sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Uma inflação clássica

  Com uma prolongada estagnação da economia, após uma recessão, mantendo um elevado nível de desemprego, o desequilíbrio entre uma oferta ampliada para atender a uma recuperação da macroeconomia e uma demanda reprimida provocou a desinflação dos preços.

O Brasil chegou a uma estabilidade monetária, não obstante um acentuada elevação cambial, decorrente da movimentação de capitais, com o exterior, acentuada pelas ações especulativas do mercado.

Com a pandemia do coronavirus SARS-COV 2, retendo as pessoas em casa, a demanda geral foi contida, com exceção dos gastos básicos com a alimentação, suprida - em grande parte - pelas entregas a domicilio, ou compras locais, sem problemas maiores de abastecimento e impacto nos preços. A produção agropecuária brasileira era suficiente para atender ao mercado interno e ainda exportar.

Um primeiro grande impacto ocorreu ainda no final de 2019, quando a China, começou a recompor ou seus estoques, importando mais carnes bovinas e suínas, principalmente do Brasil, provocando um substancial aumento dos preços internos. Na sequência os preços refluiram, mas não inteiramente. 

A concessão de um auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 a  cerca de 80 milhões de pessoas, com uma injeção de mais de 100 bilhões de reais para o mercado da pobreza gerou uma inflação  nos preços dos alimentos básicos, movidos pelas ações dos produtores e comerciantes para recuperação dos seus preços, contidos durante a recessão e estagnação. Como sempre, acentuada pelos movimentos especulativos.

Colocaram a culpa nas exportações e essa narrativa tem sido aceita para enfatizar os efeitos benéficos do auxílio-emergencial e mascarar os danos colaterais. 

O fato real é que parta do auxílio-emergencial foi "comido" pelos aumentos de preços, notadamente no arroz, feijão - que não tem grandes volumes de exportação - e nas carnes e agora no óleo de soja - que sofrem o impacto das exportações.

O arroz e o feijão podem ser importados, mas com o "dólar nas alturas", os preços continuarão elevados. As reduções só ocorrerão com as novas safras.

Com a nova onda do coronavirus na Europa e a eventual vitória de Biden, nos EUA, gerando  a expectativa de retomada comercial com a China, as exportações brasileiras não seguirão o mesmo ritmo de 2020, gerando estoques, em alguns produtos que serão "desovados" no mercado interno a preços promocionais.

Internamente, não há condições fiscais de sustentar o mesmo volume de auxílios à população mais pobre, a menos que o Governo mude a sua posição de proteger os rendimentos e ativos dos mais ricos, considerados essenciais para os investimentos.

Tais acontecimentos atuais irão se refletir na contenção da inflação de alimentos, já no início de 2021.

Mas o processo inflacionário disparado pela inflação dos alimentos, diante da retomada geral das atividades econômicas poderá recrudescer em 2021.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Uma trégua relevante

 A trégua estabelecida esta semana, entre Lula e Ciro Gomes, altera os cenários de curto e médio prazos. 

A curto prazo, pode assegurar a permanência da esquerda na Prefeitura de Fortaleza, com o Capitão Wagner ora com preferências de votos suficiente para chegar ao segundo turno, concorrendo com um dos dois candidatos da situação: Sarto do PDT e Luzziane pelo PT. O que for, deverá ter o apoio pleno do eleitorado do outro, para em conjunto derrotar Wagner que representa o bolsonarismo, embora não tenha o apoio declarado de Jair Bolsonaro.

A unificação também poderá ocorrer no Rio de Janeiro, onde Crivella, o candidato apoiado por Bolsonaro, vem perdendo preferências de votos, podendo ser substituído, no segundo turno pela Delegada Marta Rocha (PDT) ou por Benedita da Silva (PT). Para assegurar essa presença, a trégua poderia levar à desistência - ainda no primeiro turno - da pior colocada nas pesquisas entre as duas. O que é pouco provável.

Dentro dessa perspectiva Bolsonaro não conseguiria a eleição de nenhum dos seus apoiados expressamente ou que usaram o seu apoio consentido nas grandes capitais.

Significaria que Jair Bolsonaro ainda teria grande apoio popular pessoal, mas com pouca capacidade de influenciar o voto dos seus seguidores. 

A médio prazo, para as eleições de 2022, Bolsonaro teria que enfrentar um candidato de esquerda, sendo o cenário mais provável Ciro Gomes, em função da persistência dos impedimentos judiciais de Lula. O PT não teria candidato, tampouco os demais partidos de esquerda, com exceção do PSOL. Embalado com os resultados da eleição municipal de São Paulo, sem conseguir vencer a final, Guilherme Boulos tentaria - novamente - a Presidência da República, mesmo que seja apenas para reforçar a formação de uma significativa bancada de parlamentares no Congresso Nacional.

O centro-direita, provavelmente com Dória e mais um candidato do centro-centro levariam, as eleições de 2022 ao segundo turno, dada a dispersão dos votos, contrariando a expectativa de Bolsonaro de vencer no primeiro turno. 

terça-feira, 27 de outubro de 2020

A grande onda e os "surfistas"

  Em 2018, uma grande onda - um "tsunami" - varreu as praias políticas do Brasil, "matando" dezenas de velhos políticos que não conseguiram ser reeleitos.

Essa onda trouxe um novo Presidente, meia dúzia de Governadores de Estado, mais de 50 deputados federais, eleitos pelo PSL e outros partidos e centena de deputados estaduais. 

Segundo alguns, um grupo de surfistas que manobrando habilmente sobre as ondas chegaram vitoriosos à praia. Para outros, a onda trouxe o lixo que pairava na superfície ou a baixa profundidade do mar. 

A onda teve origem ou epicentro no desejo de mudança da sociedade, indignada com a amplitude da corrupção nas coisas públicas, no cansaço com as nefastas práticas da "velha política" - disfarçadas de "presidencialismo de coalizão -, no sufoco do patrulhamento do "corretamente político", nos receios e medos do aumento da violência urbana a rural e na descrença da política econômica estatizante.

Na realidade, o tsunami foi de mudança e não bolsonarista, como muitos - inclusive aqui, neste blog - vinha sendo colocado e analisado. O bolsonarismo foi o que veio surfando sobre as ondas. 

O "tsunami" da mudança perdeu força. Em grande parte por decepção ou desalento. A sociedade continua ansiando por grandes e profundas mudanças na política brasileira, mas "perdeu o rumo". Os que vieram surfando nas ondas não tem cumprido os designios prometidos ou esperados. O Presidente já abandonou o comando do combate à corrupção, alegando que o inimigo foi exterminado ou derrotado, associou-se à "velha política", mantendo-se fiel na defesa de mudanças de valores nos costumes e na sua visão de combate à violência. Mantém, no discurso, o apoio à política econômica liberal, mas é seduzido pelas políticas de maior intervenção estatal, no campo social, em função do apoio popular, apesar do impacto negativo nas contas públicas.

Alguns dos Governadores "surfistas" da onda da mudança, já estão afastados temporariamente, mas com risco de afastamento definitivo. Outros enfrentam problemas de governabilidade, por inexperiência ou falta de apoio político e de denúncias de corrupção. 

Parte da bancada dos "surfo-bolsonaristas" já não mantém os laços de solidariedade ao Presidente. 

As eleições de 2020 indicam a manutenção do desejo de mudança, por parte da sociedade, mas apenas o desejo pela honestidade dos candidatos ainda é predominante, de forma generalizada. Os demais perderam atratividade. Mas há um crescimento do segmento que prioriza a segurança como a principal expectativa dos novos políticos: de forma desigual, entre as diversas capitais brasileiras.

Em 2022 uma nova onda de mudança poderá ser formada como reação da sociedade à frustração com os "surfistas" de 2018.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Confronto entre as alas palacianas

  Após um longo período de trégua, com o desvio das batalhas para outros territórios, a disputa entre a ala militar e a ala ideológica pelo poder de influência sobre o Presidente Bolsonaro, foi retomada com a bomba lançada por Ricardo Salles contra o General Ramos.

