quarta-feira, 29 de abril de 2015

Rumos estruturais do Brasil

A maioria dos diagnósticos sobre a atual crise brasileira convergem para a interpretação de que o Brasil, com os governos do PT, basearam o crescimento econômico na expansão continuada do seu mercado interno. Esse modelo ou rumo se esgotou, com graves sequelas de mau uso dos recursos públicos e alto endividamento, com pesados encargos financeiros em função dos juros elevados.

O ajuste fiscal tem por objetivo combater as sequelas, porém sem intervenção direta sobre os rumos estruturais. A visão "néoliberal" é de que isso ocorra naturalmente pelas forças do mercado. (o que é um equívoco, pois todos os Estados Nacionais, interferem, de uma forma ou outra no modelo e rumos estruturais da economia do país).

De toda forma, o Estado Brasileiro, no momento atual, com a necessidade de ajuste fiscal, não tem condições de intervenção direta nos rumos estruturais da economia brasileira, que terá que seguir segundo "as forças do mercado". As intervenções indiretas estão na taxa de juros, como principal instrumento de combate à inflação, e na liberação do câmbio, represado - no modelo anterior - como um instrumento de combate à inflação.

Embora de forma não explícita o Brasil seguiu a receita também não explicita do "Reaganomics" de transferir a produção industrial dos bens de consumo dos norte-americanos para os países  asiáticos, principalmente a China, para tê-los mais barato, trazidos e distribuidos principalmente pela Walmart.
E fez isso, com aumento do endividamento do Tesouro Norte-Americano, para pagar as crescentes importações.
Com isso combateu a inflação, barrou aumentos salariais dos trabalhadores e promoveu a desindustrialização dentro dos EUA. Este processo está sendo revertido, com a reindustrialização norte-americana e controle da inflação pelos mecanismos monetários e não estruturais.

Valendo-se da produção agro-industrial, mineral e da crescente demanda das commodities pela China, gerando divisas, o Brasil seguiu - em escala menor - esse modelo de crescer através do mercado interno, e usar o câmbio controlado para as importações mais baratas.

Tanto o modelo original norte-americano, como o brasileiro se basearam numa componente, pouco percebido de que os serviços e o comércio agregado ao produto industrial barato, gera mais empregos do que aquele. Ou seja, a perda de emprego industrial é mais que compensado pelo aumento dos empregos no setor terciário. E com isso, mesmo com a desindustrialização, há uma sustentação da geração de empregos e os índices de desemprego ficam baixos.

A principal mudança estrutural não decorre do ajuste fiscal, mas da mudança no cenário internacional amplo, com a China perdendo exportações, ficando cada vez mais dependente da dinâmica do seu imenso mercado interno, cujas taxas de crescimento são relativamente menores do que os promovidos pelas suas exportações. Essa desaceleração de crescimento da economia chinesa afeta os volumes e preços das commodities, afetando diretamente a geração de divisas, aumentando o dólar e reprimindo as importações dos produtos mais baratos de consumo.

O comércio internacional das commodities brasileiras  sustenta o nível anterior da economia, mas não tem o poder de  alavancar o crescimento. Gera divisas, mas pouco empregos o que significa pouco efeito induzido, ou seja, a movimentação da economia, pelas compras dos trabalhadores. O crescimento do setor terciário está interativamente relacionado com a expansão do consumo interno. O que vai afetar o crescimento, estagnação ou recessão é ainda a produção industrial, com três alternativas básicas de mercado:

  • o mercado nacional e dos países vizinhos;
  • o mercado externo das empresas nacionais de cada mercado;
  • o mercado externo das multinacionais com presença produtiva no Brasil.
O mercado nacional e da vizinhança está enfraquecido e não tem, conjunturalmente, condições de alavancar um crescimento industrial e geral. 

A expansão das exportações das empresas nacionais brasileiras, para empresas e mercado nacional em outros países está sendo favorecido pela melhoria do câmbio estimulando essas empresas a aumentarem as exportações, com apoio do Governo Federal. Como muitas empresas industriais deixaram de exportar, pela condições desfavoráveis, a retomada será demorada. As novatas que precisam difundir a sua marca e organizar a sua rede logística e comercial, o tempo de maturação será ainda maior. O crescimento das exportações industriais para o mundo fora a vizinhança, só deverá tomar impulso em 2016 e anos subsequentes, podendo-se consolidar, desde que o Brasil não volte ao "stop and go", caindo de novo na tentação de conter as variações cambiais.

O rumo alternativo, com possibilidade de ampliar as exportações, tanto a curto prazo, como a médio e longo prazos está em aceitar a opção, sempre recusada, de tornar o Brasil um território hospedeiro de indústrias globais, envolvendo as plataformas de exportação.

Parte significativa do comércio exterior ocorre intrafirmas. São movimentos feitos por multinacionais de uma subsidiária a outra, ou com a própria sede. Não dependem de ações de marketing, tampouco do investimento próprio em logística e comercialização. Usam os sistemas já existentes. A Volkswagen importa o Jetta do México e o vende pela sua rede de distribuição nacional, junto com outros modelos produzidos no Brasil. O que vale é marca e não o local de fabricação. A Ford manda o Ecosport para o México, onde é comercializado pela rede nacional. 

As multinacionais são bem vindas ao Brasil para abastecer o mercado interno, com produção nacional, mas não são acolhidas se quiserem fazer do Brasil uma plataforma de exportação. Por decisão governamental, com apoio da sociedade. 

Mudança fundamental de rumo estrutural do Brasil está em tornar-se um grande supridor mundial dentro das redes das multinacionais.

Não é uma simples mudança de lado da chave. Envolve diversas implicações, positivas e negativas. Mas deve ser amplamente discutida. 

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