sábado, 31 de janeiro de 2015

Novas estratégias da Petrobras

A Petrobras está sob fogo cerrado.
Ela mesma reconhece a ocorrência de irregularidades em contratações o que requer a correção de valores dos ativos registrados na sua contabilidade, assumindo a ocorrência de superfaturamentos e, sobrevalorização dos mesmos.

As correções não são simples. Determinar o superfaturamento dependeria de confissões dos contratados dos valores adicionais, com o compromisso de devolução. Isso dificilmente irá ocorrer, apesar do instrumento da delação premiada, e mesmo que viesse a ocorrer não seria imediata e a Petrobras já estava atrasada na divulgação do seu balanço trimestral referente ao terceiro trimestre de 2014. A auditora se recusa a firmar o seu relatórios sem as devidas ressalvas. A Petrobras não aceita as ressalvas propostas pela auditora.A Price, como boa parte da sociedade quer saber o montante dos desvios. Já estão começando a perceber que será inviável. 

De toda forma, as tentativas de apuração já estão demonstrando que as perdas com os erros estratégicos são muito superiores ao dos desvios por corrupção. 

Uma alternativa usual para reavaliação dos ativos é o valor de reposição, ou o método do "valor justo": quanto custaria fazer hoje o mesmo investimento, no mesmo ativo. Ou por quanto um terceiro estaria disposto a comprar esse ativo. Esse método envolve dificuldades decorrente das mudanças de circunstâncias. Por exemplo, a refinaria de Pasadena foi adquirida num momento em que o petróleo já estava caro, mas com perspectiva de subir ainda mais, o que efetivamente ocorreu. Mas dois o preço desabou o hoje está bem abaixo daquele momento. 

Uma conta simples partiria do valor da produção anual, com base na capacidade, o tempo de operação, a produtividade e preço atual dos derivados de petróleo, a rentabilidade e estimar o valor presente. 

Nessa conta, o valor atual seria muito inferior ao da compra, mas não significa que toda diferença foi desviada.

O mesmo problema ocorre com os equipamentos comprados para as refinarias e os custos dos serviços. As circunstâncias hoje, com a queda brusca do valor do petróleo mudaram muito em relação ao período de instalação. E também as diferenças não significam total irrigação da corrupção.

De toda forma as equipes internas, a Diretoria e o Conselho de Administração não chegaram a um acordo e com isso a Petrobras divulgou o balanço trimestral, sem as devidas correções, permitindo que corressem versões sobre o valor a ser deduzido. Uma bagatela de 88 bilhões de reais. Esse valor refere-se à sobrevalorização, mas a mídia difundiu como sendo o "valor da corrupção". 

A consequência é que as ações cairam o valor de mercado da Petrobras despencou e toda a mídia ficou repetindo, acriticamente, os mesmos números, com a mesma versão. Os 88 bilhões de reais passaram a ser aceitos como o tamanho do "petrolão".

Quando não é apresentada uma versão oficial consistente prevalecem as versões dos outros. Exatamente o que a Presidente ordenou que se combatesse. Na primeira bola disputada o Governo perdeu e já levou o gol.

Com a insistência de Dilma em manter Graça Foster na Presidência da Petrobras, a empresa segue ladeira abaixo.

Adotou medidas necessárias, apesar das repercussões negativas. Cancelou definitivamente a construção de duas refinarias que, jamais iriam ser construídas, mas foram prometidas para composição politicas com Governadores. O do Ceará, ligado ao mesmo grupo politico reclamou. 
O do Maranhão, por ser oposição a Sarney a quem foi prometido a refinaria por Lula, não se manifestou. Já sabia que não "era para valer" e uma "enganação" com o povo maranhense. Mas por razões políticas preferiu não denunciar o engodo. 

As duas refinarias em andamento tiveram as obras suspensas. O "segundo trem" (denominação de um sistema de refino) da Refinaria Abreu e Lima não será construída. agora. As obras do COMPERJ serão restruturadas, com a continuidade apenas de algumas obras.

Com isso muitos contratos serão cancelados e não haverá novos contratos. Com isso os eventual problema de restrição de participação dos investigados pela Operação Lava Jato em novas licitações é minimizado: não haverá novas grandes licitações de obras de terra na Petrobras. 

As empreiteiras contratadas pela Petrobras enfrentarão problemas financeiros e trabalhistas. Não receberão tudo ao que acham que tem direito, terão dificuldades de levantar recursos em banco e à medida em que as obras forem acabando e os contratos encerrados, não terão outros e irão demitir os empregados, tanto os profissionais qualificados como os peões.

Os demitidos irão aos sindicatos para mobilizar e ir às ruas. Tentar reverter as demissões.

O Governo poderá utilizar essas manifestações para a preservação das empreiteiras, evitando a sua inabilitação.

Esse será um dos principais confrontos sobre as consequências da Operação Lava Jato.

(sobre isso trataremos em outro artigo)

A Petrobras irá ainda desacelerar os investimentos com a exploração e produção de petróleo off-shore, atingindo principalmente as referentes ao pré-sal.

E também irá reduzir a sua produção, para restabelecer um equilíbrio entre as despesas e receitas operacionais da produção. A prioridade não será mais a autossuficiência e os recordes de produção, mas o equilíbrio econômico-financeiro.

Com a redução do preço internacional do petróleo e a manutenção dos preços da gasolina e do diesel no mercado nacional para repor as perdas anteriores com o congelamento dos preços, para efeito de conter a inflação, quanto mais a Petrobras importar em vez de produzir, mais ela ganha: corta o custo da produção e ganha mais na diferença entre importação e venda interna.

Essa nova estratégia é possível, com ganhos de rentabilidade, dadas as condições do parque produtivo da Petrobras. Ela ainda tem vários poços antigos que estão com produção baixa, mas em operação para ajudar a alcançar as metas de produção. O fechamento dessas e transferência de equipamentos e equipes para poços mais produtivos, gera um hiato na produção. Ela pode aproveitar para uma intensificação dos programas de manutenção e não precisará fazê-lo de forma acelerada ou emergencial. Os custos serão menores, embora continue impactando os balanços e o caixa. 

A redução da produção interna, o abandono das metas ambiciosas e onerosas, assim como do objetivo de autossuficiência nacional são medidas para melhorar o caixa da Petrobras, a sua rentabilidade e distribuição de dividendos. E ainda absorver as eventuais baixas contábeis da sobrevalorização dos ativos.

Deveria ter feito desde o final do ano passado. Perdeu um mês, mas já está fazendo para tristeza dos que lutaram pelo "petróleo é nosso".

O problema mais crítico será a versão predominante sobre o fato. A medida correta, empresarialmente, poderá ser mais um gol contra. 


E a Petrobras e o Governo Dilma, apanhando de goleada. 





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