sábado, 23 de novembro de 2019

Néo bolsonarismo

O bolsonarismo que emergiu como um tsunami em 2018, trazendo Jair Bolsonaro à Presidência da República está sendo parcialmente repaginado, na criação do seu partido: o Aliança para o Brasil, que já está sendo cunhado pela mídia como APB e não como ALIANÇA. Alguns lerão a sigla como "Acordão pró Bolsonaros".
A principal diferença está na perda de importância, quase sumiço do combate à corrupção.
Uma grande massa de eleitores que formou o conjunto de 57 milhões de votos para o Jair foi dos eleitores de menor renda, decepcionados com a "roubalheira" do PT. 
Bolsonaro se apresentou ao povo como um político que apesar de tradicional não havia se envolvido com a corrupção e prometeu acabar com ela. Mas não tem conseguido manter a imagem de "inteiramente limpo". 
Os "lava-jatistas" que tem saído às Avenidas, contra Ministros do STF e em defesa de Sérgio Moro, não tem mantido o apoio irrestrito a Jair Bolsonaro.
Sérgio Moro não cabe no APB e isso tem um impacto eleitoral significativo.
Em 2018, Jair Bolsonaro associou-se aos grupos antiambientalistas, principalmente desmatadores, madeireiros ilegais e grileiros, além dos empresários perseguidos pela indústria da multa ambiental. Os movimentos ambientalistas não deram atenção, não acreditando na possibilidade de Bolsonaro ser eleito. Muito menos que, eleito, iria por em prática as suas proposições antiambientalistas. Cumpriu as promessas e os efeitos reais foram desastrosos para a imagem do Brasil no exterior, afetando as questões comerciais. Se em 2018, não teve a oposição ambientalista passou a ter, com reflexo nas próximas eleições. 
A pauta do APB não trata diretamente da questão que está mascarada nas posições soberanistas e antiglobalismo, dois apelidos para a mesma coisa: ser contra as supostas tentativas de tirar a soberania do Brasil sobre a Amazônia, com inimigos objetivos e imaginários: Macron, o Presidente francês, as ONGs internacionais que seriam disfarce de grandes empresas internacionais interessadas em explorar as riquezas mineiras da região. 
Em função das suas posições corporativistas vem interditando a discussão das reformas tributárias e administrativas. Essas só irão adiante se o Congresso resolver confrontar diretamente o Presidente e a sua caneta. Os atrasos poderão afetar a continuidade do apoio empresarial, animado com a pequena melhoria da macroeconomia.
Esse espera pela continuidade das reformas que, se dependerem de Bolsonaro e do APB não vão prosperar. Como irão se posicionar em 2022?
O liberalismo na economia é princípio do APB, mas as reformas estruturais não estão nas prioridades.
Outra grande diferença entre o bolsonarismo de 2018 e o atual está no apoio dos grupos militares. 
O apoio militar foi interpretado pela população como o restabelecimento da ordem e do patriotismo. "Brasil, acima de tudo", seria garantido pelo Exército, onde estão os seus velhos companheiros. Ao longo do seu primeiro ano de mandato foi se libertando da tutela militar, formando um governo com a "sua turma" de oficiais militares, assim como de egressos da polícia civil e militar. Em 2022 poderá não ter o respaldo do segmento militar. 
Para compensar as perdas, está reforçando o apoio da comunidade evangélica, que vem ampliando os espaços dentro da sociedade brasileira.
Essa comunidade asseguraria a Jair Bolsonaro e ao APB a base eleitoral da população de baixa renda, com fundamento nos valores tradicionais da família, contra o progressismo, considerado desagregador e instrumento do comunismo.
As denominações evangélicas promovem o acolhimento dos desamparados e a sustentação da esperança por uma vida melhor, pela crença.
Em 2022, a macroeconomia deverá estar melhor que 2018, com Jair Bolsonaro se creditando dessas melhoria e aceitação por parte de empresários e de rentistas. A sua principal mensagem deverá ser o de evitar o retorno do PT, que promoveria o retrocesso da macroeconomia e a tributação dos mais ricos. Mas ele poderá ter que promover essa tributação ainda dentro do seu Governo, enfraquecendo o argumento.
Já em relação à baixa renda, a desigualdade de renda deverá continuar, mas essa vem se reorganizando, desenvolvendo o chamado trabalho informal, mas que garante a sobrevivência. E as denominações evangélicas e seus pastores, mantém as esperanças e uma visão de mundo de que a prosperidade virá pelo esforço pessoal. Deus ajudará a quem se esforçar, sem deixar de pagar a comissão a ele, entregue às igrejas na forma de dízimo. Dificilmente essas massas se revoltarão contra as suas igrejas. E essas segurarão os movimentos contra o Estado.
O problema e risco maior está na classe média, principalmente da emergente, que teve a sua ascensão cortada pela crise econômica.
Uma parte dessa classe média ainda aspira por empregos formais, com carteira assinada e expectativa de receber os benefícios, como férias remuneradas, 13º salário, aviso prévio, aposentadoria, plano de saúde e outros, além dos salários.
Com a dificuldade de conseguir empregos, em 2022, ou antes, estarão desalentados e conformados, ou revoltados, esperando uma oportunidade para manifestar a sua revolta. 
O mercado de trabalho, nos próximos anos estará desdobrado entre:

  • o mercado de trabalho dos talentosos, com carência de oferta e melhoria sucessiva de rendimentos;
  • o mercado de carteira assinada, com participação relativa em queda;
  • o mercado de trabalho formal por conta própria, substituindo o de carteira assinada;
  • o mercado de trabalho informal por conta própria, sem proteção social. 
O resultado eleitoral de 2022 dependerá de como cada um desses segmentos irá votar.

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