A ala ideológica tem a liderança do filho Eduardo Bolsonaro, com o apoio dos irmãos. Controlam o Ministério das Relações Exteriores e o da Educação. Tem a adesão do Ministério da Mulher e a do Meio Ambiente. Não tem nenhum cargos ministerial dentro do Palácio do Planalto, mas como filhos tem acesso direto ao pai e mantém sectários do bolsonarismo em gabinetes de segundo e terceiro escalão. Tem como "ponta de lança" o Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, que está em saída para o TCU.

Aparentemente sem força suficiente, o petardo de Salles contra Ramos teria sido uma reação impulsiva ou a ala ideológica teria percebido um enfraquecimento da ala militar, junto ao Presidente. 

Diante do confronto instalado, Bolsonaro terá que arbitrá-lo, buscando o armistício, ou optar por uma das alas, o que seria caracterizado por demissão ministerial: Salles ou Ramos.

O cenário mais provável é do armistício o que já está em andamento com Ramos não respondendo e um recuo de Salles. Bolsonaro deu manifestações de afago e apoio a ambos. Mais este embate poderá ser superado, mas o confronto potencial continua latente.

Com a eventual reeleição de Trump, o que depende de uma virada, na reta final, a ala ideológica se sentirá fortalecida, podendo avançar no atendimento a Israel para mudar a embaixada brasileira para Jerusalém e apoio de Trump contra a China, afetando o agronegócio. Poderá conseguir a mudança, dentro do Planalto, de alguns Ministros de origem militar, assumindo a hegemonia na influência sobre o Presidente, dentro daquele palácio.

Além da reação do agronegócio, que ainda está predominantemente a favor de Bolsonaro, poderá ter a reação contrária da equipe econômica que vem negociando e tem expectativa de grandes investimentos do mundo árabe e dos chineses no Brasil.

A hegemonia da ala ideológica poderia levar a uma crise nas contas externas, um dos pontos positivos da macroeconomia.

O enfraquecimento da ala militar poderá afetar o apoio das Forças Armadas a Bolsonaro, reduzindo ainda mais a força de pressão da qual se valia para pressionar o Judiciário e o Congresso. No STF dependerá da atuação da sua base de apoio, formado por Toffolli, Gilmar Mendes, agora reforçado por Kássio Marques, em conseguir a adesão segura de mais 3 Ministros, formando a maioria. Não parece viável, a curto prazo. No Congresso dependerá cada vez mais da cooptação, a preços altos, do Centrão.


A vitória da ala militar manteria viva a pressão sobre os outros poderes, embora a perspectiva antidemocrática esteja mais distante de ocorrer. O receio da tentativa, no entanto, remanesce, requerendo que os pro-democracia mantenham se alertas. 

Associada a uma não reeleição de Trump, a ala ideológica se retrairia, mantendo as posições dentro do Governo, mas sem a mesma força. O Brasil não mudaria a Embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, tampouco assumiria uma posição forte contra a China.

Mas a política externa brasileira passaria a dar mais importância às questões geopolíticas e geomilitares do que às ideológicas. 

A principal preocupação seria com as mudanças de poderio militar no mundo e de seu impacto na guerra fria.

A ala militar defende a retomada do desenvolvimento através do aumento de investimentos públicos, em infraestrutura, contrapondo-se à politica fiscalista do Ministério da Economia.

Não tem se oposto à privatização e à abertura do mercado para investimentos externos, mas mantém o receio de que os chineses aproveitem a oportunidade da crise, para "comprar o Brasil" a preços depreciados.

sábado, 24 de outubro de 2020

Uma sucessão de batalhas

  Dentro da guerra da eleição de 2022, Dória fez um avanço com a vacina "chinesa" conquistando posições dentro da Administração Federal, dentro da perspectiva de que seria primeira vacina contra o coronavirus SARS-COV 2, pronta para ser aplicada largamente.

Voltado para outras questões Jair Bolsonaro não percebeu, de imediato, a operação, cercada por argumentos científicos.

Ao perceber lançou um "fogo de barragem" para impedir o avanço da operação e satisfazer os seus seguidores radicais. Enquanto o público estava entretido com a pirotecnia, buscou reorganizar a sua tropa, desmentindo o que os subordinados tinham aceito ou admitido.

Conteve, momentaneamente, o avanço do adversário, mas enfraqueceu vários flancos, deixando-os mais vulneráveis para as batalhas subsequentes.

A primeira é a batalha da imagem e da comunicação, em que estava à frente. Tinha conseguido até agora, caracterizar a vacina CORONAVAC - a marca da vacina desenvolvida pela SINOVAC, uma empresa chinesa - como a "vacina chinesa", com conotação pejorativa, repetindo e disseminando a narrativa de Donald Trump.

Toda a mídia, com poucas exceções, estava se referindo à vacina da SINOVAC, como a "vacina chinesa". Bolsonaro tem demostrando uma grande capacidade de pautar a mídia. 

A explosiva e emotiva reação de Bolsonaro fez a mídia perceber a cooptação e vem passando a se referir à vacina, pela marca (CORONAVAC) ou pelo fabricante dessa (SINOVAC). Cada vez mais será caracterizada como a "a vacina do Butantã", a fabricante brasileira da vacina, a partir da tecnologia e insumos fornecidos pela SINOVAC. 

No campo político reuniu a maioria dos Governadores, assim como o Presidente da Câmara e outros parlamentares contra a decisão de não comprar a vacina do Butantã. Em contrapartida conseguiu formar uma base aliada no Senado.

O problema maior é com o Exército, ao obrigar o General Pazzuelo a desfazer os compromissos assumidos com o Instituto Butantã e com os Governadores. 

Como militar disciplinado o General não teria assumido os compromissos, sem antes consultar o Presidente, ao qual deve ter dito que era a compra de uma vacina brasileira, a primeira que deverá estar chegando ao mercado. E teve "sinal verde".

"Manda quem pode, obedece quem tem juízo". É a máxima do modelo da chefia autoritária, em desuso, na maioria das grandes empresas. Bolsonaro manda e o General, institucionalmente subordinado, obedece. Mas ter que assumir inteira responsabilidade por um ato que não foi só seu, é uma humilhação que afeta a dignidade da corporação, dividida em relação ao ocorrido. A hierarquia e a disciplina não justificam o nível de sumissão.

A isso se soma um novo confronto dentro do Governo entre a ala ideológica e a ala militar. Os filhos resolveram radicalizar e atacar a ala militar. Poderão até vencer a batalha com a saida do General Ramos, mas enfraquecerá o apoio das Forças Armadas ao Governo. 

Com a proximidade das eleições presidenciais norte-americanas, a ala ideológica deve estar contando, com a reeleição de Trump, que repetiria a façanha de 2016.

A ala ideológica não tem força militar, não tem força judiciária, não tem força política, apenas o apoio popular dos sectários do bolsonarismo. Piorará as condições de governabilidade de Bolsonaro, que ficará mais dependente do Centrão. A sua cartada está na reeleição de Davi Alcolumbre para a Presidência do Senado e na eleição de Arthur Lira, do Centrão, para a Presidência da Câmara dos Deputados. 

Alcolumbre articulou bem a aprovação de Kássio Marques  para o STF, com o que espera reverter uma posição desfavorável à aprovação da interpretação da cláusula constitucional que permitiria a reeleição. 


Ainda não está assegurada.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Novas forças políticas em crescimento

 Novas, ainda que não tão novas, forças políticas estão em crescimento em 3 das maiores capitais do Brasil, com uma característica comum: são movimentos alternativos aos Governos atuais. São oponentes dos "donos do poder".

Mas com matizes ideológicas diferentes. 

Em São Paulo e no Rio de Janeiro são de esquerda, no Recife é de centro direita, em contraposição ao centro-esquerda que domina há muito tempo a Prefeitura da Capital e também o Governo de Pernambuco. 

Todas ameaçam a configuração dos segundos turnos.

A principal mudança poderá ocorrer no Rio de Janeiro, com a perda de substância do eleitorado de Marcelo Crivella. O apoio de Bolsonaro ainda que não explicito, mas consentido, pouco contribui positivamente, mas amplia a rejeição. Teria agora uma rejeição de 58% dos eleitores.

Com isso a Delegada Marta Rocha, do PDT, cresce como opção "aos mesmos de sempre", ameaçando a eleição de Eduardo Paes, caso chegue ao segundo turno.  A pesquisa do Datafolha de 20/21 de outubro indica que Paes seria derrotado no segundo turno. Paes tem uma rejeição de 31, enquanto a delegada tem apenas 7. É um cenário indesejável de Paes, que prefere concorrer com Crivella.

