terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O futuro de São Paulo - 2

São Paulo é uma cidade partida e continuará partida, por conta da dinâmica sócio-econômica real. Mas essa realidade, por ser indesejável, leva à políticas públicas que tendem a equalizar a cidade "por baixo". Essas podem comprometer o seu desenvolvimento futuro, com a deterioração dos seus motores de crescimento econômico.

Esses motores dinamizam a economia, mas se apropriam de forma desigual dos benefícios o que leva governos populistas a medidas socializantes que levam à contenção do próprio crescimento.

São Paulo não é apenas uma cidade terciária, mas uma cidade que abriga o comércio e os serviços de mais alto padrão, o que faz dela a uma cidade para uma elite, em todos os sentidos.

O preconceito político contra essa elite, pode levar à sua fuga da cidade, levando também a sua renda e provocando o declínio econômico. 

Não é preciso ir longe para ver o que está ocorrendo com Buenos Aires, como resultado de políticas "anti-elites".

Dois elementos influenciam fortemente as decisões dos empresários e dos dirigentes que escolhem São Paulo como local para os seus escritórios, lojas, clínicas, hospitais e outros estabelecimentos: a tributação local e a mobilidade urbana.

A Prefeitura Municipal está praticando uma política pública anti-elitista, nessas duas questões, supostamente a favor do povo, mas pode levar à perda de vitalidade econômica da cidade. E o povo terá uma cidade mais vazia, para deixar de perder tempo com as viagens, muitos deles porque não terão viagens a fazer para um trabalho que será perdido. 
Sem a criação de empregos pelos empregadores que são, na sua maioria, parte da elite, o povo paulistano terá menos empregos.

O alvo é a elite, mas as as munições dos ataques acabam alcançando também uma classe média, com pretensões de elite.

A cidade de São Paulo é o centro da maior região metropolitana brasileira, mas tem concorrentes na própria região, fora os em outros estados e no exterior, para as atividades gerenciais dos negócios.

Diversamente da localização industrial as opções da localização das atividades gerenciais são mais flexíveis e dependem das conexões comerciais e financeiras as quais  podem se transferir de uma cidade a outra em bloco. Ou, uma mudança importante, puxa as outras, como ocorreu com a transferências de empesas do Rio de Janeiro para São Paulo, trazendo para a cidade paulistana o centro financeiro de conexões internacionais. Até os anos setenta as multinacionais preferiam sediar as suas filiais ou subsidiárias no Rio de Janeiro. Depois passaram para São Paulo, mesmo muitas delas permanecer na cidade maravilhosa.

Ademais, com o desenvolvimento das tecnologias de informação, as integrações físicas podem ser substituídas por virtuais.

Os primeiros concorrentes da cidade de São Paulo, para a instalação de escritórios e centros comerciais,  que puxam a hotelaria e a ocupação residencial de médio e alto padrão, estão no seu entorno, tanto do lado sudeste, na região do ABC, principalmente Santo André, como do lado oeste, com o polo de Alphaville que está provocando o preenchimento da área intermediária, localizada em Osasco. 
A Zona Leste do Município de São Paulo é uma área periférica e pobre, mas está cercada por outros polos de empregos, que vem se desenvolvendo, ao sul com o ABC e ao norte por Guarulhos.
Diferenças da tributação do ISS e do IPTU, vão acelerar o processo de desconcentração.

O conceito de bairros planejados, associados a operações urbanas consorciadas permite a geração de conjuntos integrados e com elevada auto-suficiência facultando a ocupação de grandes áreas livres, ainda que com carência de infraestrutura, em áreas distantes dos centros históricos. Dai a maior facilidade atual e futura de ocupação de áreas periféricas por conjuntos de alta renda.
Já há vários projetos em andamento e outros planejados, ainda que os principais investimentos ainda estejam sendo feitos dentro da cidade de São Paulo, nas áreas das Operações Urbanas Consorciadas.

Além disso os projetos propostos para o Rio de Janeiro, principalmente o Porto Maravilha, concorrerão com São Paulo na instalação de escritórios centrais de multinacionais e de instituições financeira tendo as atividades do petróleo & gás das bacias de Campos e de Santos como âncoras. Cabe reiterar aqui que as atividades de gerenciamento da produção da Bacia de Santos, no campo de Libra continuam concentrados no Rio de Janeiro e a transferência para Santos deve ser postergada, frustrando as perspectivas imobiliárias da Baixada Santista, a curto prazo.

Para sustentar a atratividade e competitividade de São Paulo, para continuar recebendo as grandes sedes das multinacionais e multiestaduais - as quais sempre tem opções maiores de escolha de localização - a questão crítica é a mobilidade urbana e nessa questão a Prefeitura Municipal está desenvolvendo uma ação de "assusta empresário".

Os familiares da "Dna Zelite" só andam de carro e não vão deixa-lo para passar para o transporte coletivo, como esperam os planejadores e autoridades municipais.

Com a crescente dificuldade de se movimentar dentro da cidade vão acabar se mudando de cidade, levando com eles os empregos.

Uma coisa é criar melhores condições para a movimentação da população pobre que não tem outra opção a não ser se movimentar a grandes distâncias com o transporte coletivo. Em distâncias menores resta a bicicleta ou caminhar a pé.

Outra é promover - deliberadamente - um "castigo" aos motoristas de carros, obrigando-os a enfrentar congestionamentos maiores e maior demora na sua viagem. Não há preocupação alguma em melhorar a mobilidade para os carros. Ao contrário, busca-se deliberadamente piorar as suas condições para forçá-los a se transferirem para o transporte coletivo.

Os chamados BRS, um nome em inglês para dar maior sofisticação à solução, para faixas exclusivas de ônibus, do lado esquerdo,   em ruas com poucos espaços, deixando para os carros apenas uma faixa ou até 2, mas estreitas, não permitindo nem a circulação de taxis e reservados - em geral - para poucos ônibus, tem o claro objetivo de penalização dos usuários de carros e não apenas de melhorar a movimentação dos usuários dos ônibus e da população, em geral.

O resultado final para a cidade será a perda de vitalidade econômica e degradação física dos corredores, com o afastamento de lojas e escritórios voltados para uma população de maior renda para outras regiões, inclusive para outros municípios.

Em vez de buscar melhorar a atratividade da cidade para receber e sediar as atividades de gerenciamento o Governo Municipal está promovendo a sua expulsão, por conta de uma visão populista.

A questão da mobilidade urbana não é apenas de transporte, mas acima de tudo cultural, no sentido antropológico, e de logística. Sem a devida consideração dessas dimensões, os resultados serão os perversos, no sentido sociológico. Ou seja, contrários ao desejado.

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