terça-feira, 25 de novembro de 2014

Mudança ou concessão: o sentido da escolha de Joaquim Levy

Dilma tem convicções arraigadas em relação a governar o Brasil. O seu projeto é prioritariamente social e tem por objetivo um país sem miséria,  menos desigual, com maiores oportunidades de trabalho para os mais pobres e geração continuada de empregos formais, entre os principais pontos. Avançou nesse sentido, no seu primeiro mandato, mas ainda insuficientemente, em detrimento do crescimento econômico e do controle da inflação. Gastou mais do que devia, não gerando um superavit primário (porque não o considera prioritário) e promoveu desonerações tributárias ineficazes. Não conseguiu sustentar  o crescimento econômico e foi gastando as reservas de geração de empregos. 


Em 2014 vai ter ainda um resultado positivo, mas em grande declínio em relação aos do Governo Lula. Vai retroceder aos padrões do Governo Fernando Henrique Cardoso.
Mais uma vez vai cumprir os objetivos que atribuía à oposição: o retrocesso aos anos pré-PT.

Como o seu objetivo é um Brasil socialmente mais justo e, acredita que os fins justificam os meios, a política econômica é percebida e considerada por ela apenas como meio. O mais importante, para ela é uma política econômica que gere mais empregos formais. O resto, variação cambial e resultados das contas externas, inflação, superavit primário e outros indicadores prioritários da visão néo-liberal seriam irrelevantes. Segundo essa visão ela está conduzindo a política errada e precisaria mudar. Não corresponde à visão particular dela.

Como ela precisa do mercado, ou mais especificamente dos empresários produtores, aceita fazer concessões, adotando política econômica que acalme ou satisfaça o mercado, desde que isso resulte em crescimento dos empregos formais.

Portanto, a escolha de Joaquim Levy, indicado pelo Bradesco, como uma solução híbrida, mas bem aceita pelo mercado, não é uma mudança nas suas convicções, mas uma concessão temporária.

Concessão forçada por Lula, que defende a estratégia por ele mesmo realizada nos seus primeiros anos de Governo. Levou para o Ministério da Fazenda, Antonio Palocci, um médico que não entendia de economia, mas era bom de papo com os empresários e montou uma equipe técnica, aproveitando bons técnicos que já estavam nos quadros do Governo, entre eles Joaquim Levy, com uma formação ortodoxa, incluindo um período no FMI.

Os empresários não banqueiros que nunca haviam sido atendidos por Pedro Malan, que só conversava com banqueiros, ficaram satisfeitos em serem atendidos pelo novo Ministro, embora saíssem das reuniões apenas com as boas impressões. Foram produzir e investir, que era o que queria e precisava o Governo.

A estratégia agora é parecida, mas com nuances diferentes.

Palocci tinha o papel de dialogar,com o setor privado, a política monetária era conduzida pelo Banco Central e a política econômica por Murilo Portugal, chefiando uma competente equipe técnica que tinha Joaquim Levy na Secretaria do Tesouro. O seu papel foi manter em ordem as finanças públicas, que na ocasião não estavam desorganizadas, mas corriam o risco de ficarem, com a gastança do PT. 

Sempre foi o Secretário da Tesoura e diante das pressões para "abrir as burras do Tesouro" preferiu "cair fora", junto com Palocci, conseguindo ser indicado para uma direção do BID, como saída honrosa e depois foi ser o Secretário da Fazenda de Sérgio Cabral, com a missão de "por a casa em ordem". Conseguiu e ai saiu para o setor privado, para ser um bancário bem sucedido. 

Se Aecio tivesse sido eleito e Armínio Fraga o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy seria o principal candidato a voltar para a Secretaria Nacional da Tesoura (oops), do Tesouro.

Como Ministro da Fazenda será o Ministro da Tesoura, irá controlar os gastos, refazer o superavit primário, restabelecer a confiança do mercado e ai, mais uma vez, cumprida a missão "vai cair fora". Pode ser um ano, no máximo dois.

Dilma não quer, não gosta mais "vai ter que engolir". Até porque precisa do PSDB ou dos neoliberais no Governo durante o primeiro ano, para colocar a casa em ordem, para ela poder retomar o seu projeto social no período restante.

Ela está disposta a engolir esse sapo. O PT não, mais vai ter que engolir (como dizia Zagallo). 

A missão de Joaquim Levy é penosa, mas ele é do ramo. E vai conseguir resultados. Talvez não inteiramente mas pelo menos vai restabelecer o superávit primário e a credibilidade do Governo junto ao mercado financeiro. 

Já a geração de mais empregos formais não será a sua prioridade. 

As dificuldades maiores decorrerão da crise desencadeada pelo "petrolão" que irá paralisar temporariamente os investimentos em infraestrutura.

A construção civil não será um foco de geração de empregos. Ao contrário, poderá ser uma fonte indesejável de extinção de postos de trabalho.

2015 será um ano de crises e de ajustes. 


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