O PDT é a força remanescente da esquerda carioca/fluminense, com o "derretimento" do eleitorado do PT e "aborto" do PSOL, que perdeu as suas principais lideranças no Estado. 

O PDT já teve muita força política no Rio de Janeiro, com Leonel Brizola e "derreteu". Agora tende a renascer no principal reduto eleitoral de Jair Bolsonaro.

Em São Paulo, Guilherme Boulos, segue em tendência de crescimento, ameaçando a presença de Celso Russomanno no segundo turno. Mais uma vez Russomanno não consegue manter a preferência inicial de eleitores que o indicavam por ser o mais conhecido. Com o início das campanhas aqueles migram para outros candidatos, com Russomanno mantendo apenas o seu núcleo duro, que é inferior a 20%, nível indicado pela pesquisa do Datafolha de 20/21 de outubro. O apoio de Bolsonaro pouco melhorou a preferência do eleitorado por Celso Russomanno, mas ampliou a rejeição.

Ganhou no segmento dos eleitores com renda até 2 salários-mínimos, mas perdeu em todos os demais, com migração diversificada. 

Tanto Boulos como Russomanno tem perspectiva de chegar ao segundo turno contra Bruno Covas. Não será uma disputa entre o melhor, mas o menos pior: o menos rejeitado, prevalecendo o voto útil. Quaisquer que sejam os candidatos, tenderão a perder para os votos nulos e brancos.

No Recife, a nova força emerge com a Delegada Patrícia Domingues, uma figura política híbrida, passando a conquistar o eleitorado de centro-direita, que vinha mantendo a preferência por Mendonça Filho do DEM. Conta com o apoio da dissidência do PSDB, liderada por Daniel Coelho, atualmente no Cidadania, que abriu mão da sua candidatura a favor de Patrícia. 

Estaria unindo os insatisfeito com os Governos do PSB, conquistados pela liderança de Eduardo Campos e como alternativa à disputa familiar entre os descendentes de Miguel Arraes. Esses manterão as suas candidaturas, mas no segundo turno, o eleitorado de esquerda tenderá a se concentrar em João Campos, caso a adversária seja a Delegada Patrícia.

Mas João Campos é o que tem maior índice de rejeição, reunindo todo "voto útil" a favor da Delegada. 



quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Uma inovação fracassada?

  O  Partido Novo surpreendeu em 2018 com uma votação expressiva do seu candidato à Presidência João Amoedo, a eleição de Romeu Zema para o Governo de Minas Gerais e a formação de uma bancada federal, inusitada para um partido em primeira eleição.

Diante do sucesso, movido pelo desejo de sociedade pela renovação na política, buscou inovações adicionais, como a seleção dos seus candidatos a Prefeito, de forma profissional, através de "head-hunters". Em São Paulo, esse processo descartou a candidatura de Emerson Kapaz, por ser um veterano, envolvido em disputas políticas, para escolher um novato, ainda que ocupante anterior de cargos não eletivos, na Administração Pública: Felipe Sabará.

Ele teria rompido um dos compromissos assumidos ao ser formalizado, como candidato do partido: seguir rigorosamente os princípio e as posições nacionais do Partido.

Sabará assumiu uma posição pessoal de apoio a Bolsonaro, esperando ter um aceno desse a seu favor.

O Partido Novo, embora tenha apoiado, em bloco, a maior parte das propostas governamentais, principalmente na área econômica, definiu-se como independente. 

O processo de recrutamento e seleção profissional tem sido positivo para escolher bons gestores, mas não se mostrou eficaz para a escolha de bons políticos. 

Em primeiro lugar é preciso definir o perfil de um bom político, para definir os parâmetros de seleção.

Duas condições são preliminares: capacidade de conquistar votos a seu favor ou do partido; vocação ou competência de articulação.

Dependendo dos princípios partidários, honestidade é condição eliminatória. Não tem sido para a maioria dos partidos. 

Consistência ideológica: não é apenas pelo discurso atual, mas respostas qualitativas a uma dezena de questões específicas. O mais comum é de concordância ou não com frases, mas a justificativa da escolha indicará consistência ou não.

Há outros elementos, mas a expulsão de Felipe Sabará definida pela Direção Nacional do Partido Novo, indica que a seleção profissional falhou nesse item. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Acordos interessantes

  Os acordos comerciais assinados pelo Brasil com os EUA estão no bojo de uma disputa entre os EUA e a China, focado, no momento, na batalha pelas tecnologias de base das telecomunicações.

A China está na frente, com larga vantagem, sobre as empresas ocidentais, na tecnologia 5-G e os EUA, com Trump na Presidência, quer barrar o avanço da Huawei num dos maiores mercados nacionais, depois dos EUA: o Brasil  com uma população de mais de 200 milhões de pessoas, com o volume de aparelhos celulares, superior ao da população. 

Para isso oferece um bilhão de dólares, ao Brasil, para evitar que a infraestrutura de comunicações seja dominada pelos chineses. 

A par da questão dominante, os acordos preveem diversos pontos interessantes para o Brasil,  como as cláusulas anti-corrupção, ou mais precisamente, anti-concussão.

Concussão é a prática do agente público exigindo ou extorquindo o empresário privado de uma propina para liberar pagamentos, relevação de penalidades e outras eventuais necessidades do interessado.

Essa prática que grassou, no país, nos últimos anos, afastou os investimentos diretos das empresas norte-americanas, principalmente no setor de óleo&gás, deixando o espaço para as empresas asiáticas.

Algumas operando no Brasil, deixaram o país e outras desistiram de vir, apesar das imensas oportunidades geradas pelo pré-sal. 

Não aceitaram as práticas, pelo risco de serem punidas no país de origem, enquanto o Brasil era leniente.

Os EUA querem que o Governo Brasileiro coiba aquelas práticas danosas.

A partir da consolidação dos acordos, as empresas norte-americanas do setor de óleo & gás tenderão a retornar, seja nas privatizações das refinarias, como na exploração do pré-sal. 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Chico Rodrigues, lídimo representante da velha política

Chico Rodrigues emergiu das trevas do Baixo Clero e foi tornado uma celebridade internacional, pelo dinheiro que escondia junto à bunda. 

Veio  à luz para fazer companhia ao seu companheiro de Baixo Clero da Câmara dos Deputados, ao longo de mais de 20 anos. Tem outro  companheiro emergido do Baixo Clero na Presidência do Senado.

Chico Rodrigues é uma típica figura da "Velha Política", com grande presença e eleitorado estadual, mas pouco efetivo na política nacional.

Engenheiro agrônomo formado em Pernambuco migrou para Roraima, na mesma leva dos técnicos pernambucanos para ajudar na administração do novo estado, até então um território federal, entre eles Romero Jucá. Logo ocupou a Secretaria da Agricultura.

Passou por vereança em Boa Vista, foi eleito deputado federal, pela primeira vez, em 1990, sempre associado aos "donos do poder" em Roraima. Voltou à Secretaria da Agricultura no primeiro mandato de Neudo Campos, o qual foi reeleito e depois renunciou para não ser cassado. Foi reeleito sucessivamente, a deputado federal, até 2010, quando disputou a Vice-Governança na chapa de José de Anchieta, então oposição a Neudo Campos, sendo eleitos.

A correlação de forças mudou, José de Anchieta foi cassado, com Chico Rodrigues, assumindo o Governo. Disputou a reeleição, mas foi derrotado por Sueli Campos, esposa de Neudo Campos, que assumiu o lugar do marido, então impedido, sendo eleita Governadora.

No final do mandato Chico Rodrigues também o perdeu por decisão do TRE,  por irregularidades eleitorais da chapa liderada por José de Anchieta. 

Após um intervalo de 4 anos, quando transitou pelo PSDB, candidatou-se ao Senado pelo DEM, dentro da onda bolsonarista, recebendo o apoio expresso de Jair Bolsonaro, quando declarou um "quase casamento consensual".

