Tudo ou nada! Deu nada

Paulo Guedes percebeu uma oportunidade histórica e jogou todas as fichas numa reforma da previdência ampla, contando com a sua rápida aprovação no Congresso Nacional, na esteira do apoio popular de Jair Bolsonaro, eleito com 57 milhões de votos e apoio posterior de muitos outros com a esperança de mudanças e recuperação da economia.
Errou na aposta, por não ter percebido que o principal adversário da sua proposta de reforma da previdência era o próprio Bolsonaro. 
Não por falta de antecedentes, mas por uma visão otimista de que Bolsonaro avalizaria as suas propostas em nome da recuperação econômica. Ele deu o aval, mas não assumiu a autoria, não se tornou o principal protagonista. 
"Eu não gosto, não estou de inteiro acordo, mas já que é para o bem do Brasil, eu apoio e dou toda liberdade ao Paulo Guedes para tocar em frente". 
Já os deputados reagiram - igualmente - de forma pragmática: "também não gosto, não estou de inteiro acordo, meus eleitores também não gostam, mas como é para o bem do Brasil, votarei a favor, mas preciso levar compensações aos meus eleitores: preciso de cargos e verbas. Com Guedes posso conseguir verbas. Cargos só com o Presidente. Se não tenho compensações a oferecer aos meus eleitores, não posso ficar inteiramente contra eles. Votarei contra."

Tanto o Presidente como os deputados tem que prestar contas aos seus eleitores. Paulo Guedes não foi eleito. Teve e tem o apoio do mercado. Em função dele deu votos a Jair Bolsonaro. Quem tem que prestar contas ao mercado é Bolsonaro. Não basta Paulo Guedes. Este não consegue mobilizar suficientemente Jair Bolsonaro para cobrar dele os votos que o ajudaram a ser eleitos. Sem essa mobilização, sem essa pressão Bolsonaro não acha que os votos do mercado foram significativos ou decisivos para a sua eleição. Os evangélicos, a turma da bala, do agronegócio, os olavistas e outros lhe deram mais votos que o tal "mercado". Tampouco foram importantes para financiar a sua campanha. Ele só contou com o apoio efetivo e declarado de uma dúzia de empresários. 
Tampouco os empresários elegeram uma bancada significativa, embora a uma grande parte dos deputados se autodeclare empresário, como profissão. 

Jogando para o "tudo ou nada", Paulo Guedes está perdendo e o risco de ficarmos sem nada é nosso. 

(cont)

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