sexta-feira, 13 de março de 2015

"Apagão", racionamento e contenção

O Brasil está passando por uma séria crise hídrica, que já dura anos, afetando principalmente o sudeste, e que se estende ao nordeste. A principal vítima é o "velho Chico". 
Os paulistanos focados sobre o Cantareira não percebem a gravidade do problema no interior do próprio Estado, indicado pela suspensão da navegação fluvial no rio Tietê.

Diante da prolongada estiagem o Brasil está sob o risco de um racionamento de energia e São Paulo sob risco de racionamento de água.

A questão dos racionamentos é tratada politica e emocionalmente, o que obscurece os fatos reais. Racionamento foi estigmatizado politicamente, como o maior símbolo da incompetência governamental, e todo governante resiste em assumir a sua adoção. Escamoteia, adota medidas paliativas ou parciais e insiste em dizer que não faz, tampouco fará racionamento.

Uma coisa é a interrupção eventual e de indeterminada duração, mas em geral curta seja da eletricidade nas casas, como da água na torneira. A mídia apelidou e a sociedade adotou o termo "apagão".  O "blackout" ou apagão seria uma interrupção ampla e relativamente longa, o que é raro ocorrer, mas qualquer interrupção é caracterizada como apagão e mutos o associam com racionamento. 

Para o consumidor, qualquer interrupção é associada à apagão e racionamento, o que é amplificado pela mídia.

A interrupção eventual do suprimento, tanto da eletricidade como da água, decorre de acidentes no sistema. Esse são mais frequentes quando existe um desequilíbrio entre oferta e demanda, ou seja, da capacidade de suprir pelas empresas de energia ou de saneamento e a procura do serviço pelo consumidor. Decorre também da obsolescência das instalações, que pela sua degradação  as torna mais vulnerável a acidentes. Na eletricidade uma eventual sobrecarga provoca a "queima" do equipamento. No sistema de água o vazamento.

Essas ocorrências podem ser mitigadas, minimizadas, mas não são inteiramente evitáveis. Em tese o seriam, mas a custos muito elevados. O que leva às empresas a trabalharem com a avaliação e a gestão de riscos. 

Em situações regulares, o "azarado" que sofre com o acidente e interrupção eventual, dentro das margens estatísticas da ocorrência do risco, sofre sozinho ou em pequeno grupo, como moradores de um mesmo condomínio. Em situações de crise o seu problema individual é amplificado,  como fosse apenas um exemplo do que ocorre com milhões de outros. O sensacionalismo da mídia se encarrega disso.

O racionamento é um corte ordenado, programado e previamente comunicado aos usuários. Esses são antecipadamente comunicados da ocorrência do corte no suprimento, com horários pré-definidos.  Pode ser generalizado, ou rodiziado. Neste último caso, os cortes são alternados por regiões ou bairros.

O racionamento é a medida extrema. Antes dela os Governos desenvolvem ações de conscientização, educação ou similares com o objetivo de modificar os hábitos e reduzir a demanda. Principalmente reduzir os desperdícios ou adotar o uso de fontes alternativas.  Se esses forem eficazes, com significativa redução do consumo evita-se o racionamento. Foi o que ocorreu em 2001, com o risco do racionamento de energia, o que acabou não sendo efetivado, diante da redução do consumo da ordem de 20%. Diante do risco iminente do racionamento os consumidores reduziram voluntariamente o uso.

O mesmo está ocorrendo agora em São Paulo. Diante da ameaça do racionamento os usuários estão adotando um conjunto de medidas individuais ou coletivas para a redução do consumo. Mudando hábitos, o que não fariam em situações sem crise. 

Por outro lado,  a concessionária usa o gerenciamento da pressão na rede, para reduzir o fornecimento fora das horas de pico, o que gera a falta d'água nas moradias que ficam em locais mais altos e nas pontas das redes. 

Para os afetados não interessa se é contenção ou racionamento. Não tem água na torneira e eles reclamam e reivindicam o imediato ressuprimento.

Sendo, tanto o suprimento da água potável como da eletricidade, serviços públicos, a população quer saber se o seu governo, por ela eleito, terá capacidade de enfrentar e vencer o desafio de garantir o suprimento continuado daqueles elementos vitais para a vida moderna. 

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