A divisão do "mercado"

As análises político eleitorais tendem a tratar o "mercado" como se fosse uma coisa só, com unanimidade de pensamento e posição em relação ao quadro político.
A agenda econômica do mercado tem sido dominado por questões financeiras e comandada por um dos brilhantes economistas, formados e doutrinados pelas escolas norte-americanas, que se tornaram bem sucedidos banqueiros. 
Uma das questões críticas da agenda liberal é a abertura da economia, que tem diversas interpretações e que afetam diferentemente os agentes do mercado.
Paulo Guedes tende a ser um "novo Malan", dialogando exclusivamente com o "setor financeiro" e desprezando os demais setores, principalmente o industrial. A visão "Malan-Guedes" é que o setor financeiro precisa ser cuidado pelo Estado, para garantia dos investidores (os grandes). O resto "o mercado cuida". Quanto menos dependência do Estado melhor. 
Para os economistas a abertura da economia é uma questão estatística, com o aumento da corrente de comércio, com ampliação das exportações e importações. Para isso é negociar acordos para reduzir as tarifas alfandegárias nacionais, em contrapartida a concessões dos países para os quais o Brasil tem interesses de exportação. 
Mesmo essa condição, tem reações diferenciadas: a agropecuária que domina as exportações quer menos restrições dos países importadores dos seus produtos. Mas esses querem, em contrapartida, concessões brasileiras, em relação aos produtos industrializados, o que coloca boa parte da indústria contra. 
Para a indústria o risco maior está nas soluções populistas, usuais de Presidentes com menor compreensão dos fenômenos econômicos: a abertura unilateral, com redução generalizada das tarifas alfandegárias, sem contrapartidas dos países supridores. 
Fernando Collor fez isso, vendendo a ideia de a competição faria a indústria brasileira se tornar mais produtiva. A abertura indiscriminada promoveu, na prática, a decadência do parque industrial brasileiro, com reflexos na participação da indústria dentro do PIB, e a menor geração de empregos. A crise do desemprego é devida, em sua maior parte, da desindustrialização.
Bolsonaro, com a sua visão populista e imediatista, provavelmente, não teria paciência para esperar pelos acordos comerciais e tenderia - com uma canetada" - a uma abertura unilateral. 

(cont)



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