Eleito em primeiro lugar, acompanhado por Mecias de Jesus, frustrando a reeleição de Romero Jucá, que ficou em terceiro com uma pequena diferença de votos. Com o apoio do Presidente Jair Bolsonaro assumiu diversos "lotes" da Administração Federal no Estado ou na Região, até então dominado por Romero Jucá, indicando os seus apaniguados.

Operava mais como despachante dos interesses estaduais, através das emendas parlamentares, com o que garantia as suas sucessivas reeleições.

Flagrado com dinheiro na cueca, não importam as explicações, tornou-se um "contaminado" que ninguém o quer por perto.

Bolsonaro já o deixou na estrada, como já vez com outros velhos amigos, o DEM quer expulsá-lo. A preocupação é que com a sua resistência mais coisas venham a tona, inclusive corrupção dentro Governo, o que é negado peremptoriamente.

Apenas o seu companheiro Davi Alcolumbre ainda tentava salvá-lo, nos bastidores. Não adiantou.

Pediu licença por 121 dias, mas não terá condições de retornar. Tornou-se uma figura incômoda que ninguém quer acolher.

Será sacrificado no altar da Nova Política, como típico representante da velha política.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O "agro-humanista" é o futuro do Brasil

Os grandes produtores de grãos já semearam a produção da nova safra, a qual deverá alcançar novos recordes, impulsionado pelos bons resultados da safra deste ano. 

Por outro lado, o mundo estará demandando os grãos e outros produtos do agronegócio para atender a consumos maiores por alimentos, além da reposição de estoques.

Diante da pandemia e, principalmente, vencida a pandemia, depois dos cuidados com a saúde, a principal prioridade dos Governos será a segurança alimentar. Um amplo desabastecimento de alimentos, ou forte aceleração nos preços dos mesmos, "derruba Governos".

Para muitos países, com carência de terra e de outras condições para a produção agro-pecuária o Brasil é a "tábua de salvação".

É uma grande oportunidade para o Brasil. 

Mas vê-la apenas pela dimensão econômica leva ao risco da especulação, da exploração indevida da oferta brasileira e organização ou fortalecimento de cartéis e monopólios. 

Será terrível, mas não está fora de risco, o aproveitamento daqueles que só querem ampliar os seus ganhos e deixar milhões de pessoas sem comida, porque não chegarão a elas.

Sem a incorporação da dimensão  humanista, no sentido de destinar as grandes produções do seu agronegócio para vencer a fome no mundo, as contestações mundiais - usando os argumentos ambientais - serão crescentes.

Por outro lado, o agronegócio humanista ajudará a melhorar a imagem internacional do Brasil. 


domingo, 18 de outubro de 2020

A missão humanitária do agronegócio

 O agronegócio brasileiro é indubitavelmente um grande sucesso produtivo e econômico. Enfrenta contestações ambientais, mas tem uma missão mundial, mais ampla, que precisa ser melhor entendida pela sociedade brasileira: contribuir decisivamente para acabar com a fome no mundo.

O mundo já tem 7,5 bilhões de pessoas e, segundo a FAO, em 2019, ainda 690 milhões passaram fome. 

A população mundial continua crescendo e poderá chegar a 9 bilhões em 2035 e 10,5 em 2050 (segundo as estimativas da ONU).

A população  dos países de renda alta tende à redução progressiva e ao envelhecimento da sua população, sendo cada vez mais exigente em relação à saudabilidade dos alimentos.

Os países de renda média manterão pequeno crescimento, no conjunto, mas não de forma uniforme. O Brasil tende a seguir a tendência dos ricos, enquanto China e outros países asiáticos ainda seguirão crescendo, ainda que a taxas menores.

Os maiores crescimentos serão em países de renda baixa, principalmente na África e na Ásia, onde a perspectiva é de parte da população ainda passe fome.

Mesmo em países de renda média como o Brasil, dada a desigualdade de renda, parte da população ainda passará fome. Segundo a FAO, no período 2017 a 2019, antes da pandemia do novo coronavirus, 43 milhões de brasileiros teriam passado fome.

O Brasil é o país que tem as melhores condições para ajudar a eliminar a fome no mundo. Além das condições climáticas favoráveis, através da tecnologia passou a aproveitar terras anteriormente improdutivas. E conta com empreendedores inovadores, dispostos a investir continuamente, no aumento  da produtividade e melhoria da qualidade dos produtos.

Para efetivar o aumento da produção de alimentos e cumprir a missão humanitária contra a fome precisará superar diversos desafios:

  1. viabilizar e reduzir o custo logístico que encarecem o preço dos alimentos na ponta final para o consumidor, tornando-os inacessíveis, para os mais necessitados;
  2. aumentar a produção, sem promover desmatamento, utilizando preferencialmente (ou exclusivamente) áreas degradadas, mediante uso intensivo de tecnologia para a sua recuperação;
  3. superar a imagem negativa em âmbito internacional do agronegócio, em relação ao impacto ambiental;
  4. processar os seus insumos alimentares em comida pronta ou semi-pronta para consumo, uma vez que as pessoas precisam comer a comida pronta e não as matérias-primas;
  5. garantir a saudabilidade dos alimentos;
  6. evitar a monopolização ou  cartelização  (ou garantir a livre concorrência) na comercialização ou processamento dos alimentos;
O principal protagonismo no enfrentamento dos desafios deve ser do próprio agronegócio, com apoio institucional do Estado. Não pode esperar por iniciativas do Governo, mas sair à frente e conquistar o apoio  da sociedade urbana brasileira.

Não bastam campanhas de que Agro é tech, agro é pop. É preciso demonstrar que Agro é sustentável e que Agro tem missão humanitária.

Agro é solução contra a fome, ou Agro é o fim da fome. 

Mas até alcançar essa condição será necessário superar os desafios acima referidos.

 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Dinheiro nas nádegas

  Chico Rodrigues, velho companheiro de Jair Bolsonaro, no  baixo clero da Câmara dos Deputados, ao longo de 20 anos, foi objeto de uma ação de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal.

Fundada numa suspeita de desvio de recursos públicos destinados à saúde, o Senador, recebeu, em sua casa em Boa Vista, capital de Roraima, uma visita inesperada e indesejada da Policia Federal. Para evitar a apreensão de uma quantia em dinheiro vivo, escondeu na cueca, mas foi descoberta e deu origem a mais um episódio pitoresco da política brasileira, que viralizou na mídia, tanto tradicional como na virtual. 

Embora Bolsonaro tente se afastar do escândalo, afirmando que não foi dentro do seu Governo, da Administração Federal, mas de um membro do Congresso, para efeito do imaginário popular não há diferenças. 

A corrupção continua funcionando na gestão pública e com recursos oriundos do Governo Federal. Dai a participação da Polícia Federal: suspeita de crime federal. 

O principal impacto será na imagem de Bolsonaro junto ao seu público.

Teve grande apoio popular e formou um amplo grupo de seguidores pela promessa de um Brasil sem corrupção, com apoio às operações Lava-Jato e avançar institucionalmente no combate à corrupção. 

Convocou e foi atendido por Sérgio Moro que abandonou a carreira jurídica para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública na expectativa de institucionalizar as medidas anti-crime. A sua proposta foi desfigurada e deu ensejo à soltura de André do Rap. Moro acabou deixando o Governo, retirando o aval da continuidade da Lava-Jato, denominação adotada popularmente como o combate à corrupção.

Diante das críticas dos seus seguidores de que estaria acabando com a Lava-Jato, assumiu que sim, justificando que tinha acabado com a corrupção no seu Governo. Um sofisma para dizer que a corrupção ainda existente era nos nos governos estaduais, municipais ou no Congresso, onde ele não seria responsável.

Bolsonaro alega que a eventual prática corruptiva do seu velho companheiro, Chico Rodrigues, não foi dentro do seu Governo. 

O problema é convencer os seus seguidores ou adoradores de que não tem nada a ver com isso. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O agro como capitalização da indústria

  No passado os excedentes da acumulação de capital do café, um produto agricola, financiou a instalação da indústria brasileira. Não apenas uma indústria processadora de produtos do campo brasileiro, mas de uma gama diversificada de produtos voltada para o mercado interno. Os principais produtos do complexo agro-pecuário-florestal industrializados foram o algodão, para os tecidos, a madeira, para os móveis, entre os não alimentos e o açúcar, as carnes e o leite entre os alimentos. Umas das principais indústrias alimentícias, dessa fase inicial foi do trigo, cuja matéria prima era toda importada.

