terça-feira, 26 de agosto de 2014

Govvernar e gerenciar

No âmbito empresarial há uma diferença entre gerir e gerenciar, mesmo ocorrendo uma grande área cinzenta entre os dois.
A gestão está relacionada com a missão atribuída à empresa pelos seus acionistas ou donos, contemplando a eficácia e os resultados ao longo de vários anos e não apenas o curto prazo.
O gestor é responsável pelas estratégias, pelos investimentos e pelos relacionamentos com os agentes externos. É também responsável pela escalação do time gerencial. Pode ter o apoio de um Conselho de Administração. Esse pode assumir o papel de gestor, quando a empresa tem diversos sócios em condições de força e participação iguais.

A operação no dia a dia da empresa cabe a um gerente geral - qualquer que seja a sua denominação - trabalhando com subgerentes e com as equipes executoras das tarefas.
Existem vários modelos atuais de organização e gerência de empresas, mas a espinha dorsal é a função gerencial de orientar, determinar e cobrar a equipe. O gerente tem como principal atribuição ajudar a sua equipe "funcionar". Nesse sentido o estilo "mandão" está ultrapassado.

No âmbito público o gestor é eleito diretamente pelo povo e cabe a ele a função indelegável de governar. Tem correspondência com as atribuições de gestão empresarial.

Como governante ele pode assumir também as funções de gerência, mas não obrigatoriamente. Essas funções são delegáveis.

No presidencialismo há uma tendência de confundir as duas funções. Supõe-se que seria diferente do parlamentarismo, o que não é: o primeiro ministro deve ser também um gestor, um governante.

O Brasil viveu com Lula uma situação de separação das atribuições, ainda que de forma híbrida ou incompleta. Lula foi um político, voltado exclusivamente para a gestão, para o governo, pouco ou nada cuidando da gerência da máquina administrativa federal. Num primeiro momento, essa função coube ao chefe da Casa Civil, que não se contentava em gerenciar, mas tinha pretensões de gestão. 

Com a sua saída, a divisão de atribuições ficou melhor definida. Lula cuidava do governo (ou gestão) e Dilma da gerência. 

Com a eleição de Dilma, as coisas voltaram a ficar embaralhadas: ela não tem vocação, tampouco gosto por um modelo de governo de coalização, que requer um enorme gasto de tempo com o relacionamento direto com as lideranças no Congresso e ficou voltada para a gerência das ações federais. Porém com um modelo centralizador, de baixa eficácia. 


O mais grave é que Dilma, com o seu ultrapassado estilo gerencial  "militar" (manda quem pode, obedece quem tem juízo) resultou na formação de uma equipe de auxiliares medíocres e subservientes, mais interessados em usufruir dos cargos do que cumprir as suas missões. Não fossem as questões políticas Dilma Rousseff - como dirigente empresarial - estaria sofrendo inúmeros processos trabalhistas por assédio moral.

Agora com o crescimento de Marina Silva nas pesquisas, questiona-se a capacidade de gestão e gerencial dela, argumentando até a falta de experiência administrativa. O que não corresponde à realidade. Ela tem uma vasta experiência, embora setorializada como Ministra do Meio Ambiente de Lula. Comandou o Ministério com a divisão de atribuições com o seu Secretário Executivo, esse com as funções gerenciais. 

Tem também experiência política, pois diferentemente de Dilma que chegou à Presidência na sua primeira eleição, Marina Silva foi eleita várias vezes pelo Acre.

Marina Silva, ao dizer que o Brasil não precisa de um gerente na Presidência da República está certa. E a contestação de Dilma, baseada na sua experiência pessoal está equivocada. Aliás um equívoco que comprometeu o seu mandato, colocando em risco a sua reeleição.

O problema é que Marina Silva tem um estilo semelhante ao de Dilma, sendo uma mandona e com laivos de fundamentalismo. Acha que está certa e, embora não seja infensa ao diálogo, é difícil de ser convencida. Mas, aparentemente, a convivência com Eduardo Campos e ensinou ser mais tolerante e menos "xiita".

Em função do seu estilo, o risco é dela ser tentada também a gerenciar e não se dedicar a governar. O governar não está apenas nas políticas públicas e nas estratégias, mas no diálogo com as demais forças políticas. Ela, provavelmente, não conseguirá eleger uma bancada forte que lhe assegure uma base parlamentar. Terá que negociar permanentemente, sem concessões à velha política. Ou seja, sem lotear os cargos da Administração Federal. Mas, por outro lado, não poderá ter uma equipe exclusivamente tecnocrática. 

Outra diferença de Marina Silva em relação à Dilma é que embora ambas tenham o estilo do mandonismo e da centralização (que em geral estão sempre juntos) aquela não é autossuficiente na economia e na infraestrutura. Dilma é a Presidente, a Ministra da Economia, a Ministra da Infraestrutura e da Habitação e de outros Ministérios setoriais que ela acha que entende em função da gerência do PAC.
Só não se dispõe a ser Ministra do Meio Ambiente, porque não gosta da área. 

Do ponto vista da função gerencial Dilma já demostrou e tende a ser uma má gerente, com a incompreensão da evolução conceitual e tecnológica da função. Marina é uma incógnita, mas os seus primeiros passos ao assumir a candidatura foram desastrosos.

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