domingo, 2 de agosto de 2020

Mudanças estruturais na cadeia produtiva do saneamento

Com a atualização do marco legal do saneamento, visando a maior participação privada na cadeia produtiva, essa deverá consolidar tendências de mudanças em curso, antes mesmo da pandemia do coronavirus e da aprovação da atualização do marco.
As primeiras concessionárias privadas de saneamento, da fase atual, foram formadas pelas construtoras de obras de infraestrutura, interessadas mais na execução de obras, do que na operação. 
Assumindo as concessões foram obrigadas a cuidar da operação e algumas se "descolaram" da construtora, passando a ser gestoras e operadoras, algumas vendidas a fundos de investimentos: a primeira concessionária foi uma subsidiária da Construtora Camargo Correa, que depois saiu do setor. A AEGEA foi formada pela Equipav, asssoiada a outras empresas, a .... foi criada pela Galvão Engenharia. Foi assumida pelo grupo financeiro ... sendo denominada Iguá. O principal grupo de concessionárias de saneamento foi criado pelo Grupo Odebrecht, que, alcançada pelas Operações Lava-Jato, vendeu para os fundos de investimentos liderados pela Brookfield, sendo transformada em BRK Ambiental. Além delas estão presentes no mercado a G5 Inima, Águas do Brasil e outras menores. 
As principais concorrentes que vão disputar as maiores concessões de saneamento serão grupos controlados por fundos de investimentos, as concessionárias ainda controladas por empresas de engenharia que se consolidaram no mercado e, eventualmente, as concessionárias estaduais, que tem grande participação acionária de invetidores privados.
Tenderão a ser organizadas como corporações, sem um acionista predominante e com capital diluido. 
Esses grupos ou empresas priorizarão os resultados econômicos, fundamental para manter o interesse dos acionistas e levantar recursos do mercado para as suas expansões. 
Terão que compatibilizar os interesses econômicos, com as obrigações sociais, impostas pelo Poder Concedente, e pelas políticas nacionais voltadas para a universalização do atendimento, o que implicará em despesas sociais, com baixo retorno econômico, ou até  resultados negativos.
A gestão das concessionárias de saneamento estará voltado para a racionalização dos gastos do Opex e uma minimização do Capex, reduzindo os custos do financiamento do capital, depreciação e amortização.
Para isso precisarão contar com uma boa engenharia. Para tal, não estando associada a um grupo de engenharia, buscarão escolher as melhores empresas, as que possam atender melhor aos seus objetivos de rentabilidade e de atendimento, dentro do mercado mundial, em regime concorrencial.
Para isso a tendência será a contratação integrada, em regime "turn-key" ou similar. O que será contratado não é um projeto de engenharia ou uma obra, mas um desempenho que o investimento deverá proporcionar em termos de retorno econômico.
É uma visão bem diversa do gestor público que, precisa atender ao seu chefe político que é o responsável pela sua designação para o cargo. Os tempos são comandados pelos calendários politico-eleitorais.
Os tempos para as concessionárias privadas serão comandados pelo fluxo de caixa, com interesse em antecipar o início dos retornos, através da prestação dos serviços e cobrança pelos mesmos.
As empresas de engenharia para atender às necessidades e objetivos das concessionárias privadas precisarão se reestruturar, cada grupo ou empresa desenvolvendo um espectro mais amplo de serviços e não como empresas especializadas em segmentos da cadeia produtiva, como ocorre atualmente no mercado dos empreendimentos de saneamento, em decorrência da prevalência das concepção públicas de controles cruzados.
As empresas de engenharia para atender às concessionárias privadas deverão estar mais próximas do modelo das empresas de engenharia industrial, do que do modelo das empresas de construção pública.
Elas deverão contemplar a atividade de engenharia ("design and engineering"), de especificação, avaliação do mercado de fornecedores e - eventualmente - a compra dos equipamentos e sistemas ("procurement") e o gerenciamento da construção, seja civil, como métálica, elétrica e outras, podendo - eventualmente - assumir diretamente alguma dessas funções. 
Com a atualização do marco legal do saneamento viabilizando mais a participação das empresas privadas como concessionárias dos serviços públicos de água, esgotos e resíduos sólidos, as empresas de engenharia do setor precisarão mudar o seu modelo de negócio. As mais atingidas pelas mudanças deverão ser as empresas de projetos. 

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