- americano, sediando as filiais ou sucursais das multinacionais que atuam no Brasil, assim como o centro financeiro. Mas é uma economia com perda de vitalidade em função da estagnação da sua produção industrial, que vem perdendo competitividade internacional. A indústria automobilística que foi um dos seus principais suportes está se descentralizando e a produção fora de São Paulo, se não é, será maior que a de São Paulo. Mesmo em São Paulo há uma descentralização a favor do interior em detrimento da Região Metropolitana.

A grande aposta do Rio de Janeiro é o petróleo do pré-sal, apesar das maiores reservas estarem na Bacia de Santos.


A denominação leva a equívocos que os homens (e mulheres) de negócios não se deixam levar. A Bacia de Santos, começa no Rio de Janeiro, onde estão os principais campos já confirmados, começando por Libra.
Libra fica em frente à cidade do Rio de Janeiro e não em frente da cidade de Santos, mais distante.


O gerenciamento principal das atividades da Petrobrás na Bacia de Santos continuam, e continuarão, no Rio de Janeiro, de tal forma que os negócios serão tratados no Rio de Janeiro e não em São Paulo ou em Santos.


As grandes empresas da cadeia produtiva do petróleo & gás estão instaladas no Rio de Janeiro. A parte industrial está em Macaé em Niteroi e adjacencias, incluindo Itaborai, onde está sendo instalado o Comperj.  

O grande centro de pesquisas está ao lado do Cenpes da Petrobrás e próximo ao aeroporto do Galeão (ao fundo na foto). 


São Paulo vai ficar com as sobras e a ilusão de que a Bacia de Santos é de São Paulo. 

O turismo de negócios no Rio de Janeiro será fortemente ascendente e o paulista tende ao enfraquecimento.

A grande esperança de São Paulo é sediar a Expomundial 2020, implantar o seu novo centro de exposições e convenções e seguir como o principal local brasileiro para Congressos Internacionais e outros eventos. 

A concorrência entre o Galeão e Guarulhos será acirrada, uma briga de "cachorro grande", na qual os pobres cachorrinhos terão que se submeter às decisões dos grandes. 

2 comentários:

  1. Grande Jorge, permita-me discordar em parte. A Odebrecht e seu parceiro erraram na mão e deixaram 3 bilhões na mesa. Erro estratégico. Para garantir retorno do investimento agora, tentarão como voce bem diz, tirar as cias aéreas de GRU. Mas GRU ano que vem terá o T-3 e as melhorias previstas para receber os A-380 e Jumbo 747-8 enquanto que o Galeão demorará para ter estas melhorias. Eu li declaração de executivo da Odebrecht onde projeta em 25 anos volume de 80 milhões de passageiros/ano. Hoje são 6 milhões. É desafio grande, diria dificílimo. Viracopos está no páreo, o que vai dificultar ainda mais este desafio.Confins nesse caso é mais viável em termos de retorno . Apostar em Libra, é uma temeridade. Não sabemos ainda quando as operadoras do campo conseguirão tirar uma quantidade de petróleo viável. Pode demorar uns 10 anos. São Paulo pode estar perdendo força no campo industrial mas está cada vez mais se fortalecendo no setor serviços o que irá manter um crescimento razoável do movimento de "business passengers" por aqui. A única vertente para crescimento do Galeão mais a curto prazo será o turismo de lazer. É briga de cachorro grande mas o pessoal do Galeão tem concorrentes fortíssimos. Não será fácil.

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  2. E, no frigir dos ovos, quanta atenção esta sendo dada ao acesso, particularmente metro/ferro viário a estes e outros aeroportos?

    Suspeito que este fator que faz parte, importante, da equação. Que seja do meu conhecimento, os acessos no Rio de Janeiro e São Paulo aos aeroportos mencionados, é precaríssimo.

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