quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Vazio de novas lideranças políticas

Com a redemocratização emergiram lideranças políticas, principalmente a partir de grupos de resistência que combateram pacificamente a ditadura. Duas efetivaram uma carreira como novas lideranças políticas: Mário Covas e Lula. 
O primeiro teve como companheiro o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, com menor liderança política, mas com maior popularidade e capacidade de conquistar votos. Lula decidiu seguir uma carreira solo de liderança política, com grande capacidade pessoal de conquista de votos.
FHC e Covas se organizaram partidariamente, reunindo velhos companheiros de luta, mas pouco cuidaram da formação de novas lideranças social-democratas. Lula, em função do seu prestígio politico-eleitoral pessoal, promoveu a ascensão de tecnocratas petistas, sem força eleitoral própria. Supostamente para não virarem seu concorrente. Acabou por inibir a emergência de novas lideranças no campo da esquerda. Não conseguiu evitar a emergência de uma nova liderança - ainda que de base tradicional - e saída do seu campo, em Pernambuco, mas uma tragédia o eliminou.
No campo ideológico oposto, Antonio Carlos Magalhães ocupou o espaço aberto e se associou a FHC e seu partido, segundo uma perspectiva de assumir mais diretamente o poder com o seu filho Luis Eduardo Magalhães. Também a morte precoce deste abortou o projeto, deixando a Lula a hegemonia política.
Esse domínio politico do lulo-petismo, contaminado pelo vírus da corrupção e maus resultados na economia e no combate à desigualdade social, gerou um cansaço da população, como um todo, promovendo a eleição de um "salvador da Pátria", do campo da direita. Jair Bolsonaro é a outra face da moeda com Lula. Com grande popularidade pessoal, não forma ou promove novas lideranças. 
Entre os extremos do lulismo e do bolsonarismo fica um enorme espaço central, disputado por inúmeros candidatos, mas poucos com capacidade de reunir articulação política e apoio popular.
A condição básica do político é ter votos próprios. Político não é aquele que gosta, discute ou estuda política. Político é aquele que vai atrás de votos. Come poeira e cuscuz (várias vezes por dia), sobe em caixote ou palanque para fazer discursos, distribui santinhos, etc. 
Com a evolução tecnológica muitos não políticos acreditam que podem angariar votos mediante programas de rádio, televisão, ou através das redes sociais, sem o conhecimento presencial dos eleitores, e vive-versa: sem ser conhecido "em carne e osso" pelos seus eleitores.

Neste vazio de lideranças, remanescem ainda velhas lideranças, emergência de poucos novos e "outsiders".

Das velhas lideranças com grande densidade eleitoral própria, tirando Lula e Bolsonaro, sobra apenas Ciro Gomes. 
A opinião publicada incensa alguns nomes promissores, mas sem suficiente densidade eleitoral nacional, como Flávio Dino.
Entre os novos há indícios de novas lideranças politico-eleitoral no Rio Grande do Sul e no Nordeste.
No Rio de Janeiro, Witzel tenta emergir, com base na sua crença pessoal de que sua política de segurança, lhe dará votação nacional.
João Dória após uma bem sucedida campanha eleitoral em 2016, como base no mote "João Trabalhador", irrigou fartamente a sua campanha para Governador, utilizando recursos financeiros próprios. Usa e abusa do marketing pessoal, para se manter visível, perante o eleitorado, mas corre o risco de perder fôlego na maratona em que só percorreu 1/4 do percurso.

Uma liderança discreta, mas que poderá emergir, nos próximos anos, em função do sucesso do agronegócio brasileiro, lider do setor, é a Ministra da Agricultura, Teresa Cristina, à medida que consiga reverter a imagem negativa do Brasil, no mundo, em relação ao meio ambiente: missão quase impossível.

Entre agora novatos, três políticos emergem com atuação e visibilidade nacional, mas ainda sem densidade eleitoral nacional. Poderão passar pelo estágio estadual, em 2022: Tábata Amaral (SP), Felipe Rigoni (ES) e Marcel Van Hatten (RS). 

A opinião publicada acredita no potencial eleitoral de Sérgio Moro, embora ele nunca tenha disputado uma eleição direta e nem se mostre muito disposto a tal. 

Acredita na viabilidade eleitoral de Luciano Hulk, um apresentador de programa popular de televisão, supondo que ele seria capaz de transformar a sua popularidade pessoal em voto. Não é uma liderança política autêntica, embora possa vir a ser.

Neste vazio de lideranças políticas Jair Bolsonaro reina soberano, mas até 2022 o caminho é longo e muita coisa pode acontecer. 


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