A chamada "velha política" tem uma origem conhecida, embora pouco aceita: é o voto popular. O voto do eleitor que sufraga um candidato a deputado federal que se propõe a ser despachante dos interesses da comunidade.
O candidato não se propõe a ser um representante de idéias ou de programas associados ao partido sob o qual concorre. Tampouco se propõe a ser um defensor de interesses nacionais.
Promete, ser um intermediário, em Brasília, das reivindicações mais imediatas da comunidade, como uma pavimentação de vias, construção ou conserto de uma ponte em estrada, um posto de saúde, uma escola, ou um atendimento mais amplo, como um hospital regional, um sistema de água ou esgoto, uma escola técnica ou até uma faculdade.
Embora muitos desses serviços públicos não seja de atribuição federal, seja a Prefeitura Municipal ou o Governo do Estado, precisam de verba federal para poder implementar ou operar os mesmos. Essas podem decorrer de programas federais específicos ou de emendas parlamentares.
O deputado federal, eleito como despachante de interesses comunitários, trabalha incessantemente junto aos órgãos e autoridades do Executivo, para cumprir as suas missões. Conseguindo-as, é reeleito, para continuar com essas, por novos serviços, por novas reivindicações dos eleitores da comunidade. Se não cumprir não é reeleito, com os eleitores escolhendo novos despachantes, que prometem ser mais eficazes.
A partir da pesquisa sobre a origem local dos votos dos deputados federais eleitos, complementados por pesquisas qualitativas, estimamos que pelo menos metade dos deputados federais foram eleitos ou reeleitos como despachantes comunitários.
Como tal negociam emendas parlamentares e cargos federais regionais, pelo seu voto.
Essa negociação é caracterizada como "velha política".
No presidencialismo de coalizão, a negociação com o Poder Executivo era feita "no atacado" pelas lideranças partidárias. Essas negociavam Ministérios inteiros, em regime de "porteira fechada", ou de "lotes preferenciais" e redistribuiam aos seus partidários.
Jair Bolsonaro prometeu e cumpriu com o eleitorado não fazer essa negociação por atacado, para a composição do Ministério. Manteve um apoio popular, mas não conseguiu formar uma base de apoio (ou aliada) para aprovar as propostas de Governo.
Se quiser aprovar a Reforma da Previdência, ou o pacote anti-crime terá que ceder à "velha política".
Se não ceder, corre até o risco de "impeachment", como ocorreu com Fernando Collor e Dilma Rousseff que resistiram a ela.
A velha política não envolve apenas os políticos, mas tem o suporte dos eleitores que votam naqueles.
Para tentar entender porque esses eleitores votam nesses políticos empreendemos uma pesquisa quantitativa com base nos microdados do TSE.
O que nos levou a um "achado": o eleitor vota no despachante porque tem uma visão de mundo curta. Uma visão de mundo restrita ao ambiente em que vive.
O leitor aqui, tem uma visão de mundo mais ampla, mas tende a reagir preconceituosamente em relação a esse eleitor: "o brasileiro é burro" ou "idiota". Ou "o que falta é educação".
Sim, falta educação, mas provê-lo não será suficiente.
Há um outro grupo despachantes dentro do Congresso: o de interesses corporativos. Esse também representam um eleitorado com visão de mundo restrita, apesar de terem boa formação educacional.
Ampliar o conhecimento do eleitor, através da educação e com isso ampliar a sua visão de mundo é essencial, mas como fazer com que essa visão mais ampla se concretize num voto a favor de um candidato a deputado federal com propostas mais amplas, com a defesa de programas nacionais ou até universais (como é o caso da defesa ambiental).
(cont)
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