sábado, 6 de junho de 2020

(6) Novo normal da políica

O político está no poder por ter sido eleito. Por um conjunto de circunstâncias, fatores pessoais e ação efetiva conquistam o voto dos eleitores. 
Para serem reeleitos precisam atender às solicitações, necessidades e aspirações dos eleitores. Se os eleitores mudarem os seus hábitos e valores, que comandam as suas visões e expectativas os políticos que não se ajustarem a essas mudanças não serão reeleitos.
Por outro lado, os novos candidatos, mais alinhados com os novos hábitos dos eleitores terão maior probabilidade de serem eleitos, desalojando os veteranos que não se ajustarem à nova realidade.
Portanto, o novo normal da política dependerá essencialmente da eventual mudança de hábitos e valores dos eleitores.
Essa poderá ocorrer de forma difusa, a partir das respostas individuais, que se somarão, em conjuntos, ou por ações de lideranças que proponham mudanças que serão acatadas e seguidas por um conjunto de eleitores. 
Quando essas se tornarem hegemônicas, se formará o Novo Normal da Política. Essa só poderá se efetivar através das eleições. 
Apesar de eventuais adiamentos, as eleições municipais previstas para 2020 já deverão contemplar eventuais mudanças. Mas a principal eleição que pode marcar, ou não, o Novo Normal de Política será a de 2022. 

Quais serão os novos hábitos e valores dos eleitores dentro do Novo Normal?

A perspectiva do Novo Normal é que o mundo seja dominado pelas tecnologias digitais e pelo "fique em casa".
Essa conjugação faz com que as pessoas passem a trabalhar, comprar, entreter-se mais na sua casa, tendo pelo menos um computador para se conectar com o resto do mundo. Um smartphone poderá ser um substituto mas não permanente. Além disso precisa ter acesso aos aplicativos básicos, para as diversas funções. Há uma quase universalização de acesso à telefonia digital, mas ainda muito limitada na amplitude e qualidade dos serviços. 

Essa nova estruturação da sociedade, gera uma outra divisão e desigualdade social: os que tem acesso às tecnologias digitais e os que não tem. 

A pressão social e política para o adiamento do ENEM é uma demonstração desse novo quadro. Os estudantes pobres que não tem acesso às tecnologias digitais reclamaram ao Governo e ao Congresso, com repercussão geral, da desigualdade de concorrência com os de maior renda, com acesso às tecnologias digitais e com possibilidade de estudo à distância e solução de dúvidas. Aqueles dependem de aulas presenciais em escolas públicas, que estão suspensas.
Os equipamentos e aplicativos de comunicação digital passaram a ser o principal objeto de desejo dos que não tem. E a demanda por maior capacidade, facilidade e segurança pelos que já tem. 
Como em termos quantitativos os eleitores ainda sem melhor acesso às tecnologias digitais são maioria, os políticos, principalmente os candidatos a cargos majoritários, precisam buscar esses eleitores.

Dentro da perspectiva com que temos avaliado o comportamento dos eleitores, de "visão de mundo curta, ou limitada" restrita ao ambiente em que moram e vivenciam as mudanças de hábitos por parte da sociedade organizada deverá provocar uma importante mudança de valores por parte dos eleitores de menor renda. Em vez da prioridade de reivindicação por asfalto da rua, do conserto da pinguela ou ponte, em primeiro lugar virá a demanda pelo acesso à tecnologia digital. Afetará também as prioridades do consumo pessoal. 
Por outro lado, o acesso a um conhecimento mais amplo de outras realidades poderá ampliar a sua visão de mundo. Com consequências sobre os seus hábitos e valores. O que poderá afetar a sua percepção sobre o Estado, Governo e Políticos. Mas isso será a médio prazo. A curto prazo a principal reivindicação será o acesso, em condições compatíveis, com a sua situação econômica, das tecnologias digitais.
As tecnologias sociais ainda não são um direito constitucional de todos os cidadãos, mas haverá uma movimentação política para que seja. 
Essa nova reivindicação popular entrará em disputa com reivindicações mais tradicionais, como a da educação, saúde, saneamento e outras. 

O que os políticos poderão propor como resposta a esse desafio?

O desafio e a resposta deverão conformar o Novo Normal da Política. 

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