A desigualdade é o tema principal e recorrente em todas as agendas dos partidos políticos, com propostas diferenciadas sobre como combatê-la.
O que pouco se considera é como o eleitorado, ou os seus diversos segmentos, percebem essa questão e isso afeta o seu voto.
Para a esquerda intelectual que se posiciona mais pelas visões livrescas do que pela realidade a questão da desigualdade é dominada pelo "pikettyismo". Deriva do livro e pronunciamentos de Thomas Piketty, sobre "O capitalismo no século XXI" nos quais mostra a profunda desigualdade de apropriação da riqueza mundial, com um pequeno grupo se apropriando de cerca de metade dessa riqueza e a maior parte da população, ficando com menos de 10% daquela.
Os dados vem sendo atualizados, por diversas organizações mundiais, apontando para uma desigualdade cada vez maior, ao contrário do desejado.
O combate a essa desigualdade, tem pouca repercussão eleitoral, restringindo-se a pequenos grupos dentro da opinião publicada. Os demais não dão importância ou ficam desalentados, por não verem o que eles podem fazer para mudar essa situação.
O "mercado" só reage quando essa indicação de profunda desigualdade de apropriação da riqueza é usada para as proposições de tributação sobre a riqueza, sobre os patrimônios ou sobre as heranças.
O discurso da redução da desigualdade pela tributação tem pouco eco na "opinião não publicada", porque a percepção que essa tem sobre a desigualdade/ igualdade é outra: mais simples e imediatista.
Envolve duas dimensões principais: consumo e serviços públicos.
A igualdade de consumo está no acesso a alguns dos objetos de consumo, mais desejados pelos "menos iguais": o telefone celular, o tênis e a camiseta da moda. Durante a Copa foi a "amarelinha da CBF". Segue o desejo das camisetas dos clubes mais populares da Europa, onde tem jogador brasileiro.
Um movimento de massa que evidenciou essa perspectiva foi dos "rolezinhos", com centenas de jovens pobres (mas não miseráveis) "ocupando" shopping centers, para usufruir dos mesmos ambientes frequentados pelos "mais iguais".
O acesso a esses objetos foi propiciado pela pirataria e pelo furto/roubo. Esse alimenta um mercado popular, com a oferta dos produtos a preços bem inferiores ao do mercado formal, propiciando a muitos a posse daqueles.
Lula foi quem melhor percebeu essa visão, desde os seus tempos iniciais de líder sindical no ABC e desenvolveu o "lulismo" tendo por base o "consumismo" (não leia comunismo).
Dentro da sua competência mercadológica criou a figura do acesso pelo trabalhador às viagens aéreas.
A esquerda ideológica aceita Lula, mas não "engole" o consumismo. Entende que esse desmobiliza o "proletariado" contra os patrões na luta de classes, ou desvia a atenção dos "menos iguais" do combate à desigualdade.
Essas considerações levam a uma pergunta adicional: o "lulo-consumismo" sobreviverá à ausência de Lula, no cenário político?
(cont)
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