A renovação que não houve

Numericamente houve uma importante renovação na composição da Câmara dos Deputados, com novos eleitos, na casa de 52%. Dos 513 deputados atuais, 244, isto é, 47,56% foram reeleitos e 269 novos foram eleitos.
Foi o maior índice de renovação, desde a eleição de 1994, quando a renovação foi de 54,28%, tendo caido para menos de 50% em todas as eleições seguintes para a Câmara Federal. A renovação em 2014 foi de 47%,  bem menos que a de 2018.
Foi uma renovação desigual, do ponto de vista ideológico, dominado pelos partidos de direita, com pequena renovação no campo da esquerda.
Na perspectiva entre progressistas e conservadores, estes últimos levaram grande vantagem. Entre os progressistas as principais perdas foram dos ambientalistas ou sustentabilistas. O novo partido que teria reunido os candidatos defensores das causas, só conseguiu a eleição de um candidato, com uma votação nacional de 816.784 votos. A única candidata eleita, a advogada indígena Joênia Wapichana, só alcançou 8.491 votos. Mas o suficiente em Roraima, o menor colégio eleitoral.
Com isso o partido não alcançou a cláusula de barreira, embora tenha conseguido a eleição de 5 Senadores, dos quais 4 novos.
O PSDB, o principal partido de centro, já tinha perdida a identidade programática, fixando-se apenas em dois pontos: a responsabilidade fiscal e o anti-petismo. A perspectiva social democrata do Estado do Bem Estar, em decadência em todo o mundo, com poucas exceções, também foi perdida no Brasil, com várias vertentes (PT, PSDB e PDT), nenhuma delas bem definida. No resto o PSDB manteve-se com uma posição conciliadora, percebida pela sociedade como de indefinição política, ou "em cima do muro". Isso levou à captura do anti-petismo por Bolsonaro, deixando o PSDB sem mensagens futuras, preso apenas a feitos no passado. Além do mais, as denúncias comprovadas contra Aécio Neves, então o Presidente do partido, sem contestação rápida do partido aos comportamentos indevidos maculou a imagem de seriedade do partido, equiparando-os aos "mal feitos" do seu tradicional adversário. 
O desprestígio da cúpula partidária e a insistência em preservar velhas práticas eleitorais - agora demonstradas como ineficazes - deu margem a um renovador oportunista que, em nome de manter o comando político do Governo de São Paulo, pelo partido, traiu o seu padrinho e se associou com a direita para ser eleito Governador do Estado. 
A revitalização do PSDB deverá envolver o afastamento dos postos de direção de todos os denunciados, mesmo que as acusações possam ser refutadas. Por uma questão e imagem de ética, devem responder fora do cargo. Não podem assumir a postura cínica de outros que renunciar ou se afastar é reconhecer a culpa. 
Para a revitalização ou até a refundação do PSDB, em qualquer caso haverá uma cisão. Se o controle for entregue a João Dória, o partido caminhará para a adesão ao Governo Federal e para a direita, levando a ala esquerda a sair do partido. Provavelmente comandado por Fernando Henrique Cardoso. 

(cont)

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