domingo, 15 de março de 2020

O amanhã e o depois de amanhã (2)

O COVID-19, começando em Wuhan, um importante polo industrial na China, onde unidades de multinacionais de diversas origens se instalaram, associadas a empresas chinesas, para produzir peças básicas para sistemas informatizadas, "quebrou" o início da cadeia produtiva desses sistemas utilizados principalmente na telefonia celular, nos equipamentos eletronico-domésticos, na indústria automobilística e outras indústrias.
Frustrou o início da Indústria 4.0, toda ela baseada em sistemas informatizados.
A indústria de Wuhan fornece ao mundo, conjuntos mais agregados ou fornece a agregadores situados em outros países. Um dos principais é o Nordeste da Itália, o principal polo industrial do país. Em função das frequentes viagens dos técnicos e executivos, essa região se tornou o epicentro  do COVID-19 na Europa. Em função de disputas políticas entre o Governo Nacional e o local, houve um atraso na adoção das medidas de contenção. A disseminação comunitária levou rapidamente a Itália a ter a maior incidência da doença - fora da China - com milhares de infectados e centenas de mortos. 

A interrupção da cadeia produtiva de sistema informatizados é a principal origem da crise econômica mundial. 
Muitas fábricas, em todo o mundo,  tiveram que suspender a sua produção por falta de peças. 
Algumas tinham ainda estoques, formados diante da programadas paralisações de fábricas em função das comemorações do ano novo chines. Outros buscaram alternativas de fornecedores, ainda que a custos mais elevados. 

A indústria brasileira foi afetada marginalmente. A indústria brasileira de montagem final de aparelhos de telefonia celular, que foi montada quando esse começaram, foi desmontada diante da incapacidade de concorrer com os produtos chineses.
O mesmo ocorreu com a fabricação final de conjuntos utilizados pela indústria de eletrônico-domésticos, assim como pela indústria automobilística. Ambas passaram a comprar os conjuntos prontos para encaixe no seu equipamento final. Poucas são as indústrias no Brasil que ainda montam sistemas informatizados. 
O efeito negativo principal estaria na paralisação de algumas linhas de produção industrial, por falta desses conjuntos.
Já em outros produtos industriais, com menor grau tecnológico, as empresas industriais no Brasil estão com capacidade ociosa, em parte, por falta de competitividade para concorrer com os produtos chineses.
Com as interrupções de fornecimento atual ou previstas em futuro próximo, dos produtos chineses, seria uma oportunidade para substituir as importações e retomar o mercado perdido. Mesmo que a preços maiores, mas com segurança de suprimento continuado.
O entrave está na qualidade dos produtos que depende de equipamentos automatizados, por sua vez, dependentes dos conjuntos de sistemas informatizados. Quem conseguiu se modernizar antes poderá promover a substituição. Quem ainda depende dos equipamentos, não conseguirá produzir com a qualidade dos concorrentes. 

Uma situação particular é da indústria de fornecimento de equipamentos para a exploração e produção de petróleo e gás. (O que será tratada junto com o tema da crise do petróleo).

Como o Brasil é ainda uma economia relativamente techada, com baixo volume de exportações de manufaturados, não será tão afetado - diretamente - pela queda da demanda mundial, beirando a recessão.
Os efeitos serão mais de natureza psicológica, afetando o imaginário empresarial e econômico. 

O impacto macroeconômico da crise industrial do COVID-19, no Brasil, só será conhecido plenamente no dia 25 de maio, quando serão publicados os resultados do PIB no 1º trimestre do ano, mas haverá alguns dados preliminares na PIM (Pesquisa Industrial Mensal). A de fevereiro, que já teve influência da quebra na cadeia produtiva, só será divulgada no início de abril. O refente a março será divulgada no início de maio. Um acompanhamento mais expedito é feito pelas entidades da indústria (FIESP  e CNI). 

Um reparo deve ser feito com relação às estatísticas agregadas, porque do ponto de vista da classificação econômica, a industrialização primária de matéria primas do agronegócio, como da cana de açúcar, para a produção de açúcar ou etanol, o abate de animais, para venda como carne, estão dentro do setor industrial. São essas que tem sustentando o crescimento geral da indústria, diante da redução sucessiva da indústria de transformação. 

O cenário mais provável da evolução industrial brasileira é de pequenas variações em torno do zero, inteiramente dependente da evolução da demanda interna. A crise econômica argentina, o principal parceiro externo da indústria brasileira, reduziu - no conjunto - a parcela destinada às exportações industriais brasileiras. O principal parceiro passou a ser os EUA, cuja economia está instável, diante do avanço do coronavirus naquele país. 
O impacto psicológico fará com que no segundo trimestre a evolução agregada da indústria brasileira seja negativa, mas irá recuperar, em pequena monta, nos trimestres seguintes, provavelmente com um pequeno aumento anual, próximo de zero.

O cenário otimista pode ser caracterizado como "Guedista". Baseia-se numa forte ampliação de investimentos estrangeiros e nacionais, na capacidade industrial, seja para sua ampliação quantitativa, como - e, principalmente - qualitativa para melhoria de produtividade e ganho de competitividade. Tanto no mercado nacional diante das importações, como no mercado mundial.

O cenário pessimista desenha uma indústria de transformação em continuado declínio. Ficará esperando por medidas de apoio por parte do Governo, que nunca chegará. 
Poderá ser agravado pelo desabastecimento de partes, pela insistência de manter os chineses como fornecedores principais ou únicos, em função dos preços.  



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