sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O futuro de São Paulo 4 - Inovação

Uma das colocações recorrentes sobre o futuro da cidade de São Paulo é o potencial do segmento de inovação, em função da base universitária e de pesquisa que o Estado dispõe.
Não tenho dúvidas com relação a esse potencial no setor aeronáutico, mas fora desse não sei se o Estado de São Paulo é o mais promissor, ou se é mais uma ilusão, com base em desejos do que realidade. Tentaremos aqui colocar algumas reflexões para discussão, provocando alguns amigos e outros muito envolvidos com esta questão.

Como setor econômico o que importa é o volume de investimentos aplicado na formação dos negócios, o CAPEX (capital expenditure), assim como o OPEX (operation expenditure), principalmente o pagamento aos recursos humanos, que são de alta qualificação e deveriam ser também de alta remuneração. A massa salarial teria um grande impacto sobre o consumo, movimentando a economia. 

Das receitas obtidas pelas atividades, o impacto econômico deve ser diferenciado em relação às fontes: se da própria economia nacional ou do resto do mundo. O impacto maior quanto maior for a captação de recursos externos, irrigando a economia nacional.

Há basicamente dois tipos de negócios econômicos de P&D: as financiadas pelas empresas usuárias dos resultados e as de iniciativa de empreendedores (em geral de pequeno ou médio porte) com o objetivo de gerar um produto que ganhe mercado, segundo o modelo de "start-ups".

No primeiro caso, as empresas investem em centros de pesquisa, com laboratórios ou não, para melhorar a competitividade de seus produtos já no mercado, ou para a geração de novos produtos.

Incluem-se nesse caso, tanto as atividades de engenharia física, seja de produtos ou de processos, como as atividades de desenvolvimento de softwares e aplicativos da tecnologia da informação, sob encomenda dos usuários.

Como constatação econômica, essas atividades nem sempre são visíveis porque realizados dentro das próprias empresas usuárias, sem constituição de empresas distintas ou contratação de terceiros. Somente quando há um volume significativo, com a instalação de Centros de Pesquisa em unidade separada da empresa usuária, a importância econômica fica mais evidenciada.
Fora disso as quantidades econômicas são medidas pelos gastos das empresas com pesquisa & desenvolvimento, internamente ou mediante contratos ou parcerias com terceiros.

Passando por treze capitais brasileiras, buscando prospectar o seu futuro, encontrei todas elas pretendendo ter o desenvolvimento tecnológico, a inovação ou a P&D como suporte econômico da cidade, com base na sua estrutura acadêmica, mas somente em 3 delas encontrei uma estrutura consistente e de relevância: Recife, Florianópolis e Rio de Janeiro. (se não percebi outras pode ter sido por falta de informação ou de percepção pessoal). São Paulo é um caso a parte que analisaremos posteriormente.

O Rio de Janeiro é a cidade que tem a estrutura mais ampla e visível, com o Polo Tecnológico da Ilha do Fundão, ancorado no CENPES, o Centro de Pesquisa da Petrobras, atraindo a instalação de grandes centros de pesquisa de empresas multinacionais, voltados para o desenvolvimento tecnológico e inovações para a exploração do pré-sal. Estão sendo investidos bilhões de dolares e será uma atividade econômica relevante dentro da economia carioca.

O parque tecnológico do Recife, dentro da área portuária, por isso mesmo caracterizado como "Porto Digital" é ainda uma incubadora, mas tem como âncora o CESAR que desenvolve projetos ou soluções tecnológicas sob contrato, para empresas, tendo a CHESF como uma das principais clientes.

Florianópolis, aparentemente, é a que oferece maior infraestrutura com um amplo parque tecnológico, o SAPIENS, com mais de 4 milhões de m2, além de diversos outros parques tecnológicos menores e mais voltados para start-ups.

A cidade de São Paulo não contempla nenhum parque tecnológico de grande escala, para abrigar Centros de Pesquisa Empresariais. Esses centros estão disseminados dentro da cidade, em geral, juntos com a unidade de produção industrial.

Os polos de maior escala estão no interior do Estado, como o aeronáutico, junto à Embraer e ao ITA, em Campinas, junto à Unicamp e em São Paulo, próximos às universidades estadual e federal.

Um dos principais setores de gastos com Pesquisa & Desenvolvimento é o automobilístico, mas as suas unidades estão fora da capital. A principal âncora acadêmica seria a Engenharia Mauá, que fica em São Caetano, ainda que próxima à divisa de São Paulo.

Os gastos com softwares e aplicativos sob encomenda também estão dispersos, não havendo a formação de nenhum polo ou parque que reúna das empresas de porte do setor. 

Não há na cidade de São Paulo, nenhum bairro que possa ser caracterizado como um cluster tecnológico. O mais próximo seria a Cidade Universitária da USP, mas não abriga dentro dela ou no seu entorno centros de pequisa empresarias.

O que está dentro do seu território é o parque tecnológico do CIETEC, uma incubadora de startups, cuja geração econômica ainda é de pequena monta, com pouco significado na formação do PIB da cidade.

Junto da Cidade Universitária está previsto o Parque Tecnológico do Jaguaré, que ainda não saiu do papel.

A cidade, no entanto, pode ser o principal polo das "fabricas" de software por encomenda, territorialmente espalhada, sem a formação de um cluster.

As políticas de incentivos para a formação de clusters tem envolvido incentivos fiscais, com redução do ISS, isenções do IPTU e do ITBI. Porém as poucas iniciativas nesse sentido: na Cracolândia e em Itaquera atraíram poucas empresas.

Essas primeiras impressões, dizem que a atividade de Pesquisa & Desenvolvimento em São Paulo ainda não tem maior importância econômica, sendo muito mais desejo do que realidade. E as perspectivas futuras não me parecem as mais promissoras.
















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