quinta-feira, 2 de abril de 2020

E depois do fim da guerra?


O COVID-19 é um coronavirus, velho inimigo da humanidade, que de tempos em tempos emerge, causando grande estragos. Combatido e derrotado, se recolhe, se modifica e volta de forma cada mais forte e mortal.
Iniciado o ataque provoca uma devastação e morticínio, levando os Governos a organizarem operações de guerra, para combatê-lo em seu território. Em países asiáticos, onde começou e se espalhou inicialmente, os respectivos governos estão ganhando a guerra, depois de muitas baixas e ainda sem conseguir vencê-lo totalmente.
Mas o vírus escapa para outros países, onde vai provocar a ampla devastação. Para combate-lo é necessária a participação de toda a sociedade, adotando as medidas preventivas para evitar a sua rápida disseminação e um sistema de saúde, para atender às contaminações já ocorridas. No caso dos países orientais já há uma cultura de prevenção, diante de outras doenças e epidemias, e responde rápida e amplamente às orientações sanitárias, ainda que com prejuízo das liberdades de ir e vir, assim como de participar de eventos de massa.
Já nos países ocidentais, as resistências em abandonar hábitos e comportamentos são grandes e comprometem as ações para conter o avanço das contaminações.
Diante das resistências da população, o Governo estabelece restrições, que como comprometem as atividades econômicas, são contestadas. Se diante das resistências e oposições a contaminação se mantém ampla, provocando colapso nos sistemas de saúde, os Governos são obrigados a medidas radicais, obrigando toda a população a permanecer em casa e paralisando todas as atividades econômicas.
Como das outras vezes, o virus acabará sendo vencido, mas deixando um legado de cidades e economias devastadas, que precisarão ser reconstruidas. 
Por quanto tempo demorará a guerra e qual será o nível de devastação? 
No caso brasileiro, o combate ao coronavirus deverá um prazo básico, em que estará sob controle. A partir dai, a evolução será residual.
O Brasil é um país de enorme extensão territorial e uma população superior a 200 milhões de habitantes, com distribuição desigual, concentrando-se no Estado de São Paulo e, dentro dele, na Região Metropolitana. É também onde está a maior concentração da produção e do consumo nacional, ou em termos macroeconômicos, onde está a maior parte do PIB brasileiro, tanto do lado da oferta, como da demanda. 
Por essa razão é onde se tem concentrado a maior parte dos casos de contaminação do COVID-19, mais rápida evolução e acompanhamento estatístico dos casos. Mas este já entrou em colapso, acompanhando o colapso dos exames para constatação da contaminação ou não, dada excessiva demanda.
O primeiro caso confirmado de contaminação ocorreu em 26 de fevereiro, de um empresário/executivo que foi contaminado durante uma viagem à Lombardia, o epicentro do ataque do novo coronavirus na Itália. Todos os primeiros casos confirmados foram de importação e da transmissão, em segunda geração, àqueles que foram contaminados pelo importador. Alguns eventos, como um casamento milionário, no litoral da Bahia, centro do turismo de "socialites" paulistas e outros, promoveu uma disseminação em maior escala. 
As autoridades sanitárias não anunciaram - provavelmente por não monitorar as etapas de contaminação pessoal e não terem a informação - as chamada contaminação sustentada. Mas em 13 de março, quando já havia a confirmação de 56 casos importados e sustentados, foi comunicado o primeiro caso de contaminação comunitária. É uma transmissão local, em que não se conhece o foco original, podendo ter ocorrido em transporte coletivo, aglomerações de pessoas e outras situações coletivas. 
O número de infectado subiu rapidamente, mas já subestimados, diante do maior tempo para conclusão dos exames, diante da explosão de seu número. 
Em função da transmissão sustentada e da transmissão comunitária, os Governos começaram a estabelecer restrições à movimentação de pessoas, principalmente nas grandes aglomerações urbanas. Tais restrições, interrompem a atividade econômica, gerando problemas para as empresas, para os trabalhadores e para a macroeconomia. 

Ainda não há vacinas específica para o tratamento. O tratamento é o tempo de recuperação, sustentada por respiração mecânica. Não ocorrendo complicações, por outras doenças, poderá ter alta em até 30 dias. O primeiro paciente constatado, em 26 de fevereiro, já teve alta.

A oferta de instalações e equipamentos para o tratamento é limitada, não estando preparada, como qualquer outro país, para picos de crise. A consequência é o grande aumento de mortandade, como está ocorrendo na Itália.

A estratégia sanitária é de "achatar a curva" para não sobrecarregar o sistema de saúde. Para isso, a única estratégia viável é o isolamento e distanciamento social, em termos simples: "não saia de casa".

Isso significa um grande abalo no consumo, comprometendo o funcionamento da economia. As autoridades econômicas se contrapõe às autoridades sanitárias. 

A omissão do Presidente da República, que recusou a reconhecer a crise, caracterizando-a como histeria coletiva e fantasia, criada pelos seus adversários, acompanhada pelo seu Ministro da Economia que ficou insistindo em aproveitar o momento para aprovar as reformas estruturais fez com que o Ministro da Saúde, assumisse o total comando da guerra contra a expansão do COVID-19, no que tem sido acompanhado por vários Governadores de Estado. 

Com isso o Brasil não irá repetir a mesma tragédia da Itália, onde as disputas políticas e o lobby das grandes empresas retardou as medidas de distanciamento social. Essas só vieram a ser adotadas, já de forma radical, quando o país todo estava contaminado, em progressão geométrica. Esse pico levou a uma elevada mortandade, pela insuficiência de condições de tratamento. 

Com as medidas restritivas de circulação de pessoas, em locais públicos, aglomerações coletivas e outras deverá haver uma redução da progressão de novos casos. Isso porque  há uma contaminação silenciosa de infectados assintomáticos que não apresentam os sintomas, mas contaminam terceiros. Ocorreria com pessoas mais jovens e saudáveis, mas que contaminam pessoas mais idosas e saude mais frágil, com a manifestação, em até 14 dias, a partir da contaminação. Por isso a recomendação do isolamento de idosos, por pelo menos, 14 dias. Dentro dessa perspectiva, em São Paulo, a curva de contaminação deverá ter crescimento exponencial, até o final de março, passando - já em abril - a crescimentos moderados. Primeiramente haverá uma redução na progressividade do crescimento, em seguida uma redução absoluta, com o que voltará a crescer, para depois seguir uma trejatória decrescente.
A curva de óbitos também deverá crescer exponencialmente, isto é, rapidamente, ainda no mês de março e, provavelmente início de abril. 
São Paulo, além da transmissão comunitária local está sujeita à importação interna, em função de doentes ou suspeitos que buscarão assistência médica em São Paulo.
A atividade econômica terá forte retração nas duas próximas semanas, com uma incógnita na segunda semana, que será a santa, com um "feriadão". Depois da semana santa a tendência é de uma lenta retomada, com mais um feriado na terceira semana, por conta do Dia de Tiradentes, dia 21 uma terça-feira. Na última semana, mais um feriado, já entrando em maio: dia 1º uma sexta-feira. 
Não temos idéia, nem avaliações de terceiros sobre os prováveis comportamentos dos paulistas e paulistanos nesses próximos feriadões.
Para o comércio, a data mais importante é o dia 10, domingo, dia das mães.
As principais restrições governamentais à movimentação de pessoas, vão - no máximo - até o dia 30 de abril.
A eventual prorrogação das restrições dependerá da evolução da trajetória de contaminação. 






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