A indústria cresceu e se diversificou em torno de produtos metalúrgicos e derivados de petróleo, superando em muito a participação da agropecuária dentro do PIB.

A indústria brasileira foi fruto do capital do agronegócio. Com essa capitalização promoveu e impulsionou o crescimento macro da economia brasileira.

O próspero agronegócio brasileiro poderá exercer e novo esse papel e agora financiar a reindustrialização brasileira? 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O agronegócio como propulsor da economia

 A agropecuária brasileira segue em grande expansão, superando os obstáculos e atendendo às demandas nacionais e mundiais.

Na parte nacional o aumento dos preços dos alimentos, com maior visibilidade para o arroz e feijão, foi debitado à insuficiência da produção e, consequentemente, da oferta, diante do forte crescimento da demanda provocada pelo auxílio emergencial. No período, houve um aumento da produção desses alimentos, mas teriam ocorridos problemas logísticos, associados à especulação. Aparentemente o mercado se equilibrou, com a demonstração de que a agropecuaria brasileira tem total capacidade de atender às demandas nacionais e ainda ter grandes excedentes para suprir o mundo.

Enfrenta contestações ambientais, mas já surgiram contestações sobre o seu "poder de fogo" macroeconômico.

Os defensores do agronegócio alegam que este representa entre 24 a 30% do PIB, mas isso somando toda cadeia produtiva, inclusive os "chefs de cusine" que preparam os pratos sofisticados servidos aos "gourmands nacionais". Já teria chegado a esse nível de 30%, mas vem decrescendo não só em função do crescimento de outros setores, mas também pela perdas na agroindústria. Essa envolve os alimentos assim como os não alimentos.

A agropecuária, no sentido estrito, abrangendo as lavouras e a pecuária, atividades tipicas do campo, representariam apenas 6 a 8% do total do PIB.

Isso se explica por serem atividades iniciais da cadeia produtiva, com baixo custo/valor agregado e o PIB soma apenas os valores adicionados aos dos produtos anteriores.

O segmento moderno, que hoje representa a maior parte, tem elevada produtividade da terra, com a introdução de modernas tecnologias e equipamentos modernos. Reflete-se na produtividade da mão-de-obra, o que significa, em contrapartida, menor volume de trabalhadores e menor efeito-renda (a renda adicional gerada pelos gastos com os salários dos trabalhadores.

O volume maior de trabalhadores na agropecuária, mostrada nas estatísticas oficiais decorre da agricultura familiar, ainda com baixa produtividade, tanto da terra como do trabalho. O que se reflete no maior contingente de trabalhadores, supostamente um benefício social maior. A maior parte da produção da agricultura familiar é consumida no mercado interno, com pouca participação das exportações. 

O agronegócio tem na sequencia da cadeia produtiva, parte ainda no campo, de uma industrialização dos produtos. Para efeito do PIB, já é incluída como indústria, portanto fora dos 6 a 8% da agropecuária estrita.

O processamento da cana para produção de açúcar ou etanol, a produção de carnes, seja de aves, suinos ou bovinos e a produção de suco de laranja, apenas para citar alguns dos principais produtos de exportação do agronegócio, já são indústria e não mais agropecuária. Não estão no setor primário da economia, mas no secundário.

A principal agregação de custo/valor aos produtos do campo ou mesmo da industrialização inicial, não está - com se supõe no processamento dos produtos, mas nos serviços, principalmente na logística e na comercialização, tanto no atacado como no varejo.

Do valor final pago pelo consumidor nos supermercados ou quitandas apenas uma pequena parte é da fazenda. A maior parte ocorre pós porteira em serviços.

Isso gera uma contradição ou paradoxo: se o custo logístico for reduzido, com ganhos de produtividade, a soma dos valores adicionados do setor deverá cair, reduzindo o impacto relativo do agronegócio dentro do PIB. 

Esse quadro é relevante para avaliar a força do "motor" do agronegócio para promover um crescimento sustentável da macroeconomia brasileira.

Com uma participação atual, mais próxima de 20%, um crescimento de cerca de 10% no agronegócio representaria apenas 2% do pib.

O motor do agronegócio teria maior capacidade de impulso, na medida em que agregasse mais trabalhadores, os quais com a sua renda impulsionasse outros setores, não diretamente vinculados ao agronegócio. Por exemplo, uma compra maior de carros de passeio, de eletrodomésticos ou de imóveis. 

Como a agropecuária tem baixa geração quantitativa de empregos essa geração de  empregos precisa ocorrer nos outros segmentos da cadeia produtiva, principalmente na indústria e na logística.

Mas tanto em um como em outro é preciso melhorar a produtividade, para gerar mais trabalho, mais emprego é preciso aumentar substancialmente a produção e vendas.

Não bastará aumentar as vendas para o mercado interno, uma vez que a recuperação geral do consumo das famílias, ainda tem sido lenta. O "boom" dos alimentos  decorrente do auxílio emergencial deverá refluir, com a redução dos valores e eventual descontinuidade.

O agronegócio terá que expandir a sua participação no mercado global, com produtos de maior valor adicionado. Sem isso o impulsionamento do agronegócio terá efeito reduzido sobre o crescimento do PIB.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Imaginário popular e esperanças

 Iniciada a campanha eleitoral pelas rádios e tvs algumas mudanças importantes podem ocorrer nas bases eleitorais dos candidatos.

Os candidatos passam a ser mais conhecidos e passa a predominar o imaginário popular.

Volta a prevalecer o principal fator que motivará ou influenciar o voto do eleitor: a esperança. A esperança de uma vida melhor.

Em 2002 a esperança nacional chamou-se Lula, em 2018, o novo nome foi Bolsonaro. Em São Paulo, em 2016 a esperança emergiu como Dória, mas essa foi traida pelo abandono precoce da Prefeitura. Em 2020, por enquanto, nenhum nome encarna a esperança. Apenas Boulos e Artur do Val vem emergindo para ocupar o lugar.

Em 2020 a pandemia provocou uma piora nas vidas da maioria do paulistano. A esperança é marcada pela perspectiva de vencer o coronavirus, recuperar o que se perdeu e retomar uma trajetória de melhoria.

Dentro do imaginário popular quais as figuras que são percebidas como as melhores para retomar a esperança.

A figura na liderança é do protetor, agora associada a do provedor, representada por Celso Russomanno. Com o seu programa de TV ele criou a imagem de protetor do consumidor. A imagem está acima das ideologias e partidos, o que explica o apoio de eleitores do PT em pleitos anteriores a Russomanno. Para compensar a inevitável migração de parte desses eleitores a outros candidatos, ele está agregando a imagem de provedor, associando-se a Bolsonaro e prometendo um tipo de "auxílio emergencial paulistano".

Bolsonaro, com o renda Brasil, está tentando capturar  a imagem de principal provedor, assumido por Lula. Os oponentes estão segurando a aprovação, para não ocorrer antes das eleições. Bolsonaro, os bolsonaristas e seus apoiados tem que enfrentar a frustração de muitos com a descontinuidade ou com a continuidade com valores menores do auxílio emergencial. A frustração tende a ser maior que a esperança.

A figura forte no imaginário popular é a do superador, o que consegue superar as adversidades, principalmente o risco da morte. Bolsonaro ganhou muito em 2018 ao vencer as consequências da facada. Bruno Covas é percebido como um superador, que venceu várias crises graves decorrente do câncer e não abandonou o posto para combater o coronavirus. Para alguns não é só um superador, mas também um vencedor. 

Boulos emerge como a figura de um incansável lutador, na defesa dos miseráveis da cidade. Diferentemente de outros que discursam a favor "dos que mais precisam", Boulos assume o comando deles, com o exército de maltrapilhos dos "sem teto", seja dos moradores de rua como dos invasores de propriedades públicas e privadas, para instalar as suas barracas de lona.

É um lutador com muitos adversários que poderão se unir para evitar a sua eleição. 

Pelo que mostram as pesquisas antes do início da campanha oficial, Boulos é quem irá tirar mais eleitores ainda favoráveis a Russomanno: os petistas  e os jovens. A incógnita é o quanto essas perdas serão compensadas pelo bolsonarismo. Segundo as pesquisas, em pequena monta.

