quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O agronegócio como propulsor da economia

 A agropecuária brasileira segue em grande expansão, superando os obstáculos e atendendo às demandas nacionais e mundiais.

Na parte nacional o aumento dos preços dos alimentos, com maior visibilidade para o arroz e feijão, foi debitado à insuficiência da produção e, consequentemente, da oferta, diante do forte crescimento da demanda provocada pelo auxílio emergencial. No período, houve um aumento da produção desses alimentos, mas teriam ocorridos problemas logísticos, associados à especulação. Aparentemente o mercado se equilibrou, com a demonstração de que a agropecuaria brasileira tem total capacidade de atender às demandas nacionais e ainda ter grandes excedentes para suprir o mundo.

Enfrenta contestações ambientais, mas já surgiram contestações sobre o seu "poder de fogo" macroeconômico.

Os defensores do agronegócio alegam que este representa entre 24 a 30% do PIB, mas isso somando toda cadeia produtiva, inclusive os "chefs de cusine" que preparam os pratos sofisticados servidos aos "gourmands nacionais". Já teria chegado a esse nível de 30%, mas vem decrescendo não só em função do crescimento de outros setores, mas também pela perdas na agroindústria. Essa envolve os alimentos assim como os não alimentos.

A agropecuária, no sentido estrito, abrangendo as lavouras e a pecuária, atividades tipicas do campo, representariam apenas 6 a 8% do total do PIB.

Isso se explica por serem atividades iniciais da cadeia produtiva, com baixo custo/valor agregado e o PIB soma apenas os valores adicionados aos dos produtos anteriores.

O segmento moderno, que hoje representa a maior parte, tem elevada produtividade da terra, com a introdução de modernas tecnologias e equipamentos modernos. Reflete-se na produtividade da mão-de-obra, o que significa, em contrapartida, menor volume de trabalhadores e menor efeito-renda (a renda adicional gerada pelos gastos com os salários dos trabalhadores.

O volume maior de trabalhadores na agropecuária, mostrada nas estatísticas oficiais decorre da agricultura familiar, ainda com baixa produtividade, tanto da terra como do trabalho. O que se reflete no maior contingente de trabalhadores, supostamente um benefício social maior. A maior parte da produção da agricultura familiar é consumida no mercado interno, com pouca participação das exportações. 

O agronegócio tem na sequencia da cadeia produtiva, parte ainda no campo, de uma industrialização dos produtos. Para efeito do PIB, já é incluída como indústria, portanto fora dos 6 a 8% da agropecuária estrita.

O processamento da cana para produção de açúcar ou etanol, a produção de carnes, seja de aves, suinos ou bovinos e a produção de suco de laranja, apenas para citar alguns dos principais produtos de exportação do agronegócio, já são indústria e não mais agropecuária. Não estão no setor primário da economia, mas no secundário.

A principal agregação de custo/valor aos produtos do campo ou mesmo da industrialização inicial, não está - com se supõe no processamento dos produtos, mas nos serviços, principalmente na logística e na comercialização, tanto no atacado como no varejo.

Do valor final pago pelo consumidor nos supermercados ou quitandas apenas uma pequena parte é da fazenda. A maior parte ocorre pós porteira em serviços.

Isso gera uma contradição ou paradoxo: se o custo logístico for reduzido, com ganhos de produtividade, a soma dos valores adicionados do setor deverá cair, reduzindo o impacto relativo do agronegócio dentro do PIB. 

Esse quadro é relevante para avaliar a força do "motor" do agronegócio para promover um crescimento sustentável da macroeconomia brasileira.

Com uma participação atual, mais próxima de 20%, um crescimento de cerca de 10% no agronegócio representaria apenas 2% do pib.

O motor do agronegócio teria maior capacidade de impulso, na medida em que agregasse mais trabalhadores, os quais com a sua renda impulsionasse outros setores, não diretamente vinculados ao agronegócio. Por exemplo, uma compra maior de carros de passeio, de eletrodomésticos ou de imóveis. 

Como a agropecuária tem baixa geração quantitativa de empregos essa geração de  empregos precisa ocorrer nos outros segmentos da cadeia produtiva, principalmente na indústria e na logística.

Mas tanto em um como em outro é preciso melhorar a produtividade, para gerar mais trabalho, mais emprego é preciso aumentar substancialmente a produção e vendas.

Não bastará aumentar as vendas para o mercado interno, uma vez que a recuperação geral do consumo das famílias, ainda tem sido lenta. O "boom" dos alimentos  decorrente do auxílio emergencial deverá refluir, com a redução dos valores e eventual descontinuidade.

O agronegócio terá que expandir a sua participação no mercado global, com produtos de maior valor adicionado. Sem isso o impulsionamento do agronegócio terá efeito reduzido sobre o crescimento do PIB.


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