quinta-feira, 19 de março de 2020

O escorpião Bolsonaro

Desde domingo, o Presidente Bolsonaro manifestou, mais uma vez, a sua verdadeira natureza: a de adolescente recorrentemente rebelde, feliz com o apoio dos seus seguidores - "politicamente incorretos" - aglomerados diante do Palácio do Planalto. Mais, atacando os seus supostos inimigos, aqueles caras que não o deixam trabalhar, para mudar o Brasil.
Nunca, desde a sua posse, em 1º de janeiro de 2010, se viu um Jair tão desenvolto e feliz, ignorando e contrariando as autoridades sanitárias.
Ele sempre teve o apoio de dois segmentos sociais: um bem definido. Um é a corporação policial-militar, que sempre lhe deu os votos para sua eleição e reeleições, a deputado federal, ao longo de sete eleições. O segundo, mais difuso, do qual emergiu como líder e o levou a ser um forte candidato à Presidência da República, em 2018: a dos antipoliticamente corretos. 
Na "reta final", percebido como o que tinha melhores condições de derrotar o PT, alcançou a Presidência. 
O apoio dos evangélicos e dos antipetistas foi circunstancial, a da corporação policial-militar o dos insatisfeitos com o politicamente correto é estrutural e mantém-se fielmente com a sua base popular.
O domínio ideológico do politicamente correto, fortemente apoiado pelos governos petistas, criou uma verdadeira ditadura de pensamento e comportamento, reprimindo os que não o aceitavam. As restrições não eram determinadas pela repressão policial, como nos regimes ditatoriais, mas pelo patrulhamento ideológico, cerceando o efetivo direito de se manifestar e de ir e vir. Não se podia chamar um afro-descendente de nego, negão. Não se podia elogiar militares do período do golpe. Não se podia defender os policiais mortos em confrontos. Já os mortos pelos policiais - ainda que bandidos - eram defendidos, em nome dos direitos humanos. Não se podia duvidar do aquecimento da terra.
O deputado federal Jair Bolsonaro era um dos poucos a contestar o politicamente correto e de suas restrições à vida pessoal. Sempre foi contra a indústria da multa, nas rodovias e se insurgia contra a proibição de pescar, junto com o companheiro, Fabrício Queiroz, na baia de Angra dos Reis.
Coerente com a sua natureza e seu passado, não aceita restrições às manifestações populares de apoio a ele. Até gosta que essas combatam os dirigentes de outros poderes, considerados por ele como inimigos. 
Não aceita que, em nome de uma suposta (segundo ele) crise epidemiológica, ele não possa circular entre o seu povo, cumprimentar pessoal, contrariando as orientações de área de saúde do seu próprio Governo. 
Desenvolve para si e para os seguidores da sua seita, a teoria da conspiração de que se trata de uma histeria popular, fomentada pelos seus inimigos. Rebela-se contra os governadores estaduais que proíbem jogos de futebol, ou a frequência às praias, nestes dias de verão. Esses estariam restringindo a alegria do povo, assim como prejudicando a economia.
Com a sua rebeldia, vai ficando cada vez mais isolado do conjunto do Brasil, restrito aos seus seguidores mais fieis. Que ele acredita ser representativo de todo o povo brasileiro, por ter obtido a maioria dos votos dos eleitores. Para ele e seus seguidores, é o vencedor. Os demais seriam perdedores e devem se submeter à vontade da maioria. E essa maioria tem direito de ir às ruas para demonstrar o seu apoio ao mito vencedor. 

A repercussão popular ao comportamento de Jair Bolsonaro foi negativa,  já o levou a mudanças, aparentemente tardias e algumas desastradas.
Para conter o avanço popular do Mandettavirus, que emerge como um eventual concorrente em 2022 (o que será analisado no próximo artigo) tentou assumir o comando, mas com pouca credibilidade, em função de três pontos: tentou-se apropriar das medidas positivas que vem sendo adotadas, colocando-se como o técnico de um time que está ganhando; levou para a mesa o médico e contra-almirante que lhe dá sustentação nas avaliações médico-sanitárias e que quer colocar no lugar de Mandetta, causando estranheza - além do mais -  porque era o único não Ministro na mesa; e não foi enfático no apoio ao trabalho de Mandetta.

O Brasil vai enfrentar nas próximas semanas, uma explosão de casos confirmados de contaminação e um aumento progressivo de óbitos. 

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