terça-feira, 27 de outubro de 2020

A grande onda e os "surfistas"

  Em 2018, uma grande onda - um "tsunami" - varreu as praias políticas do Brasil, "matando" dezenas de velhos políticos que não conseguiram ser reeleitos.

Essa onda trouxe um novo Presidente, meia dúzia de Governadores de Estado, mais de 50 deputados federais, eleitos pelo PSL e outros partidos e centena de deputados estaduais. 

Segundo alguns, um grupo de surfistas que manobrando habilmente sobre as ondas chegaram vitoriosos à praia. Para outros, a onda trouxe o lixo que pairava na superfície ou a baixa profundidade do mar. 

A onda teve origem ou epicentro no desejo de mudança da sociedade, indignada com a amplitude da corrupção nas coisas públicas, no cansaço com as nefastas práticas da "velha política" - disfarçadas de "presidencialismo de coalizão -, no sufoco do patrulhamento do "corretamente político", nos receios e medos do aumento da violência urbana a rural e na descrença da política econômica estatizante.

Na realidade, o tsunami foi de mudança e não bolsonarista, como muitos - inclusive aqui, neste blog - vinha sendo colocado e analisado. O bolsonarismo foi o que veio surfando sobre as ondas. 

O "tsunami" da mudança perdeu força. Em grande parte por decepção ou desalento. A sociedade continua ansiando por grandes e profundas mudanças na política brasileira, mas "perdeu o rumo". Os que vieram surfando nas ondas não tem cumprido os designios prometidos ou esperados. O Presidente já abandonou o comando do combate à corrupção, alegando que o inimigo foi exterminado ou derrotado, associou-se à "velha política", mantendo-se fiel na defesa de mudanças de valores nos costumes e na sua visão de combate à violência. Mantém, no discurso, o apoio à política econômica liberal, mas é seduzido pelas políticas de maior intervenção estatal, no campo social, em função do apoio popular, apesar do impacto negativo nas contas públicas.

Alguns dos Governadores "surfistas" da onda da mudança, já estão afastados temporariamente, mas com risco de afastamento definitivo. Outros enfrentam problemas de governabilidade, por inexperiência ou falta de apoio político e de denúncias de corrupção. 

Parte da bancada dos "surfo-bolsonaristas" já não mantém os laços de solidariedade ao Presidente. 

As eleições de 2020 indicam a manutenção do desejo de mudança, por parte da sociedade, mas apenas o desejo pela honestidade dos candidatos ainda é predominante, de forma generalizada. Os demais perderam atratividade. Mas há um crescimento do segmento que prioriza a segurança como a principal expectativa dos novos políticos: de forma desigual, entre as diversas capitais brasileiras.

Em 2022 uma nova onda de mudança poderá ser formada como reação da sociedade à frustração com os "surfistas" de 2018.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...