Na reta final da campanha as propostas para a cidade ou a nacionalização darão lugar ao emocional, à capacidade de atração das figuras marcantes dentro do imaginário popular.


domingo, 11 de outubro de 2020

Não é o Congresso que queremos (3)

 A principal insatisfação da sociedade com o Congresso é com a sua relação "comercial" com o Executivo, baseado no "troca-troca", ou "toma lá, dê cá". 

É a negociação de votos de apoio a projetos do Congresso, em troca de emendas parlamentares, cargos dentro do Executivo e outros benefícios. 

Esse é o modelo que prevalece ao longo de muitos anos, estabelecido antes mesmo do regime militar, que no inicio, fechou o Congresso, mas depois reabriu adotando o "troca troca", mas sem "pegar ou largar". Era "pegar ou pegar"(*). Foi ampliado e consolidado com o eufemismo "presidencialismo de coalizão". 

(*) pegar a oferta ou pegar a prisão.

O "troca-troca" tornou-se a marca da "velha política". Jair Bolsonaro prometeu acabar com o modelo, não negociar com a velha política, não lotear os cargos da Administração Federal e outras práticas, mas ao sinal de risco de "impeachment", mudou de idéia e passou a negociar com o "centrão" o principal núcleo da "velha política".

Ampliou a insatisfação da sociedade que não se sente representada. No que tem razão, mas por distorções do modelo representativo.

O Congresso, no seu todo, representa o povo brasileiro mas de forma fragmentada. Alguns deputados ou senadores representam interesses comunitários ou regionais. Outros, interesses corporativos. Os que representam princípios, visões ideológicas ou programáticas de caráter nacional seriam minoria.

A representação comunitária ou corporativa é fator essencial da democracia, na medida em que são partes e segmentos reais da sociedade brasileira, cada qual com as suas visões de mundo e seus interesses. São partes indescartáveis do Brasil e pretender excluir do processo político é antidemocrático. A democracia requer que todo o povo, sem discriminações, seja representado no Congresso Nacional.

Os partidos políticos que deveriam unificar os fragmentos, em políticas nacionais não cumprem esse papel.



sábado, 10 de outubro de 2020

O futuro do Governo depende só do Governo?

  A importância do Governo Federal leva à noção de que o Presidente da República governa o país. Portanto o futuro do país depende de como ele governa hoje criando condições favoráveis ou condicionantes para o futuro do Brasil.

Na realidade o Presidente da República governa a Administração Federal e mesmo assim com restrições. Não tem poderes ilimitados.

Dada a importância da Administração Federal e das suas contas, isto é, das contas públicas, tem-se a impressão de que a economia brasileira depende inteiramente do Governo Federal.

As contas do PIB mostram, no entanto, que a participação direta do Estado na economia é relativamente pequena, ficando a maioria da produção a cargo das empresas privadas.

As empresas privadas são dirigidas pelo Estado, ou tem independência? Até que ponto vai essa eventual independência? O Presidente da República governa as empresas privadas?

O Estado brasileiro já teve importância maior na economia, tanto do ponto de vista produtivo como regulatório. Embora as políticas governamentais tenham sido de reduzir a participação do Estado na economia, seja por resistências, de várias ordens, como por eventuais reversões, o Estado ainda tem um protagonismo relevante. 

O setor privado, embora seja independente tende a ficar atrelada às políticas governamentais.

O principal atrelamento está nos benefícios concedidos pelo Estado para o desenvolvimento ou manutenção das atividades.

O Governo atual foi eleito, entre outras promessas, a de implantar uma economia liberal, com ampla redução da interferência do Estado na economia.

De um lado, objetiva-se reduzir os gastos públicos e, com isso, reduzir a carga tributária que pesa sobre as empresas privadas.

De outro busca a desestatização transferindo para o setor privado um conjunto de atividades econômicas, ainda geridas pelo Estado. Além do objetivo macro político, o Governo quer, através da desestatização, levantar recursos para reforçar o caixa do Tesouro Nacional. A predominância do interesse financeiro público acaba prevalecendo sobre as visões estratégicas de desenvolvimento futuro.

Um primeiro cenário é da implantação completa da economia liberal, com o total controle das contas públicas e de ampla privatizações e desestatizações. O que acontecerá com a economia brasileira, com dependência maior ou quase total das empresas privadas. 

Elas precisarão buscar, por sua conta e risco, os mercados para a venda dos seus produtos, investir em inovação e  em ganhos de produtividade para ganhar competitividade, nos mercados-alvo e ampliar ou qualificar o seu quadro de trabalhadores.

Com a perspectiva de retomada da economia os investimentos estrangeiros retomarão aos níveis pré-pandemia.

Supõe-se que as suas escolhas serão as melhores para o Brasil e com isso o cenário será de uma retomada vigorosa e sustentável da macroeconomia.

O segundo cenário é de implantação parcial da economia liberal, com as contas públicas ainda controladas, mas com contenção de gastos, sem investimentos públicos e com carga tributária aumentada. O setor privado manterá cautela nos investimentos, aumento de produção e de empregos. Os investimentos estrangeiros voltarão em escala reduzida. 

O terceiro cenário é de fracasso da implantação da economia liberal. O programa de desestatização "não decola" e as pressões políticas para manter as remunerações dos servidores públicos e aumentar os investimentos públicos levam a "furar o teto". O setor público entra em colapso, com atrasos de pagamentos e salários. O setor privado se retrai buscando apenas a sobrevivência.

A reversão desse cenário decorrerá de uma libertação do setor privado das políticas públicas, buscando caminhos próprios diversos das sinalizações do Governo. 


 


sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Não é o Congresso que queremos (2)

 A sociedade está insatisfeita com o Congresso porque esse não atua como o esperado ou o desejado.

Tem baixa produção e produtividade legislativa: aprova poucos projetos de lei, a maioria dos que aprova tratam de temas irrelevantes  e os temas relevantes são postergados ou com tramitação demorada.

A principal demanda da sociedade é pelas Reformas Estruturais. Na atual legislatura, a única aprovada foi a previdenciária e, mesmo assim, parcial.

A reforma tributária "patina" por falta de convergência, a reforma administrativa não caminha por resistências corporativas, a reforma política saiu de pauta. 

O Congresso é irresponsável fiscalmente, ao contrário do Executivo. Quando o Congresso aprova alguma medida contrária à lei de responsabilidade política o Executivo é obrigado a vetar. Mas o Congresso pode vetar, eximindo o Executivo das penalidades, que o próprio Congresso deveria aplicar.

O Congresso é fraco no seu papel de fiscalizador do Executivo, operando mais como homologador do Executivo.


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O Brasil tem futuro?

  Um comentário publicado em site virtual de que o Brasil não tem futuro, se levado "ao pé da letra", significaria que o país acabaria no presente, não tendo amanhã. Se não acabar sempre terá futuro. O que se pode depreender do comentário é que o país não terá o futuro que ele deseja. Ou que o futuro do país será pior do que o presente ou passado.

O futuro que desejamos é sempre um amanhã, melhor que hoje. 

Em termos econômicos o Brasil de hoje seria pior do que ontem, embora não de forma uniforme: o agronegócio no campo hoje está melhor que ontem e as perspectivas são de que amanhã será melhor que hoje. As regiões de produção de grãos estão progredindo rapidamente e as pessoas que vivem em trono de suas atividades estão bem e em condições cada vez melhores. Mas é uma parte menor no conjunto da economia.

A parte maior está nas cidades, algumas ainda com base industrial, em decadência, mas em geral com a economia baseada no comércio e nos serviços, ambos estagnados.

Um futuro da nação, pior que o presente é inexorável? é uma maldição?

Ou pode ser revertido? Do que e de quem depende?

O Governo tem um papel preponderante, mas não único. O que o Governo está fazendo para evitar que o futuro econômico do país seja pior do que o atual?

O Governo, sob comando de Paulo Guedes, na economia só consegue ver um caminho e persiste neste. Estabelecer a hegemonia da economia liberal, reduzindo a participação e a interferência do Estado na economia. Acha que tem que caminhar pelas reformas estruturais e insiste, apesar as reações contrárias, inclusive dentro do próprio governo. 

