Dentro da guerra da eleição de 2022, Dória fez um avanço com a vacina "chinesa" conquistando posições dentro da Administração Federal, dentro da perspectiva de que seria primeira vacina contra o coronavirus SARS-COV 2, pronta para ser aplicada largamente.
Voltado para outras questões Jair Bolsonaro não percebeu, de imediato, a operação, cercada por argumentos científicos.
Ao perceber lançou um "fogo de barragem" para impedir o avanço da operação e satisfazer os seus seguidores radicais. Enquanto o público estava entretido com a pirotecnia, buscou reorganizar a sua tropa, desmentindo o que os subordinados tinham aceito ou admitido.
Conteve, momentaneamente, o avanço do adversário, mas enfraqueceu vários flancos, deixando-os mais vulneráveis para as batalhas subsequentes.
A primeira é a batalha da imagem e da comunicação, em que estava à frente. Tinha conseguido até agora, caracterizar a vacina CORONAVAC - a marca da vacina desenvolvida pela SINOVAC, uma empresa chinesa - como a "vacina chinesa", com conotação pejorativa, repetindo e disseminando a narrativa de Donald Trump.
Toda a mídia, com poucas exceções, estava se referindo à vacina da SINOVAC, como a "vacina chinesa". Bolsonaro tem demostrando uma grande capacidade de pautar a mídia.
A explosiva e emotiva reação de Bolsonaro fez a mídia perceber a cooptação e vem passando a se referir à vacina, pela marca (CORONAVAC) ou pelo fabricante dessa (SINOVAC). Cada vez mais será caracterizada como a "a vacina do Butantã", a fabricante brasileira da vacina, a partir da tecnologia e insumos fornecidos pela SINOVAC.
No campo político reuniu a maioria dos Governadores, assim como o Presidente da Câmara e outros parlamentares contra a decisão de não comprar a vacina do Butantã. Em contrapartida conseguiu formar uma base aliada no Senado.
O problema maior é com o Exército, ao obrigar o General Pazzuelo a desfazer os compromissos assumidos com o Instituto Butantã e com os Governadores.
Como militar disciplinado o General não teria assumido os compromissos, sem antes consultar o Presidente, ao qual deve ter dito que era a compra de uma vacina brasileira, a primeira que deverá estar chegando ao mercado. E teve "sinal verde".
"Manda quem pode, obedece quem tem juízo". É a máxima do modelo da chefia autoritária, em desuso, na maioria das grandes empresas. Bolsonaro manda e o General, institucionalmente subordinado, obedece. Mas ter que assumir inteira responsabilidade por um ato que não foi só seu, é uma humilhação que afeta a dignidade da corporação, dividida em relação ao ocorrido. A hierarquia e a disciplina não justificam o nível de sumissão.
A isso se soma um novo confronto dentro do Governo entre a ala ideológica e a ala militar. Os filhos resolveram radicalizar e atacar a ala militar. Poderão até vencer a batalha com a saida do General Ramos, mas enfraquecerá o apoio das Forças Armadas ao Governo.
Com a proximidade das eleições presidenciais norte-americanas, a ala ideológica deve estar contando, com a reeleição de Trump, que repetiria a façanha de 2016.
A ala ideológica não tem força militar, não tem força judiciária, não tem força política, apenas o apoio popular dos sectários do bolsonarismo. Piorará as condições de governabilidade de Bolsonaro, que ficará mais dependente do Centrão. A sua cartada está na reeleição de Davi Alcolumbre para a Presidência do Senado e na eleição de Arthur Lira, do Centrão, para a Presidência da Câmara dos Deputados.
Alcolumbre articulou bem a aprovação de Kássio Marques para o STF, com o que espera reverter uma posição desfavorável à aprovação da interpretação da cláusula constitucional que permitiria a reeleição.
Ainda não está assegurada.
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