Eleito com mais de 57 milhões de votos de brasileiros esperançosos por grandes mudanças que acreditaram no seu carisma e determinação, alguns desanimaram com o início do seu governo.
Permitindo o ativismo de seus filhos e do guru deles e do próprio Presidente, deu margem ao desenvolvimento, junto à população, de que ele não mandava. Era mandado. Um sinal de fraqueza, inaceitável, para o comandante da tropa.
Os primeiros 100 dias que deveriam caracterizar a "lua de mel" do novo governo com o povo, pressionando o Congresso a aprovar a pauta do Governo, foram de frustração.
A pauta do Governo foi dominada pela Reforma da Previdência, na realidade, uma pauta de Paulo Guedes, que Bolsonaro nunca assumiu plenamente.
A pauta Bolsonaro ficou em segundo plano, até a mudança do Ministro da Educação. Velez, um títere do olavismo, inteiramente acuado, deu lugar a um provocador que cumpriu um papel estratégico. Espicaçar o inimigo que estava dormente. Movimentou-se, foi às ruas e deu margem à igualmente dormente turma bolsonarista que, em reação, também foi às ruas e mostrou a Jair Bolsonaro que ele mantinha um apoio popular real, além do virtual, das redes sociais.
As redes sociais são apenas o detonador da mobilização popular que é alimentada pela mídia tradicional e leva às manifestações reais.
A disputa interna de poder era pela tutela de um Presidente fraco, voltado para questões menores e "bobagens" do que para as grandes questões nacionais. De um lado a ala militar, de outro os olavistas, com os filhos do ex-capitão.
Diante do confronto, Jair Bolsonaro resolveu assumir plenamente a Presidência, na base do "aqui quem manda sou eu". Reconheceu a importância de Olavo de Carvalho, o agraciou pela sua contribuição passada, mas mandou calar a boca, porque não estava mais ajudando no presente. Mandou ou filhos se conterem e, em contrapartida, demitiu o General Santos Cruz. Isso porque não podia demitir o Vice-Presidente General Mourão, os dois principais protagonistas da outra ponta.
Não esperou por Sérgio Moro, para implantar a sua agenda armamentista e com a equipe palaciana de áulicos, editou um decreto, de constitucionalidade duvidável. "É o que o meu povo quer. Eu quero assim e sou que mando. Vai ser assim".
Mas foi com Sérgio Moro testar a receptividade pública, indo ao estádio de futebol. Não foi vaiado, ao contrário foi aplaudido, embora isso fosse mais destinado ao seu Ministro da Justiça e Segurança Pública. Repetiu a dose, na abertura da Copa América, sem maior repercussão.
Sentindo-se mais forte, demitiu - em manifestação pública, difundida pela mídia tradicional - os Presidentes do BNDES e dos Correios, esse um general.
Em Santa Maria voltou às ruas, pela primeira vez, depois da facada de Juiz de Fora, para caminhada junto com o povo. A receptividade calorosa do povo santamariense, onde há um grande reduto petista, fortaleceu a sua sensação pessoal de recuperação do prestígio junto ao "povo".
Com a acolhida na Marcha para Jesus, que reune milhares de pessoas, muito mais que as manifestações politicas, Bolsonaro sentiu-se mais forte para se colocar como opção para 2022.
Percebeu, seja pelas manifestações populares, como pelos diálogos com seus interlocutores, o apoio ao estilo "mandão". É o que os seus adeptos esperam dele. Nada de articulação, de negociação. É o "eu mando e quem não gostar pede para sair. Se não eu tiro".
"Vou buscar e tenho o apoio da população para pressionar o Congresso a aprovar o que eu quero".
Esse exercício pleno de autoridade pode levar a um autoritarismo, com forte reação dos oponentes, dentro de alguns cenários básicos: não apoio da população, com manifestações populares decrescentes, reforçando a tutela para evitar a deterioração do Governo: o apoio amplo da população dando respaldo a soluções autoritárias.
(cont)
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