Após um longo período de trégua, com o desvio das batalhas para outros territórios, a disputa entre a ala militar e a ala ideológica pelo poder de influência sobre o Presidente Bolsonaro, foi retomada com a bomba lançada por Ricardo Salles contra o General Ramos.
A ala ideológica tem a liderança do filho Eduardo Bolsonaro, com o apoio dos irmãos. Controlam o Ministério das Relações Exteriores e o da Educação. Tem a adesão do Ministério da Mulher e a do Meio Ambiente. Não tem nenhum cargos ministerial dentro do Palácio do Planalto, mas como filhos tem acesso direto ao pai e mantém sectários do bolsonarismo em gabinetes de segundo e terceiro escalão. Tem como "ponta de lança" o Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, que está em saída para o TCU.
Aparentemente sem força suficiente, o petardo de Salles contra Ramos teria sido uma reação impulsiva ou a ala ideológica teria percebido um enfraquecimento da ala militar, junto ao Presidente.
Diante do confronto instalado, Bolsonaro terá que arbitrá-lo, buscando o armistício, ou optar por uma das alas, o que seria caracterizado por demissão ministerial: Salles ou Ramos.
O cenário mais provável é do armistício o que já está em andamento com Ramos não respondendo e um recuo de Salles. Bolsonaro deu manifestações de afago e apoio a ambos. Mais este embate poderá ser superado, mas o confronto potencial continua latente.
Com a eventual reeleição de Trump, o que depende de uma virada, na reta final, a ala ideológica se sentirá fortalecida, podendo avançar no atendimento a Israel para mudar a embaixada brasileira para Jerusalém e apoio de Trump contra a China, afetando o agronegócio. Poderá conseguir a mudança, dentro do Planalto, de alguns Ministros de origem militar, assumindo a hegemonia na influência sobre o Presidente, dentro daquele palácio.
Além da reação do agronegócio, que ainda está predominantemente a favor de Bolsonaro, poderá ter a reação contrária da equipe econômica que vem negociando e tem expectativa de grandes investimentos do mundo árabe e dos chineses no Brasil.
A hegemonia da ala ideológica poderia levar a uma crise nas contas externas, um dos pontos positivos da macroeconomia.
O enfraquecimento da ala militar poderá afetar o apoio das Forças Armadas a Bolsonaro, reduzindo ainda mais a força de pressão da qual se valia para pressionar o Judiciário e o Congresso. No STF dependerá da atuação da sua base de apoio, formado por Toffolli, Gilmar Mendes, agora reforçado por Kássio Marques, em conseguir a adesão segura de mais 3 Ministros, formando a maioria. Não parece viável, a curto prazo. No Congresso dependerá cada vez mais da cooptação, a preços altos, do Centrão.
A vitória da ala militar manteria viva a pressão sobre os outros poderes, embora a perspectiva antidemocrática esteja mais distante de ocorrer. O receio da tentativa, no entanto, remanesce, requerendo que os pro-democracia mantenham se alertas.
Associada a uma não reeleição de Trump, a ala ideológica se retrairia, mantendo as posições dentro do Governo, mas sem a mesma força. O Brasil não mudaria a Embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, tampouco assumiria uma posição forte contra a China.
Mas a política externa brasileira passaria a dar mais importância às questões geopolíticas e geomilitares do que às ideológicas.
A principal preocupação seria com as mudanças de poderio militar no mundo e de seu impacto na guerra fria.
A ala militar defende a retomada do desenvolvimento através do aumento de investimentos públicos, em infraestrutura, contrapondo-se à politica fiscalista do Ministério da Economia.
Não tem se oposto à privatização e à abertura do mercado para investimentos externos, mas mantém o receio de que os chineses aproveitem a oportunidade da crise, para "comprar o Brasil" a preços depreciados.
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