Guedes tem absoluta convicção de que o futuro econômico do Brasil será melhor que o presente, com a transformação do país, numa economia liberal. Os que não vêm futuro no pais são os céticos ou os oponentes. 

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

De desconhecido a notório

 Kássio Nunes Marques sempre fez articulações políticas para ingressar e avançar na carreira jurídica.

Entrou para a magistratura dentro de um lista triplice da Ordem dos Advogados do Brasil para a vaga reservada aos advogados nos tribunais eleitorais e no Tribunal Federal de Recursos.

Para ser incluido na lista tríplice precisa fazer articulações políticas junto à corporação e outras ainda no meio político para ser escolhido. Não basta a idoneidade e o saber jurídico. Não é só por isso que os colegas o escolhem. Precisa de um bom relacionamento e muita conversa: muitos almoços e jantares.

Estar na lista triplice é com os colegas. Ser indicado para o Tribunal é com os políticos. 

Duas das indicações foram feitas durante os governos petistas, com o apoio dos politicos piauienses.  

Com a indicação para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, transfere-se para Brasília, onde estabelece a sua rede de relacionamento político, com vistas a um cargo do Superior Tribunal de Justiça, o degrau acima e, para muitos, o topo da carreira jurídica.  Esse tem uma composição predominante de desembargadores oriundos do TRF 1 do que dos TRF2, com sede em São Paulo. A explicação plausível é que os desembargadores do TRF1, em Brasília, estão mais próximos dos políticos.

Dentro desses relacionamentos,  Kassio Maques teria tomadas muitas tubainas com o seu amigo, deputado federal Jair Bolsonaro. O quanto depois da eleição e posse desse para a Presidência é pouco conhecido. Sendo um desconhecidos, apenas um na multidão, a mídia não se preocupou com a sua eventual presença no Alvorada, provavelmente dentro de um grupo de amigos do Jair, adeptos das tubainas.

Em campanha para um lugar do STJ nunca esteve na lista da mídia, como candidato ao STF, mas sempre foi uma "carta na manga" do Presidente.

Com a resistência aos amigos mais notórios, Jair montou um palco para trazer o novo ator e apresentá-lo ao distinto público. 

Uma parte aplaudiu, outra vaiou. Não era um "terrivelmente evangélico"; trazia um sinal da estrela vermelha e, supostamente, outros defeitos para os bolsonaristas radicais.

A sua emergência é recente, mas o processo da sua indicação é antigo. Com 28 anos na Câmara Federal, embora sempre no baixo clero, Jair Bolsonaro formou uma ampla rede de relacionamentos pessoais. 

Para o público externo o nome é uma surpresa e a mídia busca as origens segundo paradigmas comuns, que nem sempre se aplicam ao surpreendente Jair Bolsonaro. Para ele é apenas um das suas "cartas na manga".

A indicação de Kássio Nunes não é do centrão, que tem como principal líder real, o Senador Cyro Nogueira, do Piaui. Bolsonaro usou para agradar o centrão e conseguir o seu apoio no Senado, onde a sua bancada própria é fraca. 

É uma indicação pessoal, um "amigo de tubaina". 

A mídia mal informada nos leva ou induz a erros. Dessa vez não vimos o que não foi mostrado.

Kássio Nunes não foi indicado para ser "boi pra piranha", como comentamos anteriormente. É a primeira preferência pessoal da Jair Bolsonaro que já esta se empenhando pessoalmente pela sua aceitação e aprovação pelo Senado.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Uma velha disputa com novos protagonistas

  O conflito entre Rogério Marinho e Paulo Guedes é um remake de uma tradicional disputa entre "Fiscalista x desenvolvimentista". Já ocorreu antes na disputa Pedro Malan x Clovis Carvalho, Joaquim Levi x Nelson Barbosa e outros que não me lembro agora. 

Quem assume o Ministério da Fazenda, agora da Economia, acaba sendo fiscalista, mesmo que não tenha antecedentes,  ou não tenha aceito o cargo como tal.  A responsabilidade por pagar as contas e a pressão dos investidores o obriga a assumir tal posição.  Por outro lado enfrenta a pressão de todos os demais Ministros que querem gastar mais. O seu poder de resistência aos colegas depende do apoio do Presidente.

Bolsonaro pende a favor de Marinho, com quem tem melhor interlocução: falam a mesma língua, tomam tubaina juntos.

Já com Guedes não tem muito papo. Bolsonaro não entende 90% do que Guedes diz e convidá-lo para tomar tubaina é uma ofensa. No mínimo um whisky com 15 anos, ou um vinho da casa de 4 dígitos. 

Mas Bolsonaro não pode dispensar Guedes, porque não consegue avaliar o tamanho da reação do mercado. Pode ser amplo e desastroso para ele, como ser absorvido como foi a demissão de Moro.

Na dúvida, mantém os dois. 

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Precisa se viabilizar

 

Jair Bolsonaro ao lançar a indicação de Kássio Nunes ao STF para ocupar a vaga do decano Celso de Mello dá partida visível a uma manobra politica que pode dar certo ou errado.

O seu objetivo não é a designação de Kássio Nunes, mas abrir o espaço para a indicação efetiva de um dos seus preferidos, todos amigos pessoais. 

É a conhecida operação "boi para piranha". 

Bolsonaro deixa o combate "frente à frente" e segue pelos flancos, dando ao indicado a responsabilidade de "se viabilizar". Se a oposição for muito forte, com risco da não aprovação do nome pelo Senado, Bolsonaro "aborta a operação", volta ao começo, argumentando que o indicado não conseguiu se viabilizar e pode lhe dar um prêmio de consolação, na realidade, o que Kassio quer: uma vaga no STJ. 

Com uma primeira vítima, Bolsonaro acha que terá menos resistência para uma indicação de sua preferência pessoal. 


domingo, 4 de outubro de 2020

Cenários da disputa pela Prefeitura de São Paulo - 1ª atualização

 O primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, reunindo 11 candidatos e a pesquisa IBOPE, divulgada logo após, ainda que não leve em conta o debate, pois os levantamentos foram feitos antes,  confirmam as tendências apontadas no estudo inicial.

De uma parte três candidatos buscando o eleitorado bolsonarista, com Celso Russomanno, com larga vantagem, mas sendo alvo dos demais candidatos do mesmo campo: Joice Hasselmann e Artur do Val. Ainda não ganhou um eleitorado adicional ao colar a sua candidatura a Jair Bolsonaro e promessa de implantar e ampliar um auxílio aos mais pobres. Neste campo tem as barreiras dos adeptos de Boulos. Embora os votos de Joice e Artur do Val não ameacem a hegemonia de Russomanno junto ao eleitorado bolsonarista, podem ser um diferencial importante que leve ou não Russomanno ao segundo turno. Apesar de estar na liderança das pesquisas, não tem o suficiente para vencer no primeiro turno e, como nas vezes anteriores, corre o risco de perda de eleitorado.

Russomanno teve oportunidade de se apresentar como o candidato de Bolsonaro, mas não para se posicionar como o principal candidato anti-Dória, com muitos concorrentes nessa posição.

Como candidato de Bolsonaro passou a ser alvo de críticas e tentativas de desconstrução pelos demais. Confirma a tendência de que se chegar ao segundo turno, será derrotado pela reunião de todos os adversários.

Bruno Covas tem posição mais tranquila. Com o nível de apoio e sem adversários para ameaçar a sua posição, estará no segundo turno. A sua eleição fica ameaçada pela eventual coalizão anti-Dória. Mas essa não terá a mesma força do anti-Bolsonaro e o choque entre esses dois movimentos antagônicos favorecerá Bruno Covas, numa contenda com Celso Russomanno.

Covas ainda tem elevado índice de rejeição, seja pessoal, como derivado do anti-Dória.  O risco de Covas continua sendo Márcio França, com uma eventual desidratação da candidatura Russomanno. Os dados atuais não indicam essa possibilidade.

Tampouco há indícios de alguma inesperada onda, como ocorreu em 2018. Na realidade não foi inesperada, mas não percebida ou desprezada, pelo uso maior e eficaz da rede social e não pelos meios tradicionais. 

Agora começa a propaganda tradicional pelo rádio e televisão, cuja força, neste quadro de restrições de mobilidade, será testada. 

sábado, 3 de outubro de 2020

O Novo Normal do Comércio

  O comércio já vinha processando mudanças, antes mesmo da pandemia, a qual ampliou e acelerou o processo.

