A Companhia Vale do Rio Doce, começou como uma mineradora das jazidas, praticamente a céu aberto, de minério de ferro em Minas Gerais. Associando a mineração com a logística, tornou-se a maior exportadora mundial de minério de ferro, já como uma empresa estatal.
Privatizada, teve uma grande expansão, mas tornou-se uma empresa de acionistas preocupados - dominantemente - pelos dividendos e valorização das ações. Tudo comandado pelo "EBTIDA". Sigla, em inglês, de LUCRO antes dos impostos, juros, depreciação e amortização. Os seus dirigentes são bem recompensados pela melhoria do Ebtida e dispensados quando esse não alcançam os resultados "desejados pelo mercado".
A visão de ser a maior produtora e exportadora mundial de minério de ferro, definida ainda no tempo de estatal, a levou a priorizar a exploração do minério de ferro em Carajás no Pará, em detrimento da exploração em Minas Gerais. Por questões de custo e rentabilidade.
Várias minas foram desativadas, deixando, como heranças enormes buracos ou cortes nos famosos "morros mineiros" e represas de rejeitos.
Esses são, principalmente, da camada de terra que cobre a mina de ferro. Antes de chegar à jazida é preciso remover a terra e essa, por razões econômicas eram ou ainda são retiradas por jatos de água e armazenados em represas, sustentadas por barragens de terra. Reforçadas, ao longo do tempo, pelo uso dos próprios rejeitos.
As questões técnicas relacionadas com a ruptura da barragem em Brumadinho, são exatamente as mesmas do crime de Mariana. São barragens antigas construidas por empresas privadas menores que posteriormente foram compradas pela Vale.
As soluções técnicas foram apontadas: substituição do alteamento a montante, por novas construções à jusante. Monitoramento mais frequente das condições de estabilidade da barragem.
Não foram implementadas por questões econômicas, por envolver custos maiores, sem contrapartida de receitas. Uma visão mesquinha para manter os dividendos dos acionistas.
No caso específico da Mina do Feijão, em Brumadinho, MG, a represa estaria desativada há mais de dois anos, isto é, depois da ruptura da barragem, por ser da mesma tecnologia, de Mariana.
A Vale preferiu reduzir as atividades, até a desativação da mineração, em função dos altos custos não compatíveis com a redução da cotação dos preços do minério no mercado internacional.
A movimentação de pessoas à jusante da represa, no entanto, indica que a Vale estaria reativando as atividades no local.
Mas por que a Vale estaria reativando uma exploração que reduz os seus lucros? O custo do minério extraído em Minas Gerais é maior que o do Pará e, por isso mesmo, a Vale priorizou os investimentos naquele Estado e não em Minas Gerais.
Não teria sido apenas para garantir os dividendos dos acionistas. Mas o aumento da produção, afeta positivamente o valor da ação, pela perspectiva (ou ilusão) de que maior produção significa maior lucro.
A razão seria política.
A economia mineira ainda está fortemente atrelada à mineração e a contenção ou mesmo redução da atividade, a favor das novas explorações, em outros Estado, teria contribuído para a crise fiscal.
Com as novas regras de pagamento dos royalties minerários, o Governo do Estado, pode ter pressionado a Vale a retomar e ampliar a sua produção em Minas Gerais. Apesar dos riscos.
As consequências da ruptura da barragem são de uma enorme tragédia. Mas as causas constituem um crime de responsabilidade coletiva.
(cont)
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