segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Duas vitórias fundamentais

Dilma foi eleita com uma margem da ordem de 3,5 milhões de votos, em âmbito nacional. Embora relativamente pequena, mais que suficiente para não deixar qualquer dúvida sobre a sua retumbante vitória.
A reeleição pode ser creditada a duas grandes vitórias regionais, que anularam as derrotas menores em outras regiões (exceto São Paulo): Pernambuco e Minas Gerais.

Em Pernambuco ela perdeu no primeiro turno para Marina Silva. Aécio teve uma votação pífia. Sem Marina, no segundo turno, Aécio buscou o apoio dela e da família de Eduardo Campos. Mas ai entrou em cena Lula e garantiu a transferência dos votos de Marina para Dilma. Em Pernambuco ocorreu a maior das diferenças, dentro dos Estados do Nordeste, a favor de Dilma. Lula anulou o apoio da família Arraes-Campos.
Pernambuco, juntamente com a Bahia e o Ceará tem os maiores colégios eleitorais e está carente de lideranças fortes. Na Bahia Jaques Wagner tem o comando e demonstrou competência ao eleger o seu sucessor. No Ceará os irmãos Gomes dominam. Neste, Tasso Jereissatti ainda tem alguma força, mas é só. Na Bahia o PSDB não tem força. Está aliado a ACM Neto que ainda tem os resquícios eleitorais do avó.

Pernambuco terá que reconstruir o seu quadro de lideranças e a família Arraes-Campos terá que cuidar muito bem do seu posicionamento nos próximos 4 anos, para garantir a manutenção do Governo Estadual e enfrentar Lula (se for o caso). Tem novas lideranças, mas sem projeção nacional. Paulo Campos e Geraldo Júlio podem emergir nacionalmente. Mas a perspectiva futura é João Campos.

Aécio terá que promover a reconquista de Minas Gerais e ter um candidato forte para o Governo do Estado, para concorrer com Fernando Pimentel. Poderá ser Anastasia, que já foi eleito Governador uma vez e agora se elegeu Senador. Mas precisará avaliar muito bem as razões da sua derrota em Minas Gerais, o que levou à derrota geral.

E ai não foi Lula, nem Dilma. O responsável pela derrota foi ele mesmo. Por erros de diagnostico e de estratégias. Por autossuficiência, abandonando a campanha em Minas, para se dedicar a São Paulo. Em São Paulo  ele tinha bons apoios, em Minas não. 

Não percebeu a estratégia bem formulada por João Santana e executada por Dilma de desconstrução da sua imagem em Minas Gerais. A partir do episódio do aeroporto de Claudio, toda estratégia de desconstrução foi vender a imagem de que o povo mineiro fora enganado: ao aprovar e reelegê-lo Governador e depois Senador. Ele não seria o que queria mostrar. E ai ele mesmo ajudou a estratégia adversária ao colocar gravações de Dilma o elogiando.  Ela disse que foi por generosidade e ela mesmo foi enganada. Deixando implícito que os demais mineiros também o tinham sido. E já teriam descoberto isso no primeiro turno.

Quando ela insistiu em levar as questões de Minas para os debates, não era porque queria disputar o Governo de Minas, mas porque queria conquistar os votos dos mineiros para Presidência. 

Procurou grudar (e conseguiu) a imagem da velha política, voltada ao nepotismo. A família é um grande valor cultural do mineiro. Mas o seu favorecimento quando governo vem se tornando um fator negativo. Aécio não percebeu  mudança. Sarney sim, embora também tenha sido derrotado no Maranhão, mas manteve-se no Amapá.

Aécio e sua turma não perceberam a estratégia de Dilma/ Santana e ai perderam a eleição. Precisavam de uma vantagem de 2 milhões de votos em Minas Gerais. Perderam por 500 mil. Invertendo esses e mais 1,5 que não conseguiram, teriam uma vantagem numérica de 4 milhões (pois cada voto a favor e também um a menos para o adversário), suficiente para vencer.

Aécio perdeu por erro estratégico, apesar de todos os alertas. Não pode por a culpa em ninguém, a não ser nele mesmo.

Mas como  bom mineiro tem que acreditar que se perdeu o trem, vai esperar pelo próximo que vai passar e subir nesse.

Ele será o candidato natural do PSDB em 2018 ou 2019. 2018 se for mantida a reeleição e 2019 se alterado o regime. O mais provável é a eleição em 2018, sem direito à reeleição.

O PT não tem muitas alternativas e irá buscar Lula, para o projeto de poder dos 20 anos. Mas ambos terão que enfrentar Marina Silva e eventual nova liderança emergente. 

O PSDB, mais uma vez derrotado, terá que se reorganizar em torno das eleições municipais de 2016. Em Minas Gerais são mais de 800 Municípios, e sem formar uma boa base municipal perderá de novo.

O PSDB caiu na armadilha estratégica do PT e de João Santana. Eles fizeram um grande fogo de barragem para que o PSDB focasse o Sudeste e acabassem por desprezar o eleitorado do Nordeste, conquistado facilmente, pelas hostes petistas. 

E mais, que Aécio descuidasse de Minas, certo de que levaria "com os pés nas costas", não percebendo claramente o processo de desconstrução de uma imagem de confiabilidade.  As respostas de Aécio foram burocráticas, e não estratégicas. 

Dilma ganhou em Minas e com isso a eleição nacional. 

Foi mais um caso de derrota do outro do que a sua vitória. 

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