A principal mudança foi a substituição das vendas presenciais, atendidas por vendedores em lojas, pelas vendas pela internet.

Na fase pré-pandemia, emergiram start-ups que viralizaram, com vendas pela internet, com amplo domínio de empresas asiáticas, oferecendo preços mais baixos.

Algumas rede de lojas montaram o seu próprio aplicativo, como meio alternativo às vendas presenciais, como o grupo controlador das Lojas Americanas que criou o B2W, incorporando o aplicativo Submarino. Foi a melhor sucedida em termos de expansão, embora amargasse prejuizos durante muito tempo.

Outras tentaram mas parte desistiu, congelando os projetos.

O modelo melhor sucedido, prévio à pandemia foi o market place das Magazine Luiza, oferecendo uma ampla gama de produtos, entregues por lojas menores. Outros seguiram o mesmo modelo, sem o mesmo sucesso operacional e de imagem.

A pandemia provocou diversas mudanças:

  • a ampliação das vendas pela internet das principais redes de supermercados, assim como de lojas de shopping center, substituindo a ida às lojas, pela escolha pela internet e entrega em casa;
  • a maior participação de fabricantes, no market-place, com a venda direta dos seus produtos ao consumidor.
A primeira mudança tende a refluir com a volta da "normalidade", com mais consumidores às lojas, convivendo com as vendas pela internet. 
O volume das vendas presenciais deverá cair, refletindo-se no nível de emprego de vendedores de lojas, assim como de caixas, as principais ocupações nas "linhas de frente". Os funcionários de escritório serão menos afetados pela redução da vendas presenciais, mas serão afetados para mais ou para menos, em função das tecnologias. Os repositores também serão afetados, mas com mudanças da forma de trabalho: não será mais do recebimento do produtor para as gôndolas, prateleiras ou "araras", mas as transferências para as caixas individuais dos compradores pela internet para o despacho. As operações de menor porte serão artesanais. As de maior porte, com ampla automação e suporte tecnológico.

Já as vendas diretas dos produtores aos consumidores tenderão a crescer, provocando grandes mudanças nos processos, com impacto sobre a qualidade e quantidade de empregos.

Os empregos tradicionais do comércio presencial, tenderão a diminuir, com o menor volume de pessoas nas lojas e nas transações. De outro, as estruturas comerciais dos produtores precisarão ser ampliadas, com trabalhadores com novas aptidões tecnológicas, para atender às vendas digitais.

Essas mudanças que conformarão o novo normal do comércio e dos comerciários ainda não estão nas agendas das empresas, com poucas exceções, assim como dos sindicatos dos comerciantes e dos comerciários. 

Qualquer política ou ações para revitalização do mercado de trabalho não poderá deixar de considerar as mudanças que estão ou irão ocorrer na cadeia produtiva com maior volume de contingente de trabalhadores formais. 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Do nada pode para o tudo pode (2)

 Os cenários futuros dos manguezais e restingas do litoral brasileiro decorrerão dos resultados do jogo de forças intervenientes.

De um lado estão os ambientalistas preservacionistas que propugnam por uma ampla participação do Estado, através da regulação e da fiscalização para garantir a preservação dos mangues e restingas.

De outro lado, está o Governo atual, com uma política antiregulatória, em consonância com a visão liberal da economia. 

Nas rodadas anteriores, os preservacionistas ganharam no campo formal, mas não no campo real, não conseguindo evitar inteiramente a depredação clandestina para a produção de camarões, no Nordeste, ou para ocupação residencial precária, como as comunidades em palafitas.

No novo jogo, o Governo marcou o primeiro gol, com a revogação, no CONAMA,  do aparato regulatório de proteção aos manguezais e restingas. A contestação mediante ação popular, aceita por uma Juiza de 1ª instância, empatou o jogo. O empate favorece os preservacionistas.

A revogação da liminar, foi o segundo gol do Governo, mantendo a revogação. Mas o jogo continua, sob torcida da sociedade. Os preservacionistas tem uma torcida organizada barulhenta que gera a impressão de que dominam a totalidade. 

Vencendo a liberação, haverá ocupação maior das restingas e manguezais, seja de forma ordenada e sustentável, como de forma predatória.

Vencendo a preservação, não haverá um crescimento da ocupação organizada, mas permanecerá a evolução da ocupação clandestina e predatória.

O terceiro cenário alternativo é uma concertação entre o setor produtivo organizado e o Governo para uma regulação mais genérica. Em contrapartida o setor produtivo deverá assumir a responsabilidade pela auto-regulação e auto-controle, incluindo a fiscalização e mitigação da ocupação predatória por pequenos produtores, como forma de sobrevivência. O caminho é o cooperativismo. 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Do nada pode para o tudo pode

 

No início do século, os ambientalistas brasileiros se anteciparam aos movimentos mundiais e sob os auspícios do Governo Lula, com Marina Silva à frente, conseguiram a aprovação de uma legislação radical amplamente proibitiva dentro da visão de preservação absoluta das florestas, das matas, das restingas e outros ambientes originais da natureza. A hegemonia absoluta era do preservacionismo, dentro do qual "nada podia ser feito" nas áreas destinadas à preservação.

Para garantir o cumprimento, conseguiram aprovar medidas penais rigorosas, como a afiançabilidade dos crimes ambientais. 

As medidas foram aprovadas na crença de que seria mais um conjunto de leis que “não pegam”. Mas pegou com a montagem de um amplo mecanismo de fiscalização ambiental, ainda que insuficiente.

A exploração econômica das áreas protegidas seguiu incólume.  

Um grande embate político regulatório ocorreu com a tramitação do Código Florestal, no qual se chegou a um acordo, com pequena vitória dos produtores. Os ambientalistas, embora tenham assegurado muitas medidas protetoras do meio ambiente natural, não se conformaram e mantiveram o seu ativismo pelo “nada pode” e contra as anistias aos contraventores.

As principais ocupações  nos mangues, restingas e outros biomas litorâneos, ocorreram para a produção de camarões e instalações imobiliárias.

Dada a hegemonia do pensamento ambientalista, fortemente patrulhado, os produtores não se manifestavam amplamente, preferindo desenvolver os seus negócios clandestinamente.

Parte, no entanto, tomou o caminho político dando apoio a um candidato presidencial, marcado pela rebeldia e contestação ao estabelecido, com propósitos de romper com o "status quo", inclusive na área ambiental. 

Eleito, Jair Bolsonaro encontrou em Ricardo Salles, militante da área ambiental, mas como opositor das políticas estabelecidas, o executor ideal para promover as mudanças. Liberal, contra as intervenções do Estado sempre defendeu a revogação de todo o aparato regulatório e fiscalizador do Estado.

Achou que com a atenção da sociedade voltada para a pandemia, poderia passar a revogação ampla das restrições ambientais, em "baciada".

Destemido, não se intimidou com as reações contrárias e seguiu nos seus propósitos, conseguiu a mudança na composição do CONAMA e fez aprovar a revogação das medidas que protegiam os mangues, as restingas e outro biomas naturais do litoral brasileiro, gerando forte reação midiática e indignação da sociedade urbana.

O Governo vem adotando a estratégia da "destruição criativa", na área ambiental. Primeiro quer destruir tudo o que foi construído pelos governos anteriores para montar uma nova política e organização institucional e administrativa ao gosto dos seus apoiadores e seus, privilegiando a produção econômica.

Tal estratégia tem causado efeitos indesejáveis a curto prazo, como o aumento relativo do desflorestamento e, principalmente, um imenso crescimento de queimadas, aceleradas e ampliadas pelas altas temperaturas e menor proteção.

A repercussão internacional dessas ocorrências, já vem prejudicando as vendas de produtos do agronegócio no exterior, assim como o interesse dos investidores internacionais.

O Governo Bolsonaro está na metade do seu mandato, ainda tem dois anos para promover uma renovação criativa. Aparentemente não sabe que, nem como. Sabe destruir, mas não sabe como reconstruir.  

O impacto dessa estratégia de "destruição criativa" não será só ambiental, mas - principalmente - comercial e financeiro. Compromete a retomada do crescimento econômico, pós-pandemia. 

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...