sexta-feira, 10 de abril de 2020

Como retardar a incidência da COVID-19 (2)

A estratégica sanitária básica é "achatar a curva", mas as explicações didáticas sobre o comportamento de curvas estatísticas levam a visões simplistas e equivocadas. 
No longo prazo, a curva achatada é "mineira" , como se fosse um morrinho, em contraposição à curva com enormes picos, a la Himalaia.
Mas a visão de curto prazo ou microscópica, de acompanhamento diário da evolução da curva mostra uma curva com uma evolução vertical, de crescimento exponencial que, depois de algum tempo, perde velocidade e tende a se estabilizar, mas em patamares elevados de contaminado e de novas contaminações diárias. Nada de "morrinho", mas de montanhas com grandes platôs, na sua parte superior. Só mais à frente vão baixar. 
O volume diário de contaminados pode variar em função da contaminação efetiva, ou da ampliação da testagem. No Brasil, em função das circunstâncias de imensidão territorial e elevada desigualmente de densidade da sua ocupação, associada à disponibilidade de testes estes são aplicados concentradamente nas grandes cidades e preferencialmente para os grupos de risco e com sintomas, isto é, do grupo - supostamente de 15% - que infectado demonstra sintomas. O que leva à subnotificação.
Com o aumento da testagem, haverá um grande número absoluto de contaminação, mas que não seria acompanhado na mesma proporção pela necessidade de internação e de ocorrência de óbitos. 
Do ponto de vista da estratégia sanitária, não havendo segurança com relação à eficácia dos protocolos com uso de remédios já tradicionais no mercado, como o hidróxido de cloroquina e outros vem sendo recomendado o isolamento social.
O isolamento social tem uma contrapartida na paralisação do funcionamento da economia, cabendo buscar uma equação equilibrada entre os dois fatores. Em alguns países, como a Itália, Espanha e EUA, a prevalência inicial na manutenção do funcionamento da economia levou a um surto expressivo de mortalidade, pela incapacidade dos respectivos sistemas de saúde, em atender todos os doentes em estado grave. O que obrigou os Governos, em seguida, a adotar medidas radiciais de isolamento, paralisando as suas economias regionais nos principais polos. Em alguns casos a economia nacional.
Dentro da estratégia sanitária nacional, não seria necessário um isolamento social igualitário, em todas as regiões e cidades. 
Duas são as circunstâncias diferenciadoras:

  • uma geográfica: o tamanho e densidade demográfica as  das principais aglomerações populacionais, o que ocorre, principalmente, nas cidades maiores;
  • outra sanitária: a capacidade do sistema de saúde em internar os doentes e, entre esses, atender, os em condições de maior gravidade,  em unidades de terapia intensiva. 

Em cidades com população residente pequena (até 30 mil habitantes), baixa densidade geral e nos seus principais pontos de aglomeração de habitantes não seria necessárias medidas radicais de isolamento, admitindo um certo numero de contaminação, compatível com a capacidade de leitos hospitalares para internação. Em geral, esses municípios pequenos não instalam unidades (ou centros) de terapia intensiva, valendo-se de ambulâncias para trasladar os pacientes a centros maiores. 
Decorre de estratégias praticadas por Governos anteriores, de doar ambulâncias para as Prefeituras Municipais, para não ter que financiar instalação de unidades mais complexas, com equipamentos especializados, seja de UTIs, como de ... para tratamento renal e outros.
Essas circunstâncias podem distorcer as estatísiticas, onde as contaminações são municipais, mas os óbitos não. Estatisticamente a taxa de letalidade dos contaminados, em municipios de pequeno porte, seria reduzida, próxima de zero, mas em contrapartida, aumentaria a taxa das grandes cidades e, principalmente, das regiões metropolitanas e das capitais dos Estado. Essas, em geral, concentram os equipamentos e pessoal para os tratamentos mais complexos, recebem os doentes com quadros sanitários mais graves e concentram os óbitos. 

As reações psicossociais tendem a agravar o quadro. As populações locais, alarmadas com a evolução das mortes, seja no exterior, como no pais, tendem, num primeiro momento, pressionar as autoridades para tomar providências para conter os riscos de contaminação. A alternativa que tem, é seguir as medidas dos grandes centros, e estabelecer medidas de isolamento, com fechamento do comércio e de outras atividades econômicas, dentro da visão de evitar - a todo custo - as aglomerações de pessoas.
Num segundo momento, há uma reversão no comportamento pessoal, que contamina outros virando um comportamento de massa: algumas pessoas se cansam do isolamento e quebram a quarentena, saindo de casa. Outras percebem que estão perdendo renda.
A partir dai torna-se difícil ou quase inviável manter um isolamento radical nesses pequenos municípios, a menos que ocorra um surto pontual.
Isso pode acontecer em municípios, com grande volume de recepção de turistas. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...