domingo, 1 de março de 2015

Cenários logísticos do Rio de Janeiro

Em homenagem aos 450 anos, uma reflexão antiga sobre o Rio de Janeiro, guardada nos meus baus.

Os cenários futuros econômicos e logísticos do Rio de Janeiro dependem a dinâmica dos processos já em curso e dos eventuais novos processos, novos fatores que provoquem inflexão na dinâmica tendencial.

O Estado do Rio de Janeiro tem uma grande importância   geologística para duas grandes cadeias produtivas de âmbito internacional.

  • a do petróleo e gás; e 
  • da siderurgia

A do petróleo & gás é a mais importante com uma cadeia mais complexa e longa, começando com a produção do petróleo bruto e do gás no mar nas proximidades do seu litoral até a produção dos principais derivados e da petroquímica.

A cadeia produtiva da siderurgia no Rio de Janeiro é incompleta. O Rio de Janeiro não é um grande produtor de minério de ferro ou de carvão mineral, mas é um dos principais corredores de escoamento do minério oriundo das reservas situadas no Estado vizinho de Minas Gerais. É também o escoadouro de produtos siderúrgicos.

O Brasil conta com três grandes polos minerários de ferro: o do norte, centrado em Carajás no Pará, mas com o escoamento através do Maranhão, na Ponta da Madeira em São Luís.

O do leste, no sertão da Bahia, ainda pouco ou não explorado por carência logística, que deverá ser superada pela malha ferroviária em execução (transnordestina e fiol).

O do sudeste, com as reservas de Minas Gerais, cujo escoamento principal ainda é pelo Espirito Santo, através de dois corredores: o da Vale, pela EF Vitória-Minas, chegando ao complexo portuário de Tubarão, na Região Metropolitana de Vitória e o da SAMARCO que chega por mineroduto em .... com uma nova rota prevista para o Terminal de Anchieta.

O completo portuário da Baia de Sepetiba, no Rio de Janeiro, envolvendo terminais privativos da Vale e da CSN, mais um terminal não exclusivo (o do meio) é o ponto de saida do Brasil de um corredor que alcança as reservas mineiras.

O principal corredor, prestes a ser inaugurado, depois de muitos atrasos é o da Anglo-American que chega ao Porto de Açu, um mega empreendimento planejado por Eike Batista, agora sob o controle da Prumo.

Desde os tempos imemoriais segmentos da sociedade brasileira defendem a necessidade do pais ser um produtor e exportador de produtos de maior valor agregado, deixando de ser um mero exportador de commodities. Incomoda muito a esses ver o minério de ferro brasileiro exportado "a preço da banana" e retornar ao Brasil na forma de carro, eletrodomésticos e outros produtos com um preço muito superior. 

Essa percepção fez com que o Governo Federal negociasse do apoio logístico e militar aos aliados na Segunda Guerra Mundial em troca do investimentos e apoio técnico para a instalação da primeira grande usina siderúrgica no Brasil, no interior do Estado do Rio de Janeiro: a Companhia Siderúrgica Nacional - a CSN em Volta Redonda. (provavelmente o nome decorre de uma volta redonda da linha férrea.

A localização no interior e não no litoral - com veio a ocorrer com os novos empreendimentos mundiais - decorreu de razões militares.
A usina precisava ficar distante dos eventuais ataques marítimos e melhor protegido dos ataques militares.

A partir da CSN o Brasil passou a ser um grande produtor siderúrgico, mas só por volta dos anos 70 passou a ser exportador. O conceito predominante sempre foi de "substituição de importações".

A Cia Vale do Rio Doce (atual Vale) com a sua tradição de exportação, sempre relutou em investir na siderurgia, dentro da perspectiva de que o beneficiamento e a transformação agrega não só valor, mas agrega custos. E a agregação de custos do processo industrial no Brasil tornava os produtos não competitivos no mercado internacional. Avançou em algumas etapas, como a pelotização e até produtos intermediários, como as chapas na usina de Tubarão, mas não chegou às chapas finas.

A implantação da Usina da CSA em Santa Cruz  pela Tyssen confirmou essa perspectiva de que a agregação de custos na produção siderúrgica no Brasil superaria a agregação de valor. 

No Porto de Açu, Eike Batista desenvolveu planos para levar até duas usinas siderúrgicas, chegando a estabelece protocolos de intenção com Usinas chinesas. Mas elas acabaram desistindo;

Assim, os cenários em relação a cadeia produtiva da siderurgia no Rio de Janeiro poderiam ser desenhados como:


  • a tendencial que envolveria a continuidade ou a maturação dos projetos em andamento, mantendo a predominância da exportação de minérios, até alcançar a capacidade total;
  • a pessimista que implicaria na inviabilidade da CSA e da menor competitividade dos terminais fluminenses em relação aos demais em outros Estados;
  • a "arrojada" envolveria a viabilização das usinas siderúrgicas no Porto de Açu.
Do ponto de vista logístico interno não haveria grandes alterações, que afetaria mais a movimentação portuária. Haveria que considerar, no entanto, a movimentação dos demais insumos internos utilizados pelas usinas siderúrgicas.



A principal base do cenário arrojado: a vitória do Rio na "guerra da água".

A segurança hídrica é hoje o principal diferencial de infraestrutura para a localização industrial, em termos estaduais.

Há uma certa equalização em relação a todos os demais fatores, principalmente energia e telecomunicações. Os benefícios fiscais são também concedidos igualmente pelos governos. 

O fator logístico tem forte influência na micro-localização dentro dos Estados, mas dentro de uma mesma bacia hidrográfica.

O Brasil é um país continental com diversas condições climáticas, porém a mais delicada é um corredor que atravessa o centro-oeste e o sudeste, atualmente com grande crise hídrica.

A segurança hídrica será um dos elementos diferenciados na matriz de decisão dos empresários sobre a localização da sua unidade industrial. Caso haja uma diferença significativa entre bacias vizinhas haverá tendência de transferência, ou pelo menos, de expansão em territórios com maior segurança hídrica.

Há uma grande diferença entre o polo industrial de São Paulo e do Rio de Janeiro.

A Região metropolitana de São Paulo e sua extensão, caracterizada como a Macrometrópole tem um grande consumo, com uma perspectiva de déficit estrutural que a importar grandes volume de água de outras bacias, tendo a do Paraná, na divisa do Estado com Mato Grosso e o Paraiba do Sul,como alternativas.

A alternativa de transposição de água da bacia do Paraiba do Sul, que começa ainda em território paulista é a mais viável tecnica e econômicamente, porém gera a "guerra pela água". O Estado do Rio de Janeiro que recebe as águas do Paraiba do Sul que segue por todo o estado até desembocar bem ao norte, na altura do Porto de Açu, é contra a retirada de qualquer milimetro cúbico da bacia, mesmo da parte situação em território paulista para abastecer outrs bacias. 

A maior disponibilidade de água da bacia do Paraiba do Sul faz que ela seja mais competitiva para a instalação industrial do que outras bacias como a do Tietê, Judiai e outras que abastecem a macrometrópole paulista.

Uma parte marginal da macrometrópole paulista já está na bacia do Paraiba, mas o território maior está no Rio de Janeiro.

Ainda que dependente de prospecções maiores, o cenário arrojado do Estado do Rio de Janeiro seria aquele em que a produção industrial fluminense ultrapassa a paulista. passando ou voltando a ser o principal polo industrial do país.


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