A reação popular (2): o imaginário

A reação popular à Reforma da Previdência deverá ser avaliada, separadamente entre a opinião publicada e a não publicada. 
Dentro da opinião publicada haverá os que irão reagir racionalmente, confrontando os argumentos pró e contra e os que irão reagir emocionalmente em função de interesses pessoais, corporativos ou visão ideológica. Esses últimos seguem o lema "se é do Governo, sou contra". Sem qualquer outra argumentação consistente.
Dentro da opinião publicada, a avaliação racional leva à predominância da aceitação da proposta governamental, considerada pela maioria dos economistas e especialistas em previdência, como bem feita na sua estrutura. As eventuais divergências são em relação a questões acessórias, sendo a mais relevante a proposta de "desconstitucionalização" da legislação previdenciária. Proposta que muitos a vêem como um "bode mal cheiroso" a ser retirado da sala.  
A difusão da opinião publicada, que agora incorpora a rede social da internet, será importante para influenciar o voto de muitos deputados e senadores, mas - aparentemente- insuficiente para alcançar os quoruns necessários para a sua aprovação: 308 na Câmara  e 49 no Senado.
A reação mais importante será da opinião não publicada, cuja importância eleitoral é muito mais relevante que a publicada e influencia mais de perto a maioria dos deputados federais. 
Essa maioria é formada por "despachantes" de interesses comunitários, eleitos em função das promessas ou perspectiva de atender às necessidades mais prementes dos seus eleitores, que dependem do Estado. Não foram eleitos em função da sua posição a favor da reforma previdenciária. Preferiram não se comprometer perante os seus eleitores. 
Os que se posicionaram contra, na legislatura anterior foram melhor sucedidos dos que se posicionaram a favor, mas as suas posições foram baseadas mais em visões ideológicas, e na prevalência dentro do imaginário popular da opinião não publicada de que o trabalhador irá morrer antes de conseguir se aposentar.
Para conseguir a aprovação da Reforma da Previdência o Governo precisará incutir na opinião não publicada, duas versões: a primeira é aposentadoria é direito do idoso. Jovem sadio aposentado está usurpando o direito dos "velhos". Mesmo que ele tenha começado a trabalhar cedo. 
Aposentadoria é condição para uma sobrevivência digna para quem já trabalhou muito e quer ou precisa deixar de trabalhar. Previdência pública não pode ser feito para criar milionários. Se alguém quer ficar milionário, terá que fazer poupança ao longo de toda sua vida, para poder desfrutar dela, quando deixar de trabalhar. Não pode se tornar milionário, com a aposentadoria pública. 
Se no imaginário popular prevalecerem essas visões, os deputados despachantes tenderão a votar a favor.
Uma racionalização para a posição a favor é que sem a reforma previdenciária não sobrarão recursos para as emendas parlamentares e para as ações locais do Estado em saúde, educação, segurança, água e outros serviços públicos básicos.

(cont)


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