quarta-feira, 18 de março de 2020

O amanhã e o depois de amanhã (4)

As consequências mais visíveis da conjugação das crises anteriores está no mercado de capitais. Um mercado que envolve diretamente uma parcela mínima da população mundial, como da brasileira, formada por aqueles de maior renda, com capacidade de poupança. Mas que envolve uma parte significativa da economia.
O mercado de capitais - tratado pela midia, em geral - como "o mercado", como se fosse o todo. Com a maioria dos seus leitores, participantes desse mercado dá um grande destaque, gerando a impressão popular de se constituir mesmo em todo o mercado. A sua influência efetiva na economia real, no entanto, é limitada.
Existe uma economia real, formada - de um lado - pelos produtores de bens e serviços, e - de outro - pelos demandantes desses bens e serviços, seja na forma de consumo pessoal ou familiar e de empreendimentos físicos. 
A economia do mercado de capitais é formado por ações representativas do patrimônio líquido desses produtores, por títulos de financiamento emitidos pelos bancos e outras instituições financeiras, representando os empréstimos concedidos para os tomadores dos empréstimos e, ainda, por títulos públicos emitidos por entes públicos, principalmente o Tesouro Nacional.Esses títulos de financiamentos, tem renda fixa, e seu valor de mercado pouco varia em relação ao valor de face, a menos de títulos de devedores inadimplentes, quando se tornam "títulos podres", sendo negociados no mercado, com deságio. 
Já as ações de empresas, tem uma base real que é o resultado dos seus negócios, mas o valor de mercado é o que é reputado pelo conjunto do mercado especifico, através de cotações em Bolsa de Valores nacionais. Essa definição é baseada nas perspectivas de resultados futuros da empresa, o que é sempre uma avaliação subjetiva, de base emocional, embora com elementos racionais.
O valor de mercado de uma ação é dada a cada momento, ou mais precisamente, a cada sessão da Bolsa de Valores, por quanto investidores estão dispostos a pagar para comprar essa ação confrontado com o quanto os detentores dela estão dispostos a vender.

Esse mecanismo de formação dos preços faz com que a partir de uma base real, o ágio ou deságio da ação decorra de movimentos especulativos, que podem ocorrer por movimentos difusos baseados na percepção coletiva dos investidores. Alimentados por informações e análises por empresas ou consultores especializados e difundidos pela mídia especializada.

Por outro lado, a valorização ou desvalorização das ações é influenciado (ou até determinado) pelo tamanho do mercado nacional. Esse sempre conta com a participação de capitais estrangeiros voláteis, oportunistas ou especulativos, buscando ganhos de curto a médio prazo, trocando de posições, interna e externamente.

Parte desse capital estrangeiros está aplicado em ações. Quando ingressam no país, determinam uma desvalorização do real diante do dólar, isto é, uma cotação mais baixa. Isso porque ingressam em dólar, para serem convertidos em real e pelo volume de ingressos, puxam a cotação para baixo.
Com um volume maior de reais, decorrente da conversão puxam as cotações para cima. Ou seja, há uma demanda maior de investidores pelas ações.
Por essa razão há sempre um movimento inverso. Quando o indicador coletivo da Bolsa sobe a cotação do dolar cai. Não é porque o investidor nacional alterne em aplicar em ações ou em dólar. Isso ocorre, mas é em menor parte, principalmente entre pequenos investidores. A maior parte decorre desse movimento de ingresso ou saída de investidores estrangeiros, além da movimentação especulativa de títulos indexados em dólar. 
Com a perspectiva de uma recessão na economia real, com ganhos futuros menores ou até perdas, as ações perdem valor, pelo movimento de investidores em vender posições em ações. Esse movimento pode ser acelerado ou ampliado por ação de especuladores que tem interesse em baixar os preços das ações para reforçar as suas carteiras.
Mas o principal movimento baixista pode decorrer da saida, em grandes volumes, de capital estrangeiro oportunista, que  diante de uma perspectiva de maior risco ou menor rentabilidade vende as suas ações, compra dólar (oficialmente) para aplicação em outros papéis. O "porto seguro" assumido pelos investidores são títulos do Tesouro Norte-americano. 
Ocorre, então, a variação de preços inversa: o índice da Bolsa de Valores cai e o dólar sobe. 
Os mecanismos não são tão simples como descrito, envolvendo intrincados mecanismos, inclusive de natureza tributária, mas na ponta visível do "iceberg" ocorre essa gangorra entre o índice Bovespa e o dólar comercial.

O fundamento da desvalorização das ações está na perspectiva de um baixo crescimento da economia brasileira, com risco de uma estagnação e até recessão com a crise sanitária do coronvavirus.

O mercado acionário brasileiro é fortemente influenciado pelas ações da Petrobras, que compõe a maior parte do conjunto movimentado.

Portanto os cenário futuros do mercado acionário brasileiro dependerá da percepção dos investidores sobre a evolução real da economia real do petróleo no mundo e dos seus impactos sobre os resultados da Petrobras.

Em artigo anterior, desenhados os cenários alternativos do petróleo e da Petrobras, em particular.
No próximo, analisaremos os cenários tendenciais da economia brasileira e, finalmente, as políticas econômicas